A desigualdade no Brasil e a utopia da transformação

Educação, má distribuição de renda e inchaço da máquina pública são três dos grandes problemas do nosso país. Veja a análise de um especialista sobre o tema.

Celso Luiz Tracco

O palestrante e máster coach Celso Luiz Tracco, que acaba de lançar o livro “Às margens do Ipiranga”, que tem como pano de fundo a desigualdade social brasileira, enviou um bom artigo sobre nosso país e achei importante postar.

A sociedade brasileira vem enfrentando enormes dificuldades nos últimos anos. Corrupção endêmica, violência urbana, altas taxas de desemprego, uma grave crise ética, falta de confiança em sua classe política são sinais claros da falta de esperança em um futuro promissor. Como resultado imediato, aumenta o número de jovens e mesmo de famílias constituídas que decidem construir suas vidas no exterior, refazendo o caminho inverso de seus antepassados, 100 anos atrás.

Mas, será que a nossa sociedade tem consciência de que esta crise não é de agora? Será que ela procura refletir as verdadeiras causas de seu infortúnio? Mais ainda, será que ela, tomando consciência das causas reais, tem condições de combatê-las transformando esse cenário caótico?

Não tenho a pretensão de dar uma solução definitiva à grave crise vivenciada pela nossa população, mas gostaria de refletir sobre três pontos que considero fundamentais e que estão na raiz de nossos problemas sociais. Claro que nossa crise não é de hoje. Nosso flagrante atraso social vem de muito tempo, mesmo comparado a países cujos recursos são infinitamente menores que os nossos. Minha proposta, aqui, é debater sobre temas como a baixa escolaridade, a enorme desigualdade social e o paquidérmico tamanho do Estado brasileiro.

A baixa escolaridade vem desde os tempos de nossa colonização europeia. Colonização essa que foi exploradora, predatória e oportunista. Nossos primeiros colonizadores não vieram para se estabelecer na terra, criando uma nova vida, construindo uma nova sociedade. Vieram explorar as riquezas naturais, utilizar mão de obra escrava, juntar o máximo de dinheiro possível e voltar para a metrópole enriquecidos. Sob esta visão, a educação nunca atingiu um papel relevante, afinal os nobres exploradores preocupados com a educação de seus filhos, envia-os para estudos na Europa. E para quê escravos precisavam ler e escrever?

A independência política não modificou substancialmente esse quadro. O Brasil faz censos regulares desde 1872 e, desde 1890, a cada 10 anos. Em 1890, início do período republicano, a taxa de analfabetismo no Brasil beirava os 90%.

Nossos primeiros cursos de estudos superiores só foram instalados no início do século XIX e nossas primeiras universidades, apenas, em 1934, por decreto do então presidente Getúlio Vargas. A partir da década de 70, há um enorme declínio na qualidade da escola pública de ensino básico, com gravíssimas consequências para a nossa população. Hoje, estima-se que em torno de 30% dos brasileiros maiores de 15 anos são analfabetos ou analfabetos funcionais (não têm capacidade de interpretar um texto).

A escola básica nunca foi uma verdadeira prioridade na política de Estado; ao contrário, é apenas usada como propaganda eleitoral de governos inescrupulosos. Não há saída para uma sociedade evoluída sem uma educação básica e massiva de qualidade.

O segundo ponto é a nossa enorme desigualdade social. De novo, um mal histórico. Evidente que a economia brasileira cresceu e se diversificou muito desde o final do século XIX, quando terminou a escravidão. Claro que ela permite uma ascensão social, exemplificada em milhares de imigrantes que aqui chegaram sem nada, e se tornaram industriais, banqueiros, empresários de sucesso. Sem dúvida, existem oportunidades, mas são para a maioria da população?

Na sua essência, a escorchante distribuição de renda não muda, não importa a época, não importa se há crise ou se a economia cresce muito ou pouco. A distribuição de renda no Brasil é imutável, infelizmente. Os 10% mais ricos detêm cerca de 55% da renda nacional, não importando o tipo de governo de plantão, enquanto os 50% mais pobres respondem por 10% da renda. As poucas e esparsas políticas sociais, sempre com objetivos eleitoreiros, são políticas assistencialistas, paliativas que não buscam uma real e verdadeira transformação da situação existente.

Evidentemente, uma enorme parcela da população está condenada a viver em condições de miséria e extrema pobreza, em estado de contínua degradação. Quanto mais essas condições perdurarem, mais a sociedade brasileira estará condenada a viver no atraso e em descompasso com os países mais avançados.

Sem uma distribuição de renda consistente, não teremos uma evolução em relação a emprego, nem melhores condições de moradia, de transporte, de saúde, de uma melhor oferta de bens e de serviços. O urgente avanço na distribuição de renda não é apenas uma questão humanitária, é uma questão econômica, fundamental para o futuro de todos.

Finalmente, a terceira parte de nossa reflexão: A gigantesca máquina pública, aqui englobando os governos federal, estadual e municipal e os poderes executivo, legislativo e judiciário.

A cultura latina, de onde somos originários, é famosa por seu grau de apadrinhamento, nepotismo e burocracia. Esses elementos, sordidamente combinados, fizeram a máquina pública inchar mais e mais, sem parar, ao longo de décadas. Este inchaço traz como agravante, a necessidade insaciável de arrecadação de impostos. Além disso, o governo em geral, proporciona uma má qualidade de serviços, penalizando quem quer produzir.

As empresas estatais, ainda que necessárias quando da sua criação, ao longo do tempo, mostraram-se ineficientes, caras e com focos contínuos de corrupção, um cabide de empregos disputados por políticos e apaniguados. Não por acaso, o Brasil possui o pior retorno sobre impostos arrecadados, entre as 30 principais economias do mundo.

A máquina pública brasileira já se revelou obsoleta, ineficaz, lenta, burocrática e corrupta. Os recursos despejados em impostos são gastos com folha de pagamento, por meio de vultosas aposentadorias e pensões, mordomias nababescas, cargos de confiança, entre outros, faltando dinheiro para a segurança, a saúde, a educação, a infraestrutura, o que afeta a vida de milhões de brasileiros.

Nunca se ouve falar em redução de gastos, mas sempre na necessidade de arrecadação de mais impostos. O governo brasileiro é uma vergonha.

A sociedade brasileira precisa enfrentar esses três pontos de frente. Qual a saída? A sociedade civil deve estar comprometida com as mudanças estruturais. Claro que estamos acostumados a depender do governo como um salvador da pátria, mas já tivemos muitos e nenhum resolveu, e ninguém resolverá.

Devemos fazer a parte que nos cabe, sermos protagonistas de nosso destino, procurar incentivar e apoiar toda e qualquer medida que favoreça a educação. Não devemos explorar o próximo e contribuir de todo modo para uma maior e mais equitativa distribuição de renda.

Lutar, com todas as forças, para pressionar o governo a não aumentar a carga tributária, na verdade deve diminuí-la. Assim estaremos, efetivamente, trabalhando para uma transformação de nossa sociedade. Utopia? Pode ser, mas lembre-se que utopia é algo muito difícil, mas não impossível, de ser alcançado.

Celso Luiz Tracco é master coach, palestrante e escritor. Acaba de lançar o livro “Às margens do Ipiranga”, que tem como pano de fundo a desigualdade social brasileira.

Problemas e dores

Às vezes é bom tomarmos conhecimento de problemas de outras pessoas para cairmos na real e percebermos que o nosso não é o maior e nem o único do mundo.

Qual a maior dor? E o pior problema? É engraçado, mas uma das coisas que ouvi muito no último mês foi isso: qual a maior dor? Consequência do cálculo renal e da cólica ser tida como das piores dores que existem. Inclusive comparam com a dor do parto, dizendo que a dos rins é pior. Como eu já tive uma filha, a pergunta é imediata, na tentativa de matar a curiosidade e conseguir a resposta.

Realmente, a cólica renal é terrível, da mesma forma que a dor da contração no trabalho de parto também, porém, fui anestesiada antes do parto, dessa forma, a dor mesmo da hora H do parto não senti, bem como a maioria das mulheres não a sente mais, desde que inventaram a anestesia. As únicas corajosas que enfrentam tudo, a seco, são as que optam pelo parto natural, de cócoras ou dentro da água. Essas sim, rejeitam qualquer medicação, querem sentir todo o processo de dar a luz.

Porém, independente de saber qual a pior dor em termos de classificação médica ou popular e sem querer menosprezar qualquer tipo de mal, penso que a pior dor é a que estamos sentindo no momento. Sinceramente, não fomos criados para sofrer. Tudo o que nos tira do normal, da nossa condição natural e saudável é extremamente desagradável e, portanto, na minha opinião, o pior sofrimento no momento.

Fazendo um comparativo com a dor, pensei em problemas. Algumas pessoas têm o costume de achar que o seu problema é o maior ou, até mesmo, o único do mundo. Realmente, quando estamos com um problema, sofremos e tentamos resolvê-lo, algumas vezes sem sucesso. A angustia pela qual passamos nos leva a um estado que muitas vezes nos impede de enxergar a luz no fim do mundo.

Tenho um grupo de amigas, e, há algumas semanas, uma delas passou por um grande problema, daqueles que a gente acha que só existe em novela. Nos unimos para ajudá-la, dentro do possível, darmos apoio e orarmos por ela. Depois, outra amiga, chocada pelo que tinha ocorrido me chamou no canto e disse: “Depois dessa acho que não tenho problema nenhum”.

Uma chacoalhada dessas é boa. Não que vamos deixar de ter problemas, mas poderemos, de forma racional, colocar os nossos problemas na categoria correta em vez de supervaloriza-los. É problema? É, mas não é o maior e nem o único. Não é tão grande como imaginamos que seja. Quando deparamos com outro maior e mais complicado, recebemos um choque de realidade e isso nos ajuda a ver nossa situação com outros olhos e muitas vezes conseguimos achar o caminho para solucionar a situação difícil pela qual passamos. É como se, por alguns momentos, nos distanciássemos do nosso mundo que estava nos engolindo.

Sabe aquela máxima que quem está de fora enxerga melhor a situação? Pois é, foi mais ou menos isso que ocorreu naquele momento. Achei tão interessante que resolvi compartilhar aqui. Por pior que seja o nosso problema, devemos saber sempre, que tem muita gente com problema pior. Devemos manter a calma e tentar ser racionais para conseguir ver a situação como se fosse uma pessoa de fora, e assim resolver o problema.

Isabela Teixeira da Costa

Escolha de vida

Todos passamos por problemas, como vamos enfrentá-los, encarar a vida e escolher como viver depende de cada um.

Tenho uma amiga das antigas que gosto muito e passei a admirar mais ainda nos últimos tempos. Fomos colegas de colégio e passamos a adolescência e juventude juntas. Éramos muito ligadas mesmo. Infelizmente, depois dos 20 e poucos anos, por causa do rumo da vida toma – entrada em universidades diferentes, ingresso na vida profissional, etc –, acabamos nos distanciando bastante. Porém, de uns tempos pra cá voltamos a conviver de forma mais próximas, para minha grande alegria.

Coloquei um apelido carinhoso nela (e, tenho que confessar, bastante debochado), só entre nós duas: amiga hiena, porque dizem que a hiena ri da desgraça plena. O ex- estilista e apresentador Clodovil Hernandez definiu muito bem o animal quando disse “hiena come merda, faz sexo uma vez ao ano e ri o tempo todo”. Minha amiga é assim, apesar de todas as adversidades que passou na vida é uma pessoa completamente feliz e alegre. Ela escolheu ser assim. E sua alegria contagia a todos que convivem com essa criatura única.  Se estiver pra baixo e encontrar com ela, rapinho vai estar de alto astral.

Como ficamos muitos anos privadas do convívio próximo, consequentemente não acompanhei o que passou na vida adulta. Sei que quando era adolescente namorou firme um amigo nosso, por anos, chegou a ficar noiva. Ele aprontava todas com ela, o que a maioria dos rapazes faz, deixa a namorada em casa e vai pra farra, depois dava uma desculpa porca, jogava a lábia e conseguia engrupir a coitada, que acabava perdoando. Eu sempre pensei que esse excesso de perdão era em função do grande amor.

Outro dia saímos, eu, ela e uma outra grande amiga da mesma época e acabamos compartilhando nossas experiências. Só aí fiquei sabendo o quanto ela sofreu nas mãos dele, muito mais do que eu poderia imaginar. Aí entendi todo aquele perdão e percebi que não passava de baixa autoestima somada a uma “culpa” e um sentimento de “obrigação” de ficar com ele. Graças a Deus, em um momento da vida a ficha caiu e ela conseguiu se posicionar e sair fora.

Hoje, é uma mulher casada, excelente mãe, ótima profissional, pessoa de caráter e personalidade, porém, infelizmente, não conseguiu ter uma vida completamente realizada. Apesar de se dar muito bem com o marido, continua enfrentando problemas, dos quais não consegue se desvencilhar, mesmo assim, é uma mulher resolvida e decidiu extrair o lado bom de tudo.

Aprendeu a se dar bem com o marido, apesar de ele simplesmente não querer trabalhar. Opção de vida, emprego: viver às custas da mulher. E não é por falta de capacidade, é por preguiça mesmo, pois ele é profissional liberal. Se ela quiser separar dele ainda vai ter que pagar pensão pro bacana. Pode??? Isso me dá nos nervos, mas ela sublimou tudo isso, decidiu ser feliz, viver bem em família. E quem a conhece sabe que suas atitudes são sinceras, não é fingimento. É escolha e opção de vida.

Uma atitude assim é exemplar e invejável. Penso que deveríamos nos espelhar nessas pessoas. Acho a vida seria mais leve e fácil de levar.

Isabela Teixeira da Costa

E a Olimpíada pecou pelo gargalo

caixasNo primeiro dia de competições, torcedores ficam presos na fila.

Depois do sucesso escandaloso da Cerimônia de Abertura da Olimpíada, que deixou o mundo todo maravilhado e tecendo os maiores elogios ao Brasil, vem a vergonha. Alegria de pobre dura pouco…

No primeiro dia dos jogos, a entrada no Parque Olímpico foi um verdadeiro caos. Uma única entrada. Até aí tudo bem, desde que o esquema fosse bem organizado. Mas não. Na revista – passo obrigatório e muito necessário – a demora era tanta, que quem chegou às 8h da manhã, só conseguiu entrar no estádio aos sete minutos do segundo tempo de um jogo que começou às 10h.

Imaginem a raiva do torcedor. Pagar caro por um ingresso, passagem de ida para o Rio de Janeiro, hospedagem e perder o evento porque a organização não previu número necessário de equipe para revistar o volume de pessoas que chegariam ao local. Heim?? Será mesmo? Os ingressos são vendidos antecipadamente. Todos com lugar marcado. Agenda de jogos divulgada com meses de antecedência. Será que não sabiam fazer as contas? Como assim?

E agora, vão devolver metade do valor do ingresso pago, já que foi grande o número de pessoas que perdeu o primeiro tempo?

Porém, os problemas não param por aí. A Praça de Alimentação foi um caos. Ninguém achava o caixa por falta de indicação. Os caixas ambulantes sofriam com o mau funcionamento das maquininhas de cartão. A demora era tanta, que quando a pessoa conseguia chegar ao balcão a comida tinha acabado e só tinha biscoito de polvilho para entregar.

André BaibichAgência RBS
Foto André Baibich/Agência RBS

Algumas pessoas tiveram que se virar com sorvete. Outros não aguentaram passar o dia em jejum e perderam a modalidade esportiva da noite, pois não conseguiriam ficar sem alimentação até depois do jogo. Como não se programar, já que enviam uma carta junto com os ingressos e também e-mails informando que não se pode entrar nem com água dentro do Parque Olímpico? Ou seja, tudo tem que ser adquirido no local.

Já fiquei sabendo também que existem credenciais falsas. Um jornalista perdeu todo o seu equipamento, pois deixou no setor, com um responsável, mas não era voluntário de verdade. Sabemos que em um evento deste porte imprevistos e problemas ocorrem, mas falta de pessoal na revista, poucos caixas, má sinalização e pouca comida… Isso é básico.

A indignação era tamanha que as pessoas chegaram a fazer fila em frente as equipes de televisão que estavam no Parque fazendo a cobertura da Olimpíada para gravar suas reclamações. Uma senhora chegou a desmaiar, não sei se pelo calor, demora na fila ou por falta de água e alimentação, mas é uma cena, no mínimo, desagradável para qualquer um ver. O que estava ruim piora bastante.

Estou na torcida para que tudo se resolva rápido, para continuarmos fazendo bonito. Sou brasileira e não desisto nunca. Até mesmo porque dia 15 vou para lá.

Isabela Teixeira da Costa