Ontem, fui ao cinema com alguns amigos e ficamos lembrando coisas que não existem mais.
Sempre que vamos ao cinema, logo no início, o primeiro vídeo que passa é um desenho animado engraçadinho com as informações de seguranças e mostrando o que não se deve fazer dentro de um cinema.
A primeira imagem é um Lanterninha descendo as escadas de um corredor entre as cadeiras da sala de projeção. Isso sempre me chamou muito a atenção, e ontem, pela primeira vez comentei: “Adorava o Lanterninha”. E minha amiga concordou comigo e ficamos relembrando algumas coisas existiam e não existem mais, de forma saudosa.
Acho muito interessante o desenho animado começar por uma figura, ou melhor, pela imagem de um profissional que não existe mais, e que 90% das pessoas que estão assistindo aquilo não têm conhecimento do que ele representou. Fico imaginando se eles ficam pelo menos curiosos para saber quem era aquele, se perguntam para seus pais, ou se simplesmente ignoram, ou nem percebem.
Quando era pré-adolescente e adolescente morava na Rua Tupis, 360, no Centro, em frente ao Cine Jacques, que tinha ao lado o Ted’s. Hoje, o prédio continua lá, e o cinema daquela época se transformou na entrada do Shopping Cidade. A turma do prédio não era grande, São apenas 11 apartamentos – um por andar –, e nem todos tinham adolescentes e jovens, mas o “Seu” Manoel Bernardes morava lá com a família e eram muitos filhos, e a Andrea é mais ou menos da minha idade e brincávamos muito juntas, e tinha a Rosângela (não lembro agora o sobrenome dela). Nós três éramos amigas. Para felicidade, ainda encontro com Andrea, infelizmente, ainda não tive o prazer de rever Rosângela.
Naquela época, não existia essa conversa de viajar todas as férias e nem as férias todas, ate mesmo porque as aulas terminavam em novembro e só recomeçavam em março, e eram o mês de julho todo. Não fiquem com inveja, tínhamos aula aos sábados, sem exceção. Com isso, ficava muito tempo à toa em BH, e minha mãe sempre trabalhou fora.
Quando cansava de brincar de boneca (coisa que eu adorava), ia ao cinema, sozinha mesmo, naquela época podia. Era só atravessar a rua e os filmes eram ótimos. Não corria perigo. Eu tinha uns 10, 11 anos. Entrava na seção das 14h e só saía às 18h. Passava a tarde assistindo o mesmo filme. Assisti todos os filmes da série do Herbie, Se meu fusca falasse; A Noviça Rebelde; e todos os desenhos clássicos da Disney. Amava.
E tinha o Lanterninha, um rapaz vestido elegantemente com um tipo de farda de gala, com um quepe, que ajudava as pessoas que chegavam atrasadas a encontrarem lugares para assentar – não existia lugar marcado –, e, vez ou outra, passeavam durante o filme pela sala, para iluminar casais de namorados mais fogosos.
Quando alguma turma ficava conversando muito ou fazendo bagunça, era ao Lanterninha que recorríamos, e ele punha moral ou retirava os baderneiros do cinema. Teve uma época que tarados começaram a ir aos cinemas para passar a mão nas pernas e em outras partes mais das moças sozinhas. O Lanterninha também entrava em ação.
Outro profissional daquela época que sumiu foram os baleiros. Apesar de ter a bombonier no foyer do cinema, entravam moças com uma bandeja pendurada no pescoço com todas as balas e chocolates e passavam nos corredores, vendendo para quem já estava assentado. Vale lembrar que, naquela época, era proibido entrar com pipoca na sala de projeção, por causa da sujeira que ficava.
Eu sempre comprava Frumelo, uma bala macia de framboesa, e amendoim revestido de chocolate. A gente saía do filme com a boca até pegando, de tanto doce que comíamos. Era divertido. Quanta saudade.
Isabela Teixeira da Costa