Tem coisas que se aprende de pequeno

Muita gente já deve ter ouvido a expressão “isso vem de berço”, se referindo a que educação, ética, princípios, valores, e respeito começam a ser ensinados desde cedo, em casa. É a mais pura verdade.

Ter filhos é uma grande responsabilidade e cabe aos pais a missão de educá-los, e o que eles aprenderem desde de criança será o que vão repetir ao longo da vida.

Educar não é fácil, precisa de muita sabedoria, posicionamento, firmeza, paciência e pode ser muito simples se for feito com responsabilidade, compromisso e, sobre tudo, amor.

Muitas das coisas absurdas que vemos ou tomamos conhecimento hoje, se devem à falta dessa educação e limites dados por parte dos pais aos filhos ainda pequenos. Não são poucas as vezes que vemos crianças mandando em seus pais. Há alguns anos, vi um pai perguntando para sua filhinha – que deveria ter uns 3 anos –, se ele poderia sentar em determinada cadeira. Fiquei chocada. A criança respondeu que não, que ele tinha que sentar na outra e ele obedeceu.

Atitudes como essa, que podem parecer uma bobagem, fazem parte da formação da personalidade e comportamento do ser humano. O que essa menina está aprendendo? Que ela manda na pessoa que deveria ser a autoridade máxima sobre sua vida, ou seja, eu posso tudo, eu estou no controle. Que limite ela terá? Ensinar aos filhos, desde cedo os significados e as consequências do sim e do não; do certo e do errado; das razões e dos limites; tudo pode representar a diferença entre saber o caminho a seguir ou sair a esmo apanhando-se a cada esquina. É aquela máxima, você pode aprender pelo amor, ou pela dor.

Não aprendemos apenas essa educação básica e as cinco palavrinhas mágicas, mas também a reconhecer erros, pedir perdão e perdoar, ser grato, ter delicadeza, gentileza, simpatia, ser prestativo. Recentemente, fiquei sabendo da morte de um senhor idoso, pai de muitos filhos, que já estava doente há um bom tempo. Entrou em estado terminal. Um dos filhos, mesmo sabendo que o pai poderia morrer a qualquer momento, viajou com a família. No dia seguinte o senhor faleceu. Três dias depois, o viajante postou uma foto da família, toda sorridente no passeio. Onde está o respeito a quem lhe deu a vida? O que leva um filho a não se importar com a perda de um pai?

Em contrapartida, me contaram outro exemplo. Um rapaz, casado, com três filhos, um adolescente e dois pequenos, estava com uma viagem comprada para a Disney, em um dos hotéis mais caros do complexo. Uma semana antes do embarque seu pai foi internado, mas não corria risco de morrer. Ele cancelou toda a viagem , sem direito a reembolso. A mulher chegou a perguntar por que não ir, já que o pai não estava tão grave, e ele disse que se tratava de família. Naquele momento o mais importante era estar junto, ao lado do pai, e principalmente, ensinar aos filhos pequenos o valor e a importância da família.

Isso faz toda a diferença. Dois casos semelhantes, duas atitudes diferentes, dois ensinamentos.

 

Isabela Teixeira da Costa

Falta em ética pra todo lado

O leitor Marco Antônio de Castro fez um comentário sobre minha crônica do dia 26, que achei tão apropriado, que decidi publicar aqui para dar maior destaque.

