Chegamos, It’s life

Isabela
Foto Arthur Senra

Hoje, começa uma nova etapa na minha vida. Não digo que foi por acaso, mas afirmo que foi bastante inesperado. Jamais pensei em escrever algum dia artigos e crônicas e menos ainda que teria um site, mas estou aqui lançando o It’s life, um site de crônicas e outras coisas mais.

A história começou assim: a jornalista, editora e colunista Anna Marina saiu de férias e me convidou para substituí-la, não só no Caderno Feminino e no Degusta – o que já fazia algumas vezes –, mas também na sua coluna no Caderno EM Cultura do Estado de Minas. Aceitei prontamente, sabendo do grande desafio que seria.

Pedi a Deus proteção e sabedoria. Fui escrevendo o que vinha em meu coração, o que realçava aos olhos entre a enxurrada de e-mails que Anna recebe diariamente e também sobre coisas que aconteciam com amigos. Fiquei impressionada com o retorno positivo das pessoas. Sempre que ligavam ou mandavam mensagens vinha a seguinte sugestão: não pare de escrever, você deveria abrir um blog.

Fui procurada por Daniela Portela, que além de minha amiga tem o site Guia de Primeira Classe. Disse que estava gostando muito dos meus artigos e que gostaria de publicá-los no site. Fiquei superenvaidecida, e durante todo o mês as crônicas também foram publicadas em seu site. Tive ainda seu retorno de que elas estavam “bombando”. Até quis que eu continuasse a escrever lá, mas foi quando as coisas mudaram.

Conversei com o editor do Uai, Benny Cohen, sobre blog, como era, as dificuldades, etc. Afinal, tinha o convite da Daniela e o incentivo dos leitores. Quando ele entendeu do que se tratava, foi taxativo: “Se vai escrever tem que ser aqui no Uai”. Depois que Anna Marina voltou, me aconselhei com ela, como sempre fiz em toda a minha trajetória profissional, e recebi seu apoio. Conversei com outras pessoas que também gostaram da ideia e o que era uma sugestão distante foi crescendo, tomando corpo, amadurecendo e nasce hoje, depois da ajuda e incentivo de vários amigos que encontrei pelo caminho, como Ângela Faria, Ademar Fulgêncio, João Bosco Salles, Carlos Marcelo, Álvaro Duarte, Phillip Martins, Pat Kamei, Arthur Senra, Ticha Ribeiro, Luciana Nacif, Fairuze Reis, Verônica Vianna e Leonardo Passos.

Mas como sou exagerada em quase tudo que faço, essa história de blog cresceu, virou site. Aqui teremos crônicas diárias, em que falarei de tudo o que me der na veneta, tema livre, variado, abrangente. Aceito sugestões, exatamente como fiz no jornal enquanto tive a honra de substituir Anna Marina. Mas além dos artigos teremos também seções sobre arte, moda, decoração e gastronomia.

Escolhi hoje, 29 de abril, porque é o dia do meu aniversário, acredito que seja a data certa para oficialmente começar uma nova etapa. Continuo com meu trabalho no Estado de Minas e na Jornada Solidária. O It’s life será apenas mais uma tarefa prazerosa que terei para dividir com os amigos. Espero que gostem.

Isabela Teixeira da Costa

Carlos Bracher

Bracher Bracher3 mãos Bracher olhar
Entendo o fiel defronte ao altar.
exíguo à ricos adornos,
ecoa em fuga na alma
o som do tempo.

Sinto-me fiel diante de ti, eterno.
modesto sou na grandeza de suas mãos
que perpetuam o que tocam.

Não entendo porquê,
não sou perene,
não serei imortal,
mas garanto a certeza do agora
repetindo-o eternamente.

Das mãos entre milhares,
as minha foram poupadas,
no dia em que cri.

Defronte a ti Bracher,
sou diminuto aprendiz
de suas composições cânones,
em cores clássicas na extensão do tempo.

Seja para sempre!

