Condutora infratora
É impressionante como pessoas cobram ética e honestidade dos outros, mas agem sem se importar com as leis em pequenas coisas e acham normal.
Sou condutora infratora. Não só eu como um bando de gente por aí. Recebi uma carta do Detran pedindo para entregar minha careira porque tive, em 2012/13 mais de 20 pontos na carteira. Como eles têm até cinco anos para abrir o processo, a cartinha chegou no início de outubro, e obedeci às regras.
Agora, 30 dias sem dirigir, cursinho de reciclagem pela internet, provas simuladas até chegar terminar o prazo da punição para, em seguida, marcar a prova no Detran e, se passar, receber minha carta de novo. Por enquanto, estou passando a Uber, Cabify, Taxi e carona de amigos. Minha amiga Sandra Botrel já se apelidou de Uber Classic, de tanto que está me choferando.
Como sou uma palhaça, conto pra todo mundo, rindo, que sou condutora infratora e estou sem dirigir. Acho engraçado que a primeira reação das pessoas é oferecerem o carro. Rio muito e tenho que explicar que meu carro está na garagem, que estou sem carteira, portanto, proibida de dirigir. Só aí a ficha cai.
Numa dessas, uma prima mais velha me questionou: “Qual é o problema?”. Eu disse que nenhum, apenas ficaria a pé por 30 dias ou mais, até fazer a prova. E a resposta foi a melhor de todas. “Não sei porque, dirigi há décadas e ninguém nunca me pediu carteira. Nunca cai em uma blitz, você já?”.
Poderia simplesmente responder que só quando eu era bem mais nova, mas que existe uma lei proibindo a gente de dirigir sem carteira. Que fique claro que minhas multos são de velocidade e todas elas bem perto do limite, 70, 75, 80km. Nunca recebi uma multa por usar celular, estacionamento proibido, parada em fila dupla e nem avanço de sinal, apesar de avança-los com segurança quando dirijo de madrugada, porque sou mulher, ando sozinha e em alguns pontos da cidade a minha segurança se torna mais importante do que receber uma autuação.
Mas com minha prima as coisas não funcionam desse jeito. Então respondi que é proibido dirigir sem carteira e lembrei a ela que existe uma famosinha lei informal chamada Lei de Murphy. Que provavelmente, só por estar sem carteira poderia ser parada em uma blitz. Ela deu de ombros me achando uma boba.
Fiquei pensando naquela conversa. Estamos vivendo em um momento do país no qual todos nós cobramos ética e honestidade por parte de políticos, empresários e governantes, mas não nos importamos em agir sem ética, desde que seja para nos beneficiar. Com que moral? Senta no seu rabo para falar do meu? Não está correto. Para cobrarmos algo de alguém, devemos agir corretamente, honestamente e eticamente.
Para usar uma linguagem menos chula, vou citar um versículo da Bíblia. Em Mateus capítulo 7 versículo 3 Jesus diz “Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho?”
A questão é essa. É muito fácil acusar, apontar o dedo e julgar o outro, o difícil é ver e enxergar nossos erros.
Isabela Teixeira da Costa
2 Comentários para "Condutora infratora"
Isabella, realmente estamos passando por um momento histórico no Brasil, onde poderíamos passar a limpo muitas coisas que, com certeza, nos encaminharia para uma sociedade mais educada, preparada, esperançosa.
mas observe que todos criticam esta classe política com suas falcatruas, mentiras, engôdos e todo tipo de malandragem. Basta mentir e pronto, o problema cai no esquecimento. E continuamos a agir cada um por si.
Porém, ultimamente, por não poder pagar um plano de saúde devido ao alto valor cobrado, estou fazendo alguns exames médicos e, para isto, preciso pagar consulta. A atendente do consultório médico vai logo perguntando, quando falo que é particular, se vai querer recibo ou não. Ora, é evidente a sonegação de uma classe que não precisa burlar o fisco. Como este profissional pode criticar ou ao menos discutir um assunto da lava jato numa roda de amigos? Será que ele(a) se sente confortável em criticar a ação dos meliantes?
Aí eu pergunto, onde está o conselho de classe que não interfere neste comportamento de seus associados? onde está a ética? Onde fica o juramento ao receber o diploma?
Vamos agora analisar o caso do Aécio – que se disse ludibriado por um bandido, apesar de tê-lo financiado em várias campanhas até chegar ao cargo de senador da república.
Se êle pediu um empréstimo para pagar seu advogado, porque teria que ser em espécie, no mínimo está burlando o sistema financeiro, então já mereceria uma punição. Uma simples TED resolveria seu problema, sem necessidade do primo ter que se deslocar de BH para SP, transportando uma quantia tão vultosa, com todos os riscos inerentes a este tipo de atividade. Então, com o dinheiro na mão, pagou um advogado. Pergunto: quem é este advogado, cadê o comprovante do pagamento? este pagamento com certeza terá que ser declarado.
Este valor é condizente com o caso? A OAB, no mínimo, deveria buscar esclarecer o comportamento deste iluminado, que ganha uma fábula para simplesmente desmentir juridicamente com sua verve, toda a trama montada pelo “bandido” amigo do seu cliente.
Portanto, estamos vivendo cada um por si, a sociedade desamparada só acompanha o desenrolar dos acontecimentos sem mobilização, justamente por que não há moral para exigir moralidade.
um grande abraço, termino por aqui apesar da vontade em continuar escrevendo.
só uma pequena correção: o certo é lei de murphy.