Minha zona é uma zona

Ilustração Lélis
Ilustração Lélis

Um grita que não pode, outro que é contra a lei, o mesário pede a moça para sair…A cena mais parecia um teatro de vaudeville.

Como a maioria dos brasileiros fui votar no domingo. Cumprir o meu dever democrático obrigatório. Por sinal, nunca vi uma democracia como esta, somos obrigados a votar. Penso que para ser democracia deveria ser um ato totalmente voluntário. Eu iria votar da mesma maneira, pois acho importante ajudar a escolher quem vai me representar, mas acho lindo quando vejo pessoas jovens ou idosas, que não precisam ir às urnas, comparecerem com orgulho e alegria registrar sua opinião. Deveria ser assim para todos.
Já que não é, vamos cumprindo a lei. Adoro minha zona eleitoral, porque nunca enfrentei fila. Não acredito que tenha pouca gente, acho que acerto os horários porque sempre depois que chego, forma uma filazinha atrás de mim, mas sempre dentro da sala, pouca gente mesmo. Vou me resguardar o direito de não dizer onde voto para não deixar em maus lençóis as pessoas que estavam trabalhando. Pessoas estas que também são convocadas para o trabalho. Brasileiros como todos nós, que acordam cedo e passam o dia servindo à pátria, ajudando a atender a todos os eleitores, satisfeitos ou não por estarem votando. Porém, quero ressaltar que a turma de mesários é muito simpática e prestativa.
Cheguei depois das 16h. Já tinha feito meu cadastramento biométrico e queria ver como a coisa iria funcionar. Não estava acreditando muito, mesmo porque aqui no jornal temos catracas que abrem com digitais e as minhas nunca liberam a bendita catraca. Tento uma, duas, três vezes, uso todos os dedos, e nada. Aí passo o crachá. Já recadastrei minhas digitais umas três vezes e não adiantou nada. Acho que posso até cometer uns delitos que, se depender de digital, nunca serei pega. Brincadeirinha. Voltando à minha zona eleitoral, não deu outra. Coloquei o dedão, não funcionou, o indicador, nada. Troquei de mão e necas de catibiriba. Voltei para a mão direita e novamente a tentativa foi em vão. O rapaz que estava neste setor desistiu, colocou o dedo dele e justificou. Procedimento padrão quando a digital não funciona. E isso não foi só comigo. Outras pessoas passaram pelo mesmo perrengue.
Estávamos esperando para votar quando a moça que estava na cabine põe a cabeça para fora e fala alto: “Alguém aí sabe o número do fulano?”. E perguntou o nome de um dos candidatos a prefeito. Todo mundo respondeu: “É tal”, e caiu na gargalhada. Não deu tempo de nenhum mesário falar nada. Foi pá pum. Em seguida, um rapaz vai votar e fala: “Nossa, esqueci o número do meu candidato”. As pessoas, pensando que se tratava de algum candidato a prefeito, perguntaram quem era e ele fala o nome de um candidato a vereador. Outra gargalhada geral e uma gozação. Um dos mesários se prontifica a olhar na lista, mas uma moça, que estava fora da sala ouve e entra. Era sua amiga. Uma das pessoas da fila fala: “Pode dizer o número, ninguém vai ser influenciado”, mas ela preferi ir até a cabine – o que é proibido –, para falar com o rapaz, e por lá fica.
E a confusão fica completa. Um grita que não pode, outro que é contra a lei, o mesário pede a ela para sair e a mulher fica lá empacada, sem sair do lugar e os outros, que não falam nada, inclusive eu, ficamos rindo da cena, que mais parecia um teatro de vaudeville. Depois de um tempinho veio um homem e falou: “Chega, agora já virou bagunça”, deve ter sido o presidente da mesa. Tirou a moça de lá, sem nenhuma grosseria, diga-se de passagem, mas com posicionamento. Mesmo assim, continuamos a rir muito. Finalmente o rapaz votou. Chegou a minha vez. Votei bem votado.
Na saída, recebo o seguinte recado: “Por favor, retorne ao TRE para recadastrar as suas digitais”. Eu vou, mas tenho certeza que será em vão. Mas, como a esperança é a última que morre, quem sabe no segundo turno minha digital funciona? Só espero que minha zona continue como é, porque adoro me divertir.

Isabela Teixeira da Costa/Interina

Esta crônica foi publicada hoje, no Caderno de Cultura do Estado de Minas

Consciência na hora de votar

Ilustração Lélis
Ilustração Lélis

Não dá mais para votar no amigo ou porque alguém pediu. Devemos votar baseados nas propostas políticas.

Domingo teremos eleições para prefeito e vereadores. Depois de todo esse reboliço pelo qual passamos no país, com afastamento de presidente, impeachment, julgamentos, presidente interino, que posteriormente assumiu definitivamente a presidência do Brasil, é o momento certo para votar com consciência.
Uma centena de milhares de pessoas foi às ruas pedindo o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, porém, pelo que parece, não prestaram a devida atenção em quem assumiria o país em seu lugar. Isto ficou nítido quando o presidente Michel Temer, desde quando estava como presidente interino, aparecia publicamente. A reação das pessoas não era simpática, ao contrário, o que se via e ouvia eram vaias. Na Olimpíada do Rio de Janeiro, as manifestações ocorreram de forma menos acintosa, mas na Paralimpíada, quando ele já havia assumido definitivamente a Presidência da República, as vaias interromperam o discurso de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Este é o maior problema. Na maioria das vezes, não olhamos para o vice.
Temos olhos só para o candidato, e esquecemos que, caso ocorra algum problema, ficaremos nas mãos do vice. Porém, não vivemos somente o problema da troca do governante maior do país. Estamos em meio a uma investigação do maior caso de corrupção já visto no país, e talvez no mundo: a Lava-Jato, que a cada dois ou três meses desencadeia mais uma etapa e prende mais um número de empresários, políticos e profissionais que ocuparam cargos de confiança em governos passados. Tudo o que está sendo deflagrado é consequência de atos de políticos eleitos pelo povo, ou seja, por nós.
Por tudo isso que estamos vivendo, precisamos ter muita cautela e consciência para votar no próximo domingo. Não dá mais para votar no amigo ou porque alguém pediu. Devemos votar baseados nas propostas políticas, no caráter e na integridade do candidato, seja para qual cargo for. No caso do prefeito, devemos estudar também o candidato a vice.
Existe uma “campanha” rodando nas redes sociais conclamando todos os eleitores a anularem o seu voto, para que a eleição seja cancelada. Segundo o informativo que está circulando, caso 51% dos eleitores anulem seus votos, a eleição será cancelada. Mentira. Nossa lei eleitoral não prevê o cancelamento das eleições por causa de votos nulos, eles não são considerados, e os brancos, que antes eram encaminhados para os partidos que estávam com a maioria dos votos, atualmente também não são computados. Sendo assim, se apenas 500 pessoas votarem, será eleito o candidato que tiver a maioria dos 500 votos. Se apenas 10 pessoas votarem, será eleito quem tiver a maioria dos 10 votos.
O que precisa ser mudado é a lei eleitoral do Brasil. A população, que não está satisfeita, precisa fazer um grande movimento e pedir mudanças, porém não é possível para esta eleição. É necessária uma ação organizada, com reivindicações preestabelecidas, dessa forma, quando o movimento for feito, tem tudo para dar certo. Mas, para isso, primeiro de tudo, os eleitores devem se inteirar de como é a lei vigente, pois ouvem o galo cantar e não sabem onde. Saem espalhando boatos infundados e acabam deixando nas mãos de uma minoria a escolha de quem vai representá-los e, depois, ficam sem ter como reclamar, pois preferiram anular seu direito de escolha, não por opção, mas por má informação, crendo que com isso estavam participando de uma manifestação, numa falsa tentativa de anular uma eleição.

Isabela Teixeira da Costa/Interina

Vote com consciência

votoEste é o momento de pesquisar e analisar o perfil de cada candidato e votar de forma consciente.

As eleições municipais de 2016 serão fundamentais para a definição do futuro das nossas cidades pelos próximos quatro anos e trarão, ou não, as melhorias que tanto almejamos. A aproximação das eleições para os cargos de prefeito e vereador aumenta a expectativa de transformação no cenário político atual. Esse momento merece atenção e faz renascer o desejo de mudança dessa realidade política tão desgastada.

É certo que, nos dias atuais, quando paramos para conversar com a maioria dos brasileiros, ouvimos um discurso recheado de desconfiança relativa à política praticada no país e avesso aos políticos, que se apresentam cada vez mais envolvidos em denuncias e escândalos de corrupção.

Ouvimos aqueles que estão desiludidos com o cenário atual e que alegam que não votarão em nenhum dos candidatos, seja porque não encontram quem os represente ou, mesmo porque, já não acreditam que a mudança seja possível.

Para os eleitores que já tem a consciência de que seu voto pode mudar a situação do país, o momento é de pesquisa e análise de cada candidato, para que se possa conhecer o perfil de cada um, sua trajetória e suas propostas. É fundamental que o eleitor busque informações a respeito das ideias do candidato e do partido político ao qual ele pertence. O eleitor deve investigar quem é o vice do candidato, pois o seu voto vai para ele também.

É fato que nem todo político é corrupto e que existem candidatos honestos e com intenções sérias relativas à questão social.  Embora isto seja verdade, o eleitor deve estar atento à conduta do candidato, procurando identificar aqueles que, de alguma maneira, tentam oferecer vantagens pessoais em troca de apoio político, pois não tenha dúvida, ele fará a mesma coisa ao se eleger.

As eleições de 2016 chegam com algumas novidades. A Lei nº 13.165/2015, conhecida como Reforma Eleitoral 2015, promoveu importantes alterações nas regras das eleições deste ano como, por exemplo, mudanças nos prazos para as convenções partidárias, filiação partidária e no tempo de campanha eleitoral, que foi reduzido de 90 para 45 dias.  O período de propaganda dos candidatos no rádio e na TV também foi diminuído de 45 para 35 dias, com início em 26 de agosto, no primeiro turno. Além disso, reflexo da Operação Lava-Jato e da mudança na legislação, surgem grandes transformações na forma de financiamento eleitoral.  A mudança significativa está na proibição do financiamento eleitoral por pessoas jurídicas. Isso significa que, as campanhas eleitorais deste ano serão financiadas exclusivamente por doações de pessoas físicas e pelos recursos do Fundo Partidário. O valor doado, por sua vez, está limitado a 10% dos rendimentos brutos do doador no ano anterior à eleição. As doações de empresas a partidos e candidatos passam a ser, portanto, ações consideradas inconstitucionais. Esta é uma alteração de impacto, pois, de acordo com estudos realizados, as doações de pessoas jurídicas representavam cerca de 90% dos valores arrecadados nas campanhas eleitorais no Brasil.

Essas mudanças devem ser vistas como forma de buscar garantir, cada vez mais, a transparência e a honestidade na condução do processo eleitoral. Embora essas ações sejam um bom começo e uma luz no fim do túnel, não se pode ser ingênuo ao considerar que isso seja o suficiente. Sabe-se que a transformação da sociedade brasileira depende de uma revolução no processo educacional e, consequentemente, da formação de cidadão que saiba reconhecer o seu papel e sua importância no desenvolvimento sadio e justo do nosso país.

Não se pode reclamar da corrupção se o caráter de quem reclama não lhe permite fazer diferença e se, mesmo fazendo a diferença com um modo agir correto, não se consiga posicionar, votando.

Dessa forma, é importantíssimo que todos os eleitores façam a sua escolha com seriedade e consciência e entregue o seu voto ao candidato que apresente a proposta que lhe pareça mais adequada e o perfil que se mostre confiável. Votando de forma consciente e escolhendo candidatos honestos, com propostas viáveis e consistentes é que será possível mudar o rumo da política brasileira.

Cláudia Elias