Fotos e texto: Arthur Senra

 

 

Aos que são queridos

Ilustração: Son Salvador
Ilustração: Son Salvador

Vinicius de Moraes escreveu um lindo poema sobre os amigos. Atrevo-se a transcrever alguns de seus versos: “E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

(…) A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida (…) Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. (…) Se alguma coisa me consome e me envelhece, é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam – ou talvez nunca vão saber – que são meus amigos!”.

Como me vejo nesse poema! Quantas pessoas tenho como amigos, mas sem tempo de declarar-lhes isso, de encontra-las e conviver com elas…

Tinha um tio, Ney Blázzio, que morreu cedo, de acidente de carro, com a mulher. Eram muito queridos. Alguns anos depois, alguém da família me disse que ele teria revelado uma tristeza: nunca foi convidado por nenhum sobrinho para almoçar ou jantar em sua casa. Aquilo cortou meu coração.

Ele era amado por todos, morava em Brasília e sempre nos recebeu durante as férias. Aguentava aquela meninada o mês inteiro, com amor e paciência. Sempre vinha a Belo Horizonte, nós nos encontrávamos na casa de minha mãe e de outros tios, mas nunca o convidei para jantar ou mesmo para um lanche. A gente, quando é jovem, nem pensa que gestos assim podem agradar tanto a uma pessoa querida.

Sou evangélica, cresci ns Igreja Batista Central, onde fiz amizades sólidas. Saí por alguns anos. Quando retornei, encontrei-me com uma senhora de quem gosto muito. Ela me abraçou e começou a chorar de emoção ao me rever. Aquilo me tocou profundamente. Na mesma hora, lembrei-me daquele comentário que ouvi décadas atrás sobre meu tio. Decidi fazer um lanche na minha casa e convidar algumas amigas da adolescência – entre elas, duas senhoras da igreja, de quem eu gosto tanto, as irmãs Ana Maria, leitora assídua desta coluna e Lucília Mazoni.

Foi das melhores coisas que fiz nos últimos tempos. Nossos olhos brilhavam, ficamos ali horas conversando, relembrando nossa juventude, contando casos, rindo e nos emocionando. Percebemos o quanto os ensinamentos foram importantes para nossa formação. Só demos conta de que já era tarde da noite quando o marido de uma delas ligou para saber onde a mulher estava até aquela hora. Nos despedimos já com o próximo encontro marcado.

Deus é maravilhoso e nos dá a oportunidade de fazer do nosso tempo um dia perfeito, produtivo. Creio que ele não permita que saibamos o futuro para que tenhamos a oportunidade de escolher como ocupar o nosso tempo. Cada dia de nossa vida é uma página em branco: depois de vivida, não muda mais. Cabe a nós preenchê-la da melhor maneira possível.

Três coisas que não voltam atrás: a pedra atirada, a palavra dita e o tempo passado. Devemos pensar muito antes de agir. Cabe-nos saber aproveitar o tempo. A única certeza que temos é de que vamos morrer, cada um de nós tem a sua senha, ninguém sabe quem será chamado primeiro. Devemos viver com quem amamos e nos ama, vamos aproveitar nossos dias e escrever um lindo 2016. Quando alguém partir, teremos a certeza que não ficamos devendo a essa pessoa querida nenhuma demonstração de amor. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

 

Crônica publicada no Caderno EM Cultura, 30/1/16. Na coluna de Anna Marina

O melhor amigo da humanidade

Crédito Tristar/divulgação
Crédito Tristar/divulgação

O ser humano não gosta muito da solidão.

Depois que Deus o criou, disse: “Não convém que o homem esteja só”. E inventou uma companheira para ele. Creio que por isso é tão difícil ficar totalmente sozinho, não faz parte do propósito divino para nossas vidas. Quantas e quantas pessoas que moram sós, assim que entram em casa ligam a TV ou o rádio simplesmente para ter barulho por perto e não enfrentar o silêncio? O som traz a sensação de companhia. As questões podem ser várias, até mesmo mais profundas, internas, mas isso deixo para minha colega de espaço, que escreve aos domingos, analisar, porque é mais a praia dela.

