Didática para os alunos de hoje

Existe luz no fim do túnel. Já tem escola com uma didática inovadora, fora do tradicional e bem aceita por pais e alunos.

Ilustração Lelis

O modelo de educação está passando por uma transformação no país. A proposta é transformar todas as séries do ensino médio em período integral. O currículo será dividido em duas partes, uma com disciplinas obrigatórias e outra com matérias optativas, escolhidas pelo estudante de acordo com sua área de interesse.

Toda mudança é válida – afinal, o mundo vive em transformação. Nada pode ficar parado no tempo, a questão importante é saber se essas mudanças levarão o jovem a voltar a se interessar pelas aulas. O que está na berlinda é a didática. Mexer no formato do ensino é ótimo, porém, se a didática continuar a mesma, não há resultado positivo.

Vivemos em um mundo acelerado pelas conexões virtuais. Milhares de informações chegam a cada segundo. Adolescentes se conectam a 10 fontes de informação ao mesmo tempo, no mínimo, e conseguem interagir com todas simultaneamente. Será que a pessoa acostumada com tanta agilidade consegue ficar parada por quatro horas e meia ouvindo o professor dar aula expositiva? Não. A cabeça voa longe, não se concentra. Essa preocupação ronda a educação há pelo menos uma década.

Pois o diretor da Escola da Serra, Sérgio Godinho, descobriu um novo modelo de didática, implantou-o há cinco anos e hoje comanda uma instituição-modelo em BH. Desde que assumiu a instituição, em 2003, ele criou o plano pedagógico, que é o mesmo até hoje. Sabia onde queria chegar, mas não imaginava como. O que lhe deu luz foi o livro de Rubem Alves A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir.

O autor relata a história da Escola da Ponte, em Portugal, que há mais de três décadas ensina crianças de uma maneira completamente fora do padrão. O responsável pela metodologia é o professor José Pacheco, que, baseado no construtivismo, desenvolveu o modelo de sