Diga não ao preconceito

Acho absurda essa história de preconceito, seja ele qual for. De credo, cor ou gênero.

preconceitoTemos que amar o próximo do jeito que ele é, o que pesa em uma pessoa, no meu ponto de vista, é o caráter, e não a cor que tem, o tipo de cabelo ou sua religião. Mesmo sendo diferente da minha, mesmo que não concorde com sua crença ou com seu comportamento, se não for desonesto, tenho que respeitá-lo. Trata-se de uma pessoa como eu.

Nunca tive uma olhar diferente para com o outro, nunca vi ninguém diferente de mim. Quando tinha 15 anos, namorei um rapaz negro por uns quatro anos, e isso não fazia a menor diferença para mim. Espantava-me com a reação das pessoas nos olhando na rua em 1975, mas estava pouco me lixando. O que valia para mim era o valor daquela pessoa que estava ao meu lado, como sempre foi até hoje. O término foi por outros motivos que não envolviam, nem de longe, a questão da diferença racial.

Tenho uma grande amiga, desde a época da adolescência que é química Ph.D em celulose, doutora em física nuclear, fez seu doutorado na Suiça e teve como orientador um ganhador do Prêmio Nobel. Chama-se Dâmaris Doro Pereira. É negra, morou na Alemanha, Suiça e Estados Unidos, fala no mínimo cinco idiomas. Hoje, mora no Brasil e nunca sofreu nenhum preconceito no exterior, onde era sempre elogiada e admirada. Na Turquia, era abordada na rua. Aqui, ninguém nem olha para ela.

Fechou a conta em grande banco privado, que recentemente agrediu a língua portuguesa, porque quando estava grávida foi para fila de quem tinha cheque especial (ela tinha), e um funcionário a abordou e pediu que saísse da fila. Disse que estava no lugar certo, mas ele reafirmou que ela teria que provar. Retornou ao banco 25 anos depois, e se dirigiu ao setor de clientes especiais. Novamente, foi cercada por um funcionário, dizendo q ali não era seu lugar. Foi a gota d’água, encerrou a conta.

Agora, a “moda” é o preconceito com o cabelo. Está uma onda contra os cabelos crespos, anelados. Não entendo, são lindos, gosto mais deles ao natural do que com escova progressiva. Na apresentação do The Voice Kids de 24 de janeiro foi uma menina, Naty Veras, com um cabelo longo, anelado, que coisa mais linda. De fazer inveja em muita gente, principalmente em quem tem cabelo liso e vive tentando anelar. Não esqueço a época do permanente…

Ano passado, vimos profissionais negros sofrerem ataques em redes sociais, como a jornalista Maria Júlia Coutinho, que provocou uma reação de seus colegas com a campanha #somostodosmaju, depois as atrizes Tais Araújo, Sheron Menezes etc. Fiquei surpresa quando soube que a equipe do reality show BBB colocou na cozinha da casa uma esponja para lavar louça que é um homem negro com um cabelo black power, e o cabelo é a esponja, em uma alusão que cabelo de pessoas de cor são igual a bombril.

Depois de ter funcionários vítimas de preconceito e levantar a bandeira da defesa, usar este tipo de utensílio, é, no mínimo, de mau gosto. E depois dizem que no Brasil não tem preconceito. Acho que é dos países onde mais se tem, porque é velado.

Ainda bem que, apesar de tudo isso, as pessoas têm se aceitado cada vez mais como são. A ex-faxineira Zica Assis ficou rica ao criar a fórmula de um produto para passar em seu cabelo e assumi-lo anelado, o sucesso foi tão grande que hoje ela tem a rede de salões Instituto Beleza Natural espalhados pelo país, e já saiu na revista Forbes, como uma das 10 mulheres de negócios mais influentes do Brasil ao lado de Gisele Bündchen.

Ano passado em São Paulo, houve a primeira Marcha dos Cabelos Crespos e, aos trancos e barrancos, enfrentando os preconceituosos, eles vão lutando e ganhando seu espaço. E essa história de que o negro é o bandido, já era. Olhem a Lava-Jato e vejam a cor da pele dos bandidos que roubaram bilhões e que estão presos lá. Os cães ladram e a caravana passa. É isso aí. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

Crônica publicada na página 2 do Caderno Em Cultura, 29/1/16, na coluna da Anna Marina

 

 

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