Alegria e emoção dão o tom de uma comemoração rara: 70 anos de casados, data que poucos casais alcançam.
Mês passado recebi um convite de uma comemoração rara de acontecer: Bodas de Vinho, ou seja, 70 anos de casados. Fiquei encantada e impressionada. Nunca vi ninguém completar este tempo todo de casado e acho que nunca mais eu vou ver. Só não entendi porque se chama bodas de vinho, deveria ser o nome de um metal valioso ou uma pedra preciosa, depois conversando com meu amigo Esdras Abreu – um dos filhos do casal –, chegamos à dedução que seja pelo fato de que vinho, quanto mais velho melhor, numa referência de que o casamento para durar tanto é porque foi muito bom.
Conheci o casal D. Dila e Sr. Francisco Abreu há cerca de 38 anos, quando namorei um de seus filhos. Ficava muito na casa deles. Era uma festa, afinal, dez filhos é sinônimo de casa cheia, movimentada e alegre (apesar de Sr. Francisco ser bem caladinho). Os almoços de domingo eram deliciosos (D. Dila e suas filhas cozinham muito bem e seu tempero era especial), acredito o amor que existe naquela casa e entre a família é o que tornava tudo mais gostoso e aconchegante.
Como é comum, a vida me levou a outros caminhos e nunca mais os vi. Porém, reencontrei com Esdras e sua mulher Léa (que também era amiga das antigas), casados e com seus dois filhos – Israel e Abrahão –, também casados. Por conta de nossa amizade, fui convidada para o culto de celebração dessa data tão importante.
Quando cheguei à Capela do Instituto Izabela Hendrix pensei que não reconheceria ninguém, mas tive a grata surpresa de ver que todos estavam iguais, o tempo foi muito bom com a família. Tive que conhecer apenas a nova geração, que não existia na minha época. Fiquei tão feliz e senti o mesmo por parte deles. Como podemos deixar de conviver com pessoas que gostamos tanto? Perdemos muito tempo e boas oportunidades na vida.
O culto foi um novo casamento. Os filhos estavam elegantes, seriam os padrinhos da renovação dos votos de seus pais. Os bisnetos foram as daminhas e pajens. O pastor que realizou a cerimônia foi o neto Israel Abreu (filho de Léa e Esdras), e toda a parte musical ficou por conta dos netos e do genro Humberto. O culto foi lindo e emocionante.
O primeiro casamento do casal não foi como queriam, por causa das dificuldades financeiras. A noiva não pode ter um vestido longo, pois seu pai não tinha dinheiro para comprar o tecido suficiente, e chegou à igreja de caminhão. Não teve aliança (só conseguiram comprar quando comemoraram bodas de prata), e nem fotografia. Mas nada disso impediu que se casassem, ao contrário, lutaram contra a proibição da mãe de Francisco, mas não abriram mão de seu amor.
Dessa vez, os filhos do casal fizeram questão de organizar tudo como a mãe havia sonhado e nunca pode ter. Capela decorada, D. Dila em um lindo vestido longo de renda em tom champanhe, e nada de chegar de caminhão, mas em um carro chique com motorista.
No meio do culto mais uma supresa, filhos e netos se uniram e montaram um coral da família que, regido pelo filho Nathan, cantou o hino do Salmo 128, o preferido dos pais. Não tinha como não se emocionar vendo tudo aquilo. Penso que mesmo se não conhecesse ninguém ali já me emocionaria com a situação: um casal ter tamanha longevidade e amor que conseguiram completar 70 anos de casados. Mas, conhecendo toda a família que estava lá e o lindo casal que estava no altar, não tinha como não me emocionar, bem como todos os presentes, pois a cerimônia era interrompida, com frequência, por aplausos.
No final, Sr. Francisco falou em rápidas palavras, sobre a importância do amor e da presença de Deus no casamento, o que ele chamou de peça fundamental, e finalizou dizendo que se vivesse mais 70 anos, não mudaria nada, porque eram muito felizes, afinal, o casal nunca brigou em toda a vida. E como disse Israel durante o culto, antes de casar foi pedir conselhos aos avós e ouviu da importância de Jesus como a terceira pessoa no casamento: Jesus, e D. Dila completou falando que é preciso também uma boa dose de paciência.
Fui privilegiada de poder participar de um momento tão raro.
Isabela Teixeira da Costa