Às vezes, surgem pedras no meio de nosso caminho e como vamos passar por elas faz toda a diferença.
Muita gente cita a conhecida poesia do mineiro Carlos Drummond de Andrade, No meio do caminho, mas geralmente apenas a primeira estrofe, não sei se a maioria das pessoas conhece toda a poesia que é curtinha e me lembrei de muito dela nesses últimos dias pelo que vivi, por sinal, motivo pelo qual não postei nada ontem.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Na noite de segunda-feira fui lanchar na casa de meus primos Ângela e Gilson, que moram em Montes Claros, desde que se casaram, mas por causa do trabalho acabaram comprando um apartamento em BH e sempre que veem por aqui convidam a gente para um lanche. Ótima oportunidade para encontrar a família.
Esses lanches sempre são ótimos, primeiro porque Ângela e Gilson são bacanas demais, segundo, porque ela é prá lá de engraçada e terceiro porque encontrara com a família é bom demais. Rimos muito, contamos muito caso e lá pelas tantas, comecei a sentir uma dorzinha nas costas, do lado esquerdo.
Achei que tinha dado um “jeito” nas costas porque tinha ficado sentada muito tempo sem mexer, sei lá. Cheguei em casa e coloquei um salompas, porém passei a noite em claro, sem posição. Estava cheia de trabalho na terça, mas em função de ter feito uma cirurgia bariátrica há sete meses, achei melhor dar um pulinho no pronto atendimento para descartar qualquer problema mais sério.
Todo e qualquer problema que tenho de saúde sempre recorri ao Hospital Mater Dei. Digo que lá é o quintal da minha casa, mas agora o jornal mudou o plano de saúde e esse hospital não é mais credenciado, então fui ao Hospital Felício Rocho.
Entrei, e não saí. Não tinha uma pedra no meio do caminho, mas várias. Cálculo renal, de novo. Em 2015, passei por isso três meses seguidos – outubro, novembro e dezembro – e estou vendo que, pelo rumo da prosa, o suplício vai se repetir.
Fui extremamente bem atendida, desde a triagem até a alta ontem, no final da tarde. Fiquei chocada de ver como os acompanhantes (eu estava sozinha na maior parte do tempo) reclamam e incomodam as enfermeiras, e elas na maior paciência. Estou impressionada como o hospital estava lotado. Um dos médicos que me atendeu disse que já estão construindo outra torre. Precisa mesmo. A cidade passa por uma crise de falta de hospitais. O Mater Dei da Contorno, inaugurado relativamente há pouco tempo já vive cheio, o Madre Tereza foi ampliado e sempre está com lotação máxima e no Felício Rocho tinha gente aguardando vaga pra internação. E com todo esse tumulto não vi nenhum funcionário de mau humor ou perdendo a paciência.
O dr. Francisco Guerra e sua equipe me operaram, tiraram os cálculos que estavam bloqueando o rim. Segundo o médico que fez o ultrassom, eram tantas pedras que se fossem esmeraldas eu estava rica. Pena que são cascalhos mesmo. Tiraram o que deu. Estou com o cateter e terei que passar por mais um procedimento para retirar as pedras que estão dentro do rim. É mole?
Tinha planos para este mês. Minha filha, que mora em Anagé está em Vitória (Espírito Santo) fazendo um curso e faz aniversário por esses dias. Estava pensando em fazer uma surpresa e ir lá visitá-la. Infelizmente, esses planos já eram. Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinham várias pedras.
Isabela Teixeira da Costa