Crise ou mudança de hábito?
Coordeno a Jornada Solidária Estado de Minas, promovida por este jornal, e organizamos diversos eventos para arrecadar recursos para reformar creches comunitárias na Grande BH.
Um deles é o Bazar Solidário – esporádico, pois não é fácil conseguir a quantidade de produtos necessários para sua realização. A edição 2015 foi um grande sucesso. Conversando com as voluntárias, fui me lembrando de alguns nomes de pessoas conhecidas, que sempre nos ajudam com doações de roupas usadas – sei que elas têm closets grandes, com muitas roupas de marcas. Quando citei um nome, logo alguém ponderou: “Não ligue pra ela, porque vende tudo para um brechó”.
Confesso: levei um susto, não por alguém vender roupas para brechó, mas por se tratar de uma pessoa muito rica. No fim do ano, outra amiga me ligou pedindo indicações, dizendo que tinha muita roupa boa em casa e queria vende-las num brechó. Como não tenho esse costume, busquei informações e passei para ela.
Para falar a verdade, acho bem interessante essa história. Quanta coisa boa temos no armário, não usamos há anos e que não servem para doação… Trata-se de roupa de festa ou de casamento, nem sempre apropriada para ser doada. Roupas esporte, de uso diário, é mais fácil de doar, mas e as outras? Ocupam espaço e não podemos jogá-las fora, pois são muito boas e caras – ficamos sem solução para o problema. Porém ela tem destino certo: brechó. Afinal, há gosto para tudo, além de pessoas de teatro e cinema que sempre recorrem a essas lojas quando precisam de uma produção de época.
Um comércio com prestígio no exterior, que já chegou a São Paulo há tempos, está ganhando espaço aqui em BH: os brechós de alto luxo. Na TV fechada, um programa mostra o dia a dia de um deles. É enorme e está em expansão. Só vende roupas, calçados, bolsas e acessórios de grifes bacanérrimas em excelente estado, por preços muito acessíveis. Se as pessoas levarem as peças em caixas ou sacolas da marca elas ainda valem mais, pois são adquiridas para revenda. Enfim, é um verdadeiro sonho para quem quer ter uma peça de grife, mas não pode pagar por uma nova. Lembre-se de que produtos de luxo ganham valor com tempo, pois são exclusivos, têm design e qualidade. E ainda há a vantagem de achar aquela bolsa que já saiu de produção e você adora.
Muita gente ama peças vintage, elas estão em alta. Celebridades como Kate Moss, Elisa Nalin e Julia Roberts têm aparecido com produtos assim – de grife, para não dizer de segunda mão –, algumas raridades não estavam nas lojas há anos. É só saber produzir o visual com bom gosto e personalidade. Nada melhor que mesclar o antigo com peças atuais, transadas. O que é bom não acaba. Moda é você se sentir bem com o que está usando. Elegância é a pessoa saber carregar o que está vestindo.
Há uns dois anos, uma amiga abriu um brechó de luxo só com produtos usados e semi-novos – um sucesso no Instagram. São bolsas, sapatos, óculos, roupas. Mas é bom lembrar: embora mais baratos do que os novos, eles continuam com preços de grife – e não de brechós comuns. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)
Crônica publicada no Caderno EM Cultura, 2/2/16, na coluna da Anna Marina