Sexta-feira, escrevi neste espaço, os excessos de cuidados rotineiros que cabe à mulher, que, às vezes, são bastante desgastantes. Cheguei a comparar com a “vida mansa” masculina neste quesito, uma vez que a eles cabe apenas o cuidado diário com a barba.
Tenho que me redimir. Escrevi o artigo na quarta-feira pela manhã – temos que adiantar algumas coisas para dar tempo de fazer todo o trabalho que o jornal demanda. Logo depois de entregar o material, estava tomando um cafezinho com alguns colegas de trabalho, sofrendo este forte calor que parou sobre Belo Horizonte, e um deles disse: “Me dá uma saia de presente?” É claro que eu olhei assustada, porque se trata de um rapaz hetero, casado, e bem formal na maneira de se vestir. Perguntei o que tinha dito, como se não tivesse entendido sua fala.
Não era engano, ele queria usar saias. “Por que mulher pode usar saia e a gente não? Está um calor enorme e temos que sofrer com calças compridas. O outro colega aprovou na hora. Enfim, descobri um ponto sofrido para os homens: trabalhar no verão, enfrentando o calor, com camisa social e calça. Os dois desataram a elencar a facilidade das mulheres – e eu, só lembrando da coluna que acabara de escrever. “Vocês podem usar saia, blusa de alcinha, vestido, aquelas calças curtas (não sabem dizer pantacourts). Se usarmos camiseta regata mandam a gente voltar para casa.”
Realmente, homens penam no verão. Há uma grande diferença entre uma mulher e um homem mostrar os braços. Em ambiente de trabalho é inconcebível um rapaz usando regata. Camiseta de manga tudo bem, mas regata… Jamais. Aí, começaram a questionar se ficaria muito esquisito virem trabalhar de saia. O argumento principal foi a ideologia de gênero. Se hoje, cada um pode ser o que quiser, é possível usar o que quiser e ninguém pode falar nada. Acabaram chegando à conclusão que as pessoas olhariam de forma muito esquisita.
Lembraram dos escoceses e suas saias kilt. Pronto, problema resolvido, iam usar a saia kilt que é de homem. Foi a vez de eu lembrei de um pequeno detalhe desagradável, saia kilt é de lã, e completei: “o mais difícil vai ser aguentar o coturno que se usa com essas saias”. Começou outra novela. Os dois passaram a devanear em como adaptar o modelito para um país tropical. Fariam a saia xadrez, mas com tecidos leves, e pediram sugestões: linho, viscose, algodão, malha fria, liganete, gersey… E o coturno? Pensaram um tempo e depois de uma infinidade de ideias inadequadas um soltou a pérola, “sandália gladiador! É a versão perfeita do coturno para o verão”. Rimos muito.
Não me contive e contei do artigo que tinha acabado de escrever e um deles, mais do que depressa me interrompeu para falar que eu estava completamente equivocada, e ainda tripudiou dizendo que ou eu estava andando com o homem errado ou estava sozinha há muito tempo. Segundo ele, os homens de hoje se cuidam muito bem. Ele, por exemplo, depila a área entre as sobrancelhas, e algumas partes do corpo porque não gosta de ficar com excesso de pelos e ainda apara os cabelos das axilas.
Tenho que dar a minha mão à palmatória e reconhecer que atualmente os metrosexuais são a maioria e é uma grande falácia querer taxá-los de gays. Hoje, os homens se cuidam tanto quanto as mulheres, no que fazem muito bem.
Isabela Teixeira da Costa