Outra alternativa que muitos encontraram para enfrentar a solidão são os bichinhos de estimação. Nessa lista dominam os cachorros, mais interativos. Reagem à chegada do dono, adoram brincar, respondem e correspondem. Por outro lado, demandam mais atenção e cuidados. É preciso passear pelo menos uma vez por dia com eles. Dar uma volta, principalmente se moram em apartamento. Também carecem de banho semanal, tosa (dependendo da raça), cuidados com os dentes por causa do mau hálito. Tudo vale a pena, pois são lindos e muito amorosos. Tenho dois, e os amo demais.

Por outro lado, os gatos têm conquistado mais e mais pessoas. Um dos motivos é o fato de serem mais silenciosos do que os cães. Será? Várias amigas já me contaram casos estarrecedores. Os bichinhos miam a noite toda. Quando a gata está no cio, é desesperador: ou a castração se inevitável ou os vizinhos pedem o despejo imediato… Antes que me recriminem, nunca ouvi esses miados. Apenas relato o que me contaram. Mas, sem sombra de dúvida, gato dá menos trabalho, não tem mau hálito, banha-se sozinho e não demanda carinho nem atenção como o cachorro. Como são relativamente independentes, sentem necessidade de se esconder para descansar. Gostam também de supreender – instinto natural – e por isso são importantes objetos e espaços adequados para o pequeno felino.

Com esse grande número de bichos de estimação, a indústria pet, com objetos, brinquedos e acessórios, tem crescido assustadoramente. Para os cachorros há até guarda-roupa completo, de pijamas a traje de gala, passando por capa de chuva e sapatinhos. Roupas são vendidas por grifes como Prada, Chanel, Gucci… Sinceramente, dá dó ver os bichinhos andando de sapato… Lembro-me do cachorrinho do filme Melhor é impossível imitando o Jack Nickoson, andando sem pisar nas linhas do chão. Eles levantam a patinha para o alto, tamanha a aflição que o acessório causa.

Brinquedos, ossinhos, biscoitos, camas, casas, tem até namoradeira. E as coleiras, então? De grife – Swarovski, Louis Vouitton… Pasmem: uma dessas coleiras tem 1,6 mil brilhantes – o maior deles tem sete quilates. Há móveis para gatinho escalar, arranhar e se esconder. Alguns têm até seis andares, mas próprios para apartamentos. Forrados, parecem complexos playgrounds, com pontes maleáveis, escadas e desníveis. Uma coisa incrível.

E não fica só por aí. O mercado oferece bebedouros, caixinhas higiênicas, namoradeiras, caixas para transporte, camas dos mais diversos modelos. Enfim, a criatividade é infinita e o desejo de consumo dos proprietários maior ainda. Afinal, tudo vale a pena para agradar a esses pequenos seres que preenchem o vazio da nossa solidão. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

Crônica publicada no Caderno EM Cultura, 3/2/16, na coluna da Anna Marina

 

Diga não ao preconceito

Acho absurda essa história de preconceito, seja ele qual for. De credo, cor ou gênero.

preconceitoTemos que amar o próximo do jeito que ele é, o que pesa em uma pessoa, no meu ponto de vista, é o caráter, e não a cor que tem, o tipo de cabelo ou sua religião. Mesmo sendo diferente da minha, mesmo que não concorde com sua crença ou com seu comportamento, se não for desonesto, tenho que respeitá-lo. Trata-se de uma pessoa como eu.

Nunca tive uma olhar diferente para com o outro, nunca vi ninguém diferente de mim. Quando tinha 15 anos, namorei um rapaz negro por uns quatro anos, e isso não fazia a menor diferença para mim. Espantava-me com a reação das pessoas nos olhando na rua em 1975, mas estava pouco me lixando. O que valia para mim era o valor daquela pessoa que estava ao meu lado, como sempre foi até hoje. O término foi por outros motivos que não envolviam, nem de longe, a questão da diferença racial.