“Isabela, realmente estamos passando por um momento histórico no Brasil, onde poderíamos passar a limpo muitas coisas que, com certeza, nos encaminharia para uma sociedade mais educada, preparada, esperançosa.
Mas observe que todos criticam esta classe política com suas falcatruas, mentiras, engôdos e todo tipo de malandragem. Basta mentir e pronto, o problema cai no esquecimento. E continuamos a agir cada um por si.
Porém, ultimamente, por não poder pagar um plano de saúde devido ao alto valor cobrado, estou fazendo alguns exames médicos e, para isto, preciso pagar consulta. A atendente do consultório médico vai logo perguntando, quando falo que é particular, se vai querer recibo ou não. Ora, é evidente a sonegação de uma classe que não precisa burlar o fisco. Como este profissional pode criticar ou ao menos discutir um assunto da lava jato numa roda de amigos? Será que ele(a) se sente confortável em criticar a ação dos meliantes?
Aí eu pergunto, onde está o conselho de classe que não interfere neste comportamento de seus associados? Onde está a ética? Onde fica o juramento ao receber o diploma?
Vamos agora analisar o caso do Aécio – que se disse ludibriado por um bandido, apesar de tê-lo financiado em várias campanhas até chegar ao cargo de senador da república.
Se ele pediu um empréstimo para pagar seu advogado, porque teria que ser em espécie, no mínimo está burlando o sistema financeiro, então já mereceria uma punição. Um simples TED resolveria seu problema, sem necessidade do primo ter que se deslocar de BH para SP, transportando uma quantia tão vultosa, com todos os riscos inerentes a esse tipo de atividade. Então, com o dinheiro na mão, pagou um advogado. Pergunto: quem é este advogado, cadê o comprovante do pagamento? Esse pagamento, com certeza, terá que ser declarado.
Este valor é condizente com o caso? A OAB, no mínimo, deveria buscar esclarecer o comportamento desse iluminado, que ganha uma fábula para simplesmente desmentir juridicamente com sua verve, toda a trama montada pelo “bandido” amigo do seu cliente.
Portanto, estamos vivendo cada um por si, a sociedade desamparada só acompanha o desenrolar dos acontecimentos sem mobilização, justamente por que não há moral para exigir moralidade.
Um grande abraço, termino por aqui apesar da vontade em continuar escrevendo.”

Condutora infratora

É impressionante como pessoas cobram ética e honestidade dos outros, mas agem sem se importar com as leis em pequenas coisas e acham normal.

Sou condutora infratora. Não só eu como um bando de gente por aí. Recebi uma carta do Detran pedindo para entregar minha careira porque tive, em 2012/13 mais de 20 pontos na carteira. Como eles têm até cinco anos para abrir o processo, a cartinha chegou no início de outubro, e obedeci às regras.

Agora, 30 dias sem dirigir, cursinho de reciclagem pela internet, provas simuladas até chegar terminar o prazo da punição para, em seguida, marcar a prova no Detran e, se passar, receber minha carta de novo. Por enquanto, estou passando a Uber, Cabify, Taxi e carona de amigos. Minha amiga Sandra Botrel já se apelidou de Uber Classic, de tanto que está me choferando.

Como sou uma palhaça, conto pra todo mundo, rindo, que sou condutora infratora e estou sem dirigir. Acho engraçado que a primeira reação das pessoas é oferecerem o carro. Rio muito e  tenho que explicar que meu carro está na garagem, que estou sem carteira, portanto, proibida de dirigir. Só aí a ficha cai.

Numa dessas, uma prima mais velha me questionou: “Qual é o problema?”. Eu disse que nenhum, apenas ficaria a pé por 30 dias ou mais, até fazer a prova. E a resposta foi a melhor de todas. “Não sei porque, dirigi há décadas e ninguém nunca me pediu carteira. Nunca cai em uma blitz, você já?”.

Poderia simplesmente responder que só quando eu era bem mais nova, mas que existe uma lei proibindo a gente de dirigir sem carteira. Que fique claro que minhas multos são de velocidade e todas elas bem perto do limite, 70, 75, 80km. Nunca recebi uma multa por usar celular, estacionamento proibido, parada em fila dupla e nem avanço de sinal, apesar de avança-los com segurança quando dirijo de madrugada, porque sou mulher, ando sozinha e em alguns pontos da cidade a minha segurança se torna mais importante do que receber uma autuação.

Mas com minha prima as coisas não funcionam desse jeito. Então respondi que é proibido dirigir sem carteira e lembrei a ela que existe uma famosinha lei informal chamada Lei de Murphy. Que provavelmente, só por estar sem carteira poderia ser parada em uma blitz. Ela deu de ombros me achando uma boba.

Fiquei pensando naquela conversa. Estamos vivendo em um momento do país no qual todos nós cobramos ética e honestidade por parte de políticos, empresários e governantes, mas não nos importamos em agir sem ética, desde que seja para nos beneficiar. Com que moral? Senta no seu rabo para falar do meu? Não está correto. Para cobrarmos algo de alguém, devemos agir corretamente, honestamente e eticamente.

Para usar uma linguagem menos chula, vou citar um versículo da Bíblia. Em Mateus capítulo 7 versículo 3 Jesus diz “Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho?”

A questão é essa. É muito fácil acusar, apontar o dedo e julgar o outro, o difícil é ver e enxergar nossos erros.

Isabela Teixeira da Costa