Casos de família
Histórias de família são ótimas. Casos que nem acreditamos que pode acontecer algum dia.
Já disse aqui que temos um grupo de WhatsApp das primas da família Teixeira da Costa. São mais de 60. No dia que estão animadas a conversa vai longe e quando resolvem contar casos… Damos boas risadas. O último fim de semana foi um desses dias.
Uma de minhas tias, Luzia (mais conhecida como Ló), casada com o arquiteto Raphael Hardy – infelizmente todos dois já se foram –, morava em uma casa enorme na subida da Avenida Álvares Cabral. Eu era pequena, mas lembro que íamos muito lá. A casa vivia de porta aberta, nem sei para que tinha porta. Portão da rua ficava aberto e tínhamos que subir uma rampa para chegar na casa, que também ficava com a porta aberta. Aberta mesmo, não era destrancada.
Era um entra e sai de gente da manhã à noite, ou melhor, 24 horas. Acho que foi o primeiro serviço 24 horas da cidade. Eram várias salas e todas sempre estavam cheias de pessoas alegres conversando e bebendo, música tocando. Eram quatro filhos grandes: Veveco, George, Eliane (a Laninha) e Maria Elisa (mais conhecida como Bite). E o Toninho que regula comigo em idade, somos bem mais jovens que os outros. Todos se reuniam lá com seus amigos, então dá para imaginar a farra que era.
A mesa do café da manhã só era retirada na hora de servir o almoço, que só saía para ser colocado o lanche da tarde, que era trocado pelo jantar e que dava lugar para outra mesa de quitutes para a madrugada. Todo mundo que chegava se assentava, comia, bebia, se fartava e continuava ali, batendo papo e se divertindo. A família era festeira. E chegavam os irmãos da Tia Ló com as famílias e completava o furdunço.
Certa vez, entrou um homem e assentou na mesa, a empregada da casa serviu a ele o almoço, comeu até sobremesa e depois pediu a conta. Ninguém entendeu nada. Disse que viu tanta gente entrando e saindo que pensou que era restaurante. Todo mundo caiu na gargalhada. Não duvido nada que depois dessa, ele tenha se tornado amigo da família
Assim era a casa da minha Tia Ló.
Tem outro caso ótimo. A família tinha um Nash verde, um carro enorme, onde cabiam até 10 pessoas. Por causa da cor e do tamanho foi apelidado de Dragão. Segundo Bite, era o único da cidade e quando passava todo mundo sabia quem era. Minha tia Ló dirigia sem carteira – acho que era normal, minha mãe, naquela época, também costumava fazer isso –, e como o carro era muito comprido, sempre que precisava estacionar pedia ajuda para alguém, inclusive em uma das vezes foi para um guarda de trânsito. E ele ajudou.
Meu primo Veveco, Álvaro Hardy – arquiteto dos bons, como o pai. Foi-se cedo, mas deixou muitos amigos, cozinhava muito bem e por causa disso foi homenageado pelo Clube da Esquina com a música Veveco panelas e canelas, de Milton Nascimento, Tavinho Moura, Chico e Fernando Brant –, certa vez saiu com o Dragão. Emprestou o carro e nunca conseguiu lembrar para quem. O “honesto” nunca mais devolveu e foi o fim da era Nash na família Teixeira da Costa Hardy. Agora me expliquem: como alguém empresta um carro e não lembra para quem??? E se era o único da cidade e todo mundo reparava, como ninguém mais viu o tal carro??? Coisas de Veveco.
Em uma das vezes que meu tio saiu com o carro cheio de crianças – época de Carnaval –, deveria ter mais de 15 lá dentro, um transeunte viu, não agüentou e falou alto: “e o arroz custando Cr$ 15,00 o quilo…” . Devia ser muito divertido.
Meu pai nunca foi dado a saber combinar bem as roupas. A vida inteira, enquanto tomava banho, minha mãe colocava sobre a cama o terno, camisa, gravata, meias e até o sapato que ele deveria usar. Se ela não fizesse isso o resultado seria desastroso. Quando queria comprar carro, ou trocar o carro, a família ia junto para escolher o novo veículo, porque senão escolheria a prior cor do mercado. Uma única vez, ele, em surdina, foi trocar o carro. Chegou feliz, chamou todo mundo para ir à garagem do prédio. Quando chegamos lá foi um choque. Tinha comprado um Opala SS coupe verde limão com listras pretas. Brigamos muito com ele, mas não tinha o que fazer, a não ser apelidar o carro de periquito. Ninguém queria sair com ele de tanta vergonha.
Tia Ló sempre foi muito parecida com sua irmã mais nova, Tia Tereza. Ló, casada com Raphael Hardy e Tereza, com José Sotero Diniz. Um dia, um senhor, vizinho de Tia Tereza, viu Tia Ló e Tio Hardy no lobby de um hotel. Este senhor ficou igual leão enjaulado andando de um lado para o outro. Não tirava os olhos de meus tios até que não se agüentou e de forma muito austera aproximou-se de minha tia e cumprimentou: “Boa tarde, D. Tereza, como vai o Dr. José Sotero?”, Tia Ló não se fez de rogada, respondeu na mesma moeda: “Boa tarde, vai muito bem, obrigada!”. Colocou minha outra tia em uma situação bastante delicada. O tal senhor deve ter morrido achando que José Sotero tinha sido traído. Não sei se algum dia Tia Tereza teve oportunidade de desmentir o ocorrido para seu vizinho.
E por aí seguem os “causos” da família. Depois conto mais.
Isabela Teixeira da Costa