Tenho uma grande amiga, desde a época da adolescência que é química Ph.D em celulose, doutora em física nuclear, fez seu doutorado na Suiça e teve como orientador um ganhador do Prêmio Nobel. Chama-se Dâmaris Doro Pereira. É negra, morou na Alemanha, Suiça e Estados Unidos, fala no mínimo cinco idiomas. Hoje, mora no Brasil e nunca sofreu nenhum preconceito no exterior, onde era sempre elogiada e admirada. Na Turquia, era abordada na rua. Aqui, ninguém nem olha para ela.

Fechou a conta em grande banco privado, que recentemente agrediu a língua portuguesa, porque quando estava grávida foi para fila de quem tinha cheque especial (ela tinha), e um funcionário a abordou e pediu que saísse da fila. Disse que estava no lugar certo, mas ele reafirmou que ela teria que provar. Retornou ao banco 25 anos depois, e se dirigiu ao setor de clientes especiais. Novamente, foi cercada por um funcionário, dizendo q ali não era seu lugar. Foi a gota d’água, encerrou a conta.

Agora, a “moda” é o preconceito com o cabelo. Está uma onda contra os cabelos crespos, anelados. Não entendo, são lindos, gosto mais deles ao natural do que com escova progressiva. Na apresentação do The Voice Kids de 24 de janeiro foi uma menina, Naty Veras, com um cabelo longo, anelado, que coisa mais linda. De fazer inveja em muita gente, principalmente em quem tem cabelo liso e vive tentando anelar. Não esqueço a época do permanente…

Ano passado, vimos profissionais negros sofrerem ataques em redes sociais, como a jornalista Maria Júlia Coutinho, que provocou uma reação de seus colegas com a campanha #somostodosmaju, depois as atrizes Tais Araújo, Sheron Menezes etc. Fiquei surpresa quando soube que a equipe do reality show BBB colocou na cozinha da casa uma esponja para lavar louça que é um homem negro com um cabelo black power, e o cabelo é a esponja, em uma alusão que cabelo de pessoas de cor são igual a bombril.

Depois de ter funcionários vítimas de preconceito e levantar a bandeira da defesa, usar este tipo de utensílio, é, no mínimo, de mau gosto. E depois dizem que no Brasil não tem preconceito. Acho que é dos países onde mais se tem, porque é velado.

Ainda bem que, apesar de tudo isso, as pessoas têm se aceitado cada vez mais como são. A ex-faxineira Zica Assis ficou rica ao criar a fórmula de um produto para passar em seu cabelo e assumi-lo anelado, o sucesso foi tão grande que hoje ela tem a rede de salões Instituto Beleza Natural espalhados pelo país, e já saiu na revista Forbes, como uma das 10 mulheres de negócios mais influentes do Brasil ao lado de Gisele Bündchen.

Ano passado em São Paulo, houve a primeira Marcha dos Cabelos Crespos e, aos trancos e barrancos, enfrentando os preconceituosos, eles vão lutando e ganhando seu espaço. E essa história de que o negro é o bandido, já era. Olhem a Lava-Jato e vejam a cor da pele dos bandidos que roubaram bilhões e que estão presos lá. Os cães ladram e a caravana passa. É isso aí. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

Crônica publicada na página 2 do Caderno Em Cultura, 29/1/16, na coluna da Anna Marina

 

 

Crise ou mudança de hábito?

consumoCoordeno a Jornada Solidária Estado de Minas, promovida por este jornal, e organizamos diversos eventos para arrecadar recursos para reformar creches comunitárias na Grande BH.

Um deles é o Bazar Solidário – esporádico, pois não é fácil conseguir a quantidade de produtos necessários para sua realização. A edição 2015 foi um grande sucesso. Conversando com as voluntárias, fui me lembrando de alguns nomes de pessoas conhecidas, que sempre nos ajudam com doações de roupas usadas – sei que elas têm closets grandes, com muitas roupas de marcas. Quando citei um nome, logo alguém ponderou: “Não ligue pra ela, porque vende tudo para um brechó”.

Confesso: levei um susto, não por alguém vender roupas para brechó, mas por se tratar de uma pessoa muito rica. No fim do ano, outra amiga me ligou pedindo indicações, dizendo que tinha muita roupa boa em casa e queria vende-las num brechó. Como não tenho esse costume, busquei informações e passei para ela.

