A vila olímpica foi entregue, com reprovação.
Pelo visto o Brasil não estava preparado para receber uma Olimpíada. Tenho que confessar que isso me entristece muito. Porém, se as autoridades falham na construção, infra-estrutura e organização, nós não podemos falhar no que fazemos de melhor: receber bem. Somos acolhedores, simpáticos, receptivos, alegres e temos que demonstrar isso tanto com os mais de 11 mil atletas quanto com os turistas que vierem participar desse grande evento.
Nunca fui aficionada por futebol. Lembro até hoje quando fui ao Mineirão pela primeira vez. Meu pai nos levou, os quatro filhos: Camilinho, Renato, Regina e eu, a caçula. Devia ter uns 8 anos. Era um clássico Atlético X Cruzeiro. Minha mãe não foi e como era cruzeirense vestiu Regina e eu de azul e branco. Para completar fez duas bandeiras grandes da mesma cor e lá fomos nós, animadíssimas.
Quando entrei, fiquei encantada com o tamanho do estádio, e fui olhando em volta e vendo que todo mundo estava de preto e branco. Aí, vi um pedaço pequeno de azul e branco. Durante o jogo eu só queria saber de comer cachorro quente, pipoca, tomar refrigerante e chupar picolé – quase matei meu pai de raiva, porque não conseguiu ver nada do jogo –, mas não esqueço da vibração na hora do gol. As bandeiras enormes do Galo balançando. Tive uma raiva estar de azul e branco. Virei atleticana ali mesmo, e sou até hoje. Mas confesso que não sou de assistir jogos, saber nome de jogadores, etc.
Claro que torço muito pelo Brasil em época de Copa do Mundo, assisto aos jogos, me visto de verde e amarelo, tudo na maior empolgação. Porém, nunca tive o desejo de ir a uma Copa do Mundo. Mas estar em uma Olimpíada… Ah, esse sempre foi o meu sonho. Quando anunciaram que seria no Brasil, vi a possibilidade do meu sonho se tornar realidade e me inscrevi para o sorteio dos ingressos já no primeiro lote. Comprei passagem aérea. Tudo pronto!
Quando meus ingressos chegaram fiquei na maior emoção. Meu colega Ivan Drummond carregou a Tocha e deu uma colher de chá e tanto para os amigos trazendo-a na redação do jornal Estado de Minas. Fui a primeira a carregá-la e fiz questão de tirar uma foto.
Agora, menos de 15 dias para o início dos jogos olímpicos, começam os problemas. Prendem possíveis terroristas. A Vila Olímpica é entregue cheia de problemas e os responsáveis dizem que é natural de fim de obra. Me ajuda, né… Já comprei apartamento na obra, e quando entrei não deu curto circuito, não tinha fio aparente, vazamento de água nem de gás. Que vexame.
A delegação da Austrália de recusa a ficar no local e a Nova Zelândia e Reino Unido também ameaçam não ficar na Vila. E o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em vez de reconhecer os erros, pedir desculpas e dizer que irá mandar arrumar rapidamente, sai com uma pérola irônica e desrespeitosa. Primeiro diz que a vila é “melhor e mais bonita que a de Sidney”, que abrigou a Olimpíada de 2000 e depois de que iria mandar trazer um canguru para ficar pulando na frente deles para se sentirem em casa. Que vergonha de nossas autoridades.
Na mesma hora o porta voz da delegação australiana respondeu que não precisavam de cangurus e sim de encanadores. Eduardo Pães se arrependeu das palavras que disse, deu outra entrevista dando razão aos australianos. Os reparos foram feitos e parece que os atletas – que foram se hospedar em um hotel -, retornam para a Vila, hoje. Outras delegações, mais despachadas ou incrédulas, contrataram encanadores e profissionais para fazerem os reparos e pagaram do próprio bolso.
Continuo na torcida para que tudo dê certo, porque quero muito sentir o clima de uma Olimpíada, sem grandes transtornos.
Problemas à parte, têm uma coisa que vai dar muito certo, ou melhor, já deu. São os Pôsteres Oficiais Rio 2016. Um seleto grupo de 13 artistas brasileiros e sul-americanos foi selecionado para criar os pôsteres que serão comercializados durante os jogos, e entre os convidados estão dois mineiros o artista plástico Alexandre Mancini e o designer Gustavo Greco. Os pôsteres já foram apresentados e ficarão no Parque Olímpico de Deodoro. A peça criada por Greco é metálico e virá nas cores das medalhas olímpicas: ouro, prata e bronze, batizada de Olympic Grids.
Os artistas são: os brasileiros Alexandre Mancini, Antonio Dias, Beatriz Milhazes, Claudio Tozzi, Ana Clara Schindler, do Estúdio Preto e Branco, Gringo Cardia em parceria com Geléia da Rocinha, Gustavo Greco, Gustavo Piqueira, Guto Lacaz, Juarez Machado, Kobra e Rico Lins e a colombiana Olga de Amaral. Para chegar a esses nomes, a cineasta brasileira Carla Camurati, responsável pelo Programa de Cultura das Olimpíadas do Rio, ouviu indicações dos curadores dos principais museus brasileiros (Inhotim, MAC-SP, MAM-RJ, MAM-SP, MAR, MASP, MNBA e Pinacoteca) e contou com a aprovação do Conselho Celebra.
Isabela Teixeira da Costa