Estar sozinho não é sinônimo de infelicidade.
Muitas pessoas quando terminam um relacionamento, seja ele casamento ou mesmo um namoro, ficam um pouco sem rumo. Toda vida a dois tem uma rotina – e não me refiro a rotina pejorativamente –, situações diárias na vida do casal, que são quebradas no mesmo instante do rompimento, que deixam uma lacuna. Fica o sentimento de que está faltando alguma coisa.
É aquele telefonema de bom dia, a troca de menagem contando algo interessante ou engraçado que vivenciou, o telefonema na hora marcada, a ida ao cinema naquele dia da semana, enfim, pequenos gestos que preenchem a vida.
São faltas que acostumamos com o tempo. Até hoje, sinto falta dos telefonemas com um ex-namorado que fazia durante engarrafamentos. Eram papos agradáveis e ótima maneira de enfrentar os congestionamentos. Muito melhor que ficar praticamente parada andando a 10 km por hora. Celular no viva-voz para não tirar a mão do volante e nem infringir nenhuma lei. Tranquilo. Essa foi uma das perdas. A outra, bem mais grave, foi a perda da convivência familiar. Gosto muito da família dele e infelizmente acabamos nos distanciando um pouco. Mas isso é outra história.
Depois de uma situação de perda a maioria das pessoas gosta de ficar mais reclusa por um período, outras aproveitam para sair com amigos e colocar o papo em dia. Normalmente, um casal vive mais fechado entre eles, ou sai com casais, e amigos solteiros ficam um pouco abandonados nesse período.
Porém, tudo depende do temperamento e personalidade de cada um. A grande questão é que os amigos não aceitam essa solidão escolhida e desejada. Pensam que é depressão, tristeza e arrastam a pessoa para a rua a qualquer custo. Vencem pelo cansaço. Não é de maldade, é excesso de carinho e preocupação.
Muitos vão para a balada, paqueram muito, acabam ficando com alguém, fazem sexo casual, etc. Entram na roda alucinada das noitadas. Outros, mais maduros, saem, podem até conhecer pessoas, mas não se envolvem.
Tudo isso só traz uma falsa sensação de felicidade. Quando chega em casa, está sozinho da mesma forma, e insatisfeito com o que fez. As pessoas devem parar de pensar que bebida e sexo resolve problemas. Vou contar um segredo: Não resolve nada, só piora tudo.
Devemos respeitar o nosso momento e descobrir a felicidade em nós. Se formos felizes conosco mesmo, estar sozinho será muito bom, e se sairmos com amigos, será ótimo também. Sairemos para divertir porque já estamos felizes e não para nos afogar em outras coisas em busca da felicidade.
Não podemos ter vergonha de nos posicionar diante dos outros com nossas vontades e desejos. Temos que valorizar os amigos que querem nos ajudar, mas podemos mostrar a eles a maneira correta dessa ajuda.
Tenho uma amiga que sofreu uma grande perda. Seus amigos se uniram em um esquema de rodízio para não deixá-la sozinha. A cada dia era um que ía para sua casa fazer companhia, e sempre chegava com um salmão para comer. Era a forma de agradar, demonstrar carinho. Penso que o salmão representava um ingrediente especial: bonito, requintado e gostoso. Aí é que está. Minha amiga não gosta de salmão. E em meio ao grande sofrimento, foi se empanturrando de um peixe que detesta, por semanas seguidas, porque não tinha coragem de dizer a verdade.
Como ser indelicada diante de tanta delicadeza. Mas no fundo, tudo o que ela queria é ficar sozinha por um tempo.
Independente de perdas, muitas pessoas gostam da solidão. Tenho outra amiga que ama ficar sozinha. Não é nenhuma ermitã. Ao contrário. Tem muitas amigas, gosta muito de sair e receber também. Mas ela tem o seu momento de ficar em seu cantinho, quieta, com ela mesma. Ela se ama e curte muito sua própria companhia. E é muito feliz.
Isabela Teixeira da Costa