Para falar a verdade, acho bem interessante essa história. Quanta coisa boa temos no armário, não usamos há anos e que não servem para doação… Trata-se de roupa de festa ou de casamento, nem sempre apropriada para ser doada. Roupas esporte, de uso diário, é mais fácil de doar, mas e as outras? Ocupam espaço e não podemos jogá-las fora, pois são muito boas e caras – ficamos sem solução para o problema. Porém ela tem destino certo: brechó. Afinal, há gosto para tudo, além de pessoas de teatro e cinema que sempre recorrem a essas lojas quando precisam de uma produção de época.

Um comércio com prestígio no exterior, que já chegou a São Paulo há tempos, está ganhando espaço aqui em BH: os brechós de alto luxo. Na TV fechada, um programa mostra o dia a dia de um deles. É enorme e está em expansão. Só vende roupas, calçados, bolsas e acessórios de grifes bacanérrimas em excelente estado, por preços muito acessíveis. Se as pessoas levarem as peças em caixas ou sacolas da marca elas ainda valem mais, pois são adquiridas para revenda. Enfim, é um verdadeiro sonho para quem quer ter uma peça de grife, mas não pode pagar por uma nova. Lembre-se de que produtos de luxo ganham valor com tempo, pois são exclusivos, têm design e qualidade. E ainda há a vantagem de achar aquela bolsa que já saiu de produção e você adora.

Muita gente ama peças vintage, elas estão em alta. Celebridades como Kate Moss, Elisa Nalin e Julia Roberts têm aparecido com produtos assim – de grife, para não dizer de segunda mão –, algumas raridades não estavam nas lojas há anos. É só saber produzir o visual com bom gosto e personalidade. Nada melhor que mesclar o antigo com peças atuais, transadas. O que é bom não acaba. Moda é você se sentir bem com o que está usando. Elegância é a pessoa saber carregar o que está vestindo.

Há uns dois anos, uma amiga abriu um brechó de luxo só com produtos usados e semi-novos – um sucesso no Instagram. São bolsas, sapatos, óculos, roupas. Mas é bom lembrar: embora mais baratos do que os novos, eles continuam com preços de grife – e não de brechós comuns. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

 

Crônica publicada no Caderno EM Cultura, 2/2/16, na coluna da Anna Marina

Crise brava…

criseE a marolinha virou um tsunami. O ano passado foi bravo e, sem querer ser muito pessimista, 2016 não sinaliza que será melhor.

Impostos, juros e inflação estão em alta. Quem der uma volta pelos bairros Buritis, Estoril, Pampulha, Santo Antônio, Sion, Santa Efigênia, Cruzeiro ou Belvedere não tem como não se impressionar com a quantidade de placas de aluga-se e vende-se afixadas em apartamentos, casas e estabelecimentos comerciais. No Estoril, há um prédio inteiro colocado à venda ou para alugar – ficou só um morador. Não pensem que se trata de obra nova. Isso só deve dificultar a comercialização, pois quem passa deve pensar: qual é o problema desse edifício? Será a localização, vizinhos? Porém, temos aí o retrato da crise. E a quantidade de apartamentos comprados na planta que têm sido devolvidos para as construtoras?

Pais estão tirando os filhos de colégios particulares e buscando vaga em escolas públicas, pois não têm condições de continuar arcando com os altos custos do ensino privado. Isso não envolve só a mensalidade, mas também material escolar e outras despesas.

Semana passada, fui ao cinema com amigas e emendamos em um jantar. Era sexta-feira, o programa foi mais cedo e, consequentemente, não voltamos tarde para casa. Era pouco mais de meia-noite e ficamos surpresas, pois restaurantes e bares habitualmente cheios estavam fechados. Mesmo dando o desconto das férias, era cedo demais para isso.

Entretanto, casas tradicionais de BH não estão às moscas. De jeito nenhum. Afinal, mineiro adora sair. Fomos à Cantina Província de Salerno, não havia mesa. Conversando com proprietários de bares, soubemos que o consumo mudou. Quem pedia 10 cervejas importadas reduziu para cinco ou passou a tomar a bebida nacional. Resumindo: o preço da conta diminuiu bastante.

Ganharam espaço os cupons de desconto, seja aqueles da internet seja o passaporte vendido em estabelecimentos da capital que chegam a dar 50% de desconto em almoços e jantares para duas pessoas. Sem querer levantar polêmica, resta saber se a promoção é real. A proliferação de cupons não seria responsável pelo alto preço dos cardápios? Cobrando preços justos é difícil bancar um desconto tão alto…

Por outro lado, notamos uma mudança de hábitos. Hoje, estão “bombando” espetinhos e food trucks, que ficam lotados. Motivo: programas assim são gostosos e mais em conta. Baratos, pois se trata de atividade informal – a maioria dos food trucks não emite notas fiscal nem paga aluguel; os veículos podem estacionar em qualquer lugar, desde que fiquem a 300 metros de bares e restaurantes e não demandam muitos funcionários. Geralmente, quem trabalha é o dono. Isso tudo se reflete no preço final. É agradável passear na praça com os amigos, provar a diversidade das comidas dos trucks, mas se trata de competição um pouco desigual com o setor formal.

Outro aspecto destes tempos: a crise e o aumento dólar reduziram as viagens. Aumentaram as reuniões nas casas, como jantares agradáveis entre amigos regados a bons vinhos e saborosos pratos home made. Com isso, saem lucrando os supermercados, que não entram em crise. Ou melhor, lucram com ela, pois todo mundo precisa comer.

O importante é curtir a vida, continuar saindo e se divertindo. Afinal, enfrentar a crise trancado dentro de casa só faz com que ela fique ainda mais pesada. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

 

Coluna publicada no Caderno EM Cultura, 22/1/16, na coluna da Anna Marina

Feriado de Carnaval: folia ou descanso?

Cristina Horta/Estado de Minas/DA Press

Está aí o feriadão de carnaval.

Não sou adepta da folia, prefiro fazer um programa mais light, descansar, ir ao cinema, à igreja, sair com amigos ou visitar minha mãe. Sei que como eu há uma infinidade de pessoas. Sempre gostei da tranquilidade de Belo Horizonte. Mesmo com o crescente número de blocos, conseguimos andar e descansar tranquilamente. Pelo menos até o ano passado. Vamos ver como será agora, pois a expectativa é de 1,6 milhões de pessoas nas ruas. Aquela debandada para outras cidades não ocorre mais. O belo-horizontino deixou de viajar para curtir a festa de Momo por aqui e receber os amigos de fora.

Independente do tipo de programa escolhido, certamente este será o feriado de crise. Se a opção for a calmaria, pode-se reunir amigos em casa para assistir a filmes depois do almoço, que pode ser rateado – não pesa para ninguém. Piqueniques em praças ou parques também estão em alta, se não chover. Sair para jantar e ir ao cinema também têm o seu lugar. Inhotim estará aberto, com entrada franca na quarta-feira de cinzas. É outra ótima opção.

Se o projeto é pular o carnaval, melhor usar a criatividade para não gastar muito. Bloquinhos não cobram ingresso e quem quiser usar fantasia pode dar uma volta pelo guarda-roupa. A camiseta customisada não custa caro. E aquela maquiagem mais colorida, com cílios postiços exagerados, resolve o problema.

Porém, o folião deve ficar atento a alguns cuidados com a saúde. A primeira preocupação deve ser a hidratação. Beba água, água de coco ou isotônico – no mínimo dois a três litros por dia, pois com o calor e o exercício físico a gente perde líquido e sódio. Não se esqueça de se alimentar antes e depois da festa. O ideal é ingerir carboidratos antes da folia. Durante a balada, forre o estômago com barrinhas de cereais, fáceis de levar, e quenado chegar em casa coma alguma coisa leve.

Se for sair nos blocos durante o dia, não esqueça de passar e levar. Quando voltar para casa, coma algo leve.

Se for sair nos blocos durante o dia, não se esqueça de levar protetor solar e repelente, que devem ser passados várias vezes. Viseira ou chapéu é importante para evitar o sol direto no rosto.

Um produto muito usado no carnaval, mas requer cuidado, são os sprays de espuma. Segundo o doutor Marcus Sáfady, integrante da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), eles podem causar lesões oculares, em casos mais graves, comprometendo a visão. “A espuma causa vermelhidão, sensação de areia nos olhos, dor e vários tipos de reação alérgica”, adverte. “Primeiramente lave a área afetada com água corrente. Caso os efeitos persistam ou a visão piore procure um oftalmologista”, aconselha Sáfady. Mas fique atento: a automedicação pode complicar a situação.

O especialista alerta também para o uso da purpurina ou glitter na maquiagem. Ambos podem arranhar a córnea, caso caiam dentro do olho. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

Crônica publicada no Caderno EM Cultura do Estado de Minas, 6/2/16, na coluna da Anna Marina

Especialista, só com muita prática

mochilaEstudar é bom e muito importante. O estudo que eleva o nível do ser humano e do país onde ele mora.

Afinal, a pátria é feita das pessoas que vivem nela. À medida que o nível educacional das pessoas vai aumentando, o país vai ficando mais civilizado, mais próspero e mais educado. Porém, não adianta dar estudo se depois não se oferecem oportunidades de trabalho. Outro dia, estava conversando com uma amiga e ela me contava que ouviu de outra amiga, que se hospedou em uma pousada no nordeste (se não me falha a memória), que todos os funcionários de lá eram formados na universidade. Toda feliz a moça espalhou a notícia. Que ótimo!

Fiquei pensando: uma pessoa se forma na universidade para continuar sendo faxineira, camareira, cozinheira, recepcionista, ou carregar malas? Não estou desfazendo de nenhuma dessas atividades, absolutamente. São profissões dignas e necessárias. A questão, aqui, é o anseio de quem se forma em curso superior. Exercer a nova profissão e melhorar de vida? Ou ter diploma e continuar fazendo exatamente o que fazia antes da faculdade? É preciso abrir oportunidade de emprego em todas as regiões do Brasil. Mas este assunto é longo, tema para outra coluna…

Semanas atrás, escrevi sobre arrumação de malas, baseada em um material que recebi de Carol Rosa. Formada em administração de empresa, depois de sete anos atuando na área financeira ela resolveu mudar de ramo. Começou a trabalhar com organização, fez curso na OZ, empresa filiada à National Association of Profissional Organizer, com sede nos Estados Unidos, que lhe deu o certificado de personal organizer. Detalho o currículo de Carol para mostrar que não tirei da minha cabeça as dicas publicadas.

Com todo respeito, concordo com a forma como Carol Rosa recomenda arrumar a mala tradicional. Dias depois de escrever a coluna, minha filha resolveu mochilar na Colombia. Toda metida a besta, quis ajudá-la com a bagagem – cheia de mim mesma, ou melhor, cheia dos ensinamentos da Carol. Foi um bate-boca. Ela queria fazer rolinho, defendi roupas esticadas. Na metade da mochila ela venceu com este argumento imbatível. “Mãe, quando eu quiser pegar qualquer roupa, vou ter que tirar tudo lá porque não vou achar nada”. Calei-me. Mudamos tudo para rolinho.

Para falar a verdade, na metade da arrumação realizada do meu jeito a mochila já estava quase cheia. Com rolinho, coube tudo, era melhor. No dia seguinte, fomos buscar a amiga dela, mochileira antiga. Quando comentamos sobre a bagagem, a primeira coisa que ela falou foi: “Fez tudo com rolinho, né?”. Caí na risada. Contei a novela da noite anterior, da coluna e da personal organizer. Na maior tranquilidade, ela revelou que, em sua primeira viagem, pesquisou na internet. Todo mochileiro adota o rolinho.

Diploma é muito importante, devemos que ter conhecimento teórico, sim, ajuda muito. Porém, sem a prática, deixa muito a desejar. Lembro-me de que meus melhores professores de faculdade eram os que já estavam no mercado de trabalho, pois mesclavam os dois conhecimentos.

Com todo o respeito, redimo-me aqui com os leitores. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

 

Coluna publicada no Caderno EM Cultura do Estado de Minas, 20/2/2016, na coluna da Anna Marina

 

Geração X Y Z

BenQ Corporation
BenQ Corporation

Agora, recebemos letras. Não é bem agora, aliás. Há algum tempo nos nominaram, mas a coisa popularizou recentemente. Quem nasceu entre a década de 1960 e o fim dos anos de 1970 fazem parte do time dos X.

O termo foi popularizado pelo romance Geração X: contos para uma cultura acelerada, de 1991, do canadense Douglas Coupland. E nos chamavam de acelerados… Não tinham a menor noção do que estava por vir.

Então chegou a geração Y, nascida depois da década de 1980, marcada por avanços tecnológicos. Computador, para eles, é um órgão do corpo humano. Não existe geração Y no campo, ela está atrelada ao urbano e à tecnologia. Só percebemos a grande diferença quando essa galera entrou no mercado de trabalho. Na faixa dos 20 aos 35 anos, eles são criativos, pugados, ágeis.  Nas empresas, a geração Y é sinal de dinamismo, informalidade e competência. São conhecidos também como milleannials.

E temos a geração Z, os nascidos nos anos 2000 – a garotada da era digital, do world wide web (www) e compartilhamento de arquivos, constatemente ligados à rede. Celular, só se for smartphone de última geração com tela de 5,5 polegadas. Zapear é respirar. As opções são várias: canais de televisão, internet, vídeogame, foto com movimento.

Está lendo isso aqui e não entende quase nada? É da geração X ou da anterior, que nem letra recebeu. Sou da X. O legal é que todas trazem vantagens e desvantagens. Nossa geração conta experiência de vida e conhecimento histórico que os mais novos não têm. Gostamos de estabilidade no emprego – pode ser um ponto negativo, mas vestimos a camisa da empresa, coisa que os mais novos não sabem o que é. Nem de longe eles têm esse sentimento. Temos bagagem cultural única. Por outro lado, apanhamos muito no quesito conhecimento tecnológico, enquanto a moçada domina todas as ferramentas. É bonito ver a destreza deles resolvendo problemas naquele computador que nos deixa de cabelo em pé.

Com rapidez impressionante, as gerações Y e Z recebem toneladas de informações. Em segundos, sabem tudo o que está ocorrendo no mundo, pois estão conectados 36 horas por dia. Isso mesmo: o dia deles tem 36 horas, pois não param, fazem 10 coisas – no mínimo – ao mesmo tempo. Conhecem tudo, mas na superficialidade. Não lhes perguntem sobre o passado. Dominam vários idiomas, mas a língua portuguesa foi assassinada. Não lhes peça para escrever à mão. Na nossa época, letra feia era só a de médico – agora, virou epidemia, ninguém sabe escrever, só digitar. Outra vantagem: eles não retém informação. Pelo contrário, gostam de compartilhar conhecimento.

Semana passada encontrei com uma professora da PUC Minas na lavanderia. Não a conhecia, mas, como sou conversada, falamos de carnaval, na energia da moçada. Estava com ideias para esta coluna na cabeça, toquei no assunto e foi ótimo. Tânia Ferreira de Souza me disse uma coisa importante: “Precisamos despertar em nossos jovens, o foco no querem fazer”. Ela revelou o que vem fazendo em sala de aula. Achei muito legal.

Aí está o desafio dos professores. Cada um deve encontrar sua didática na prática, pois a geração Z é acelerada. A moçada não consegue ficar de quatro a cinco horas assentada, quieta e ouvindo. A culpa é dos pais: quando as crianças nascem, dão celular e ipad para sossega-las, em vez de levá-las para aulas e exercícios complementares como faziam nossos pais.

Fato é que as gerações mudam e novas formas de lidar com elas devem ser criadas. Uma geração não elimina a outra, elas se complementam para que a vida funcione bem, em harmonia. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

Crônica publicada no Caderno EM Cultura do Estado de Minas, 13/2/16, na coluna da Anna Marina