Acreditem, jogos de internet nos tornam famosos
Fui reconhecida em um supermercado por causa de um jogo da internet.
Sempre soube que a internet é um mundo novo, que apesar de ter inúmeros recursos, ainda está longe, muito longe de conhecermos todo o seu potencial. Os grandes entendidos no assunto dizem que se pode comparar a um iceberg: nós usamos apenas a ponta que fica fora da água, mas a grande montanha submersa existe e é um mundo desconhecido da grande população. Não duvido.
Outro ponto que também não discuto é como nos expomos por meio das redes sociais. Contamos muito sobre nossas vidas, na maioria das vezes sem perceber. Colocamos fotos dizendo onde estamos, informamos nossas viagens, falamos quando ganhamos algum presente especial, alguma promoção, mudança de emprego e até mesmo o desemprego. Quando abrimos um negócio, começamos ou terminamos um namoro. Falamos de nossa família e até mesmo de nossos bichos de estimação.
Apesar de ser dito que apenas nossos amigos terão acesso às informações, uma centena de pessoas acabam vendo nosso perfil e nossos posts. Se não fosse assim, como determinadas publicações estourariam em visualizações? Dessa forma pessoas, do bem e do mal, vão nos conhecendo quase profundamente. Isso dá margem para muita coisa.
Tem homens que ficam nas redes sociais à espreita de mulheres maduras, independentes, bem-sucedidas, estáveis financeiramente, sozinhas. Descobrem tudo isso só observando perfis. Puxam conversa, se tornam amigos, envolvem-se emocionalmente e não são poucos os casos de mulheres que caem em golpes por se relacionarem com pessoas que conheceram em redes sociais. Mas nem tudo são trevas, sei de alguns casos que deram muito certo. Gente que se conheceu pelo Face book e hoje estão casados, e muito bem.
Gosto muito de joguinhos de computador. Já joguei mais. Atualmente, a falta de tempo me distanciou desse lazer. Sou das mulheres múltiplas, daquelas que, geralmente, fazem duas coisas ao mesmo tempo, então, enquanto assistia TV, jogava no Ipad. Porém, esses momentos de folga foram substituídos pela dedicação necessária ao site, redes sociais e e-mail.
Sempre gostei dos jogos de baralho como paciência e buraco, gamão, aqueles de combinação de cores, tipo Candy Crush. Já tive a fase da fazendinha e a série da Emily de servir clientes, mas gosto muito dos jogos de achar objetos em cenas com muito entulho e de outros de mistério e investigação. Descobri um que reúne as duas coisas, chamado Criminal Case, e eu jogava muito. Inclusive conheci uma prima no jogo.
Não foram poucas as vezes que incluí pessoas no meu rol de amigos por causa dos jogos para ganhar pontos, vidas e energia. Porém, nunca fui de reparar muito nas fotos, e nestes games, na maioria das vezes, criamos um “avatar” para nós. Como sempre fui distraída, passo batida nesses detalhes.
No início dessa semana, fui a um supermercado perto de casa comprar ração para meus cachorros. Quando me dirigia para o caixa, escuto alguém chamando meu nome alto, como uma irmã mais velha chamando a atenção da caçula que fez algo errado. “Isabela! Você não vai mais jogar Criminal Case?”. Levei tanto susto. A mãe da moça deve ter perguntado se ela estava doida, e enquanto respondia a mãe, veio na minha direção, ainda em voz alta, de braços abertos para um abraço, e todo mundo olhando. “É a Isabela Teixeira da Costa, mamãe. Você tem jogar para dar pontos para nós!”.
Olhava para aquela moça tão simpática e buscava em minha memória quem era, ao mesmo tempo que queria rir muito daquela cena surreal. O rosto não me era estranho, mas não tinha a menor ideia de quem se tratava. Nos abraçamos, expliquei que não estava com tempo de jogar, mas saí de lá prometendo que entraria no jogo naquela noite mesmo. Claro que faria isso, tinha que matar a minha curiosidade e descobrir quem era essa amiga tão íntima feita em um jogo de computador. Ri muito no caminho para casa. Assim que pude joguei até chegar o momento de ver os retratos dos participantes e, para meu alívio, lá estava ela: Luciana Sampaio! Minha mais nova amiga de infância graças aos inúmeros crimes de desvendamos juntas.
Uma coisa eu digo, a capacidade de memória da Luciana, normal e fotográfica é invejável. Me reconhecer por causa de uma mini foto de joguinho e lembrar meu nome completo. Alzheimer não vai pegá-la nunca.
Isabela Teixeira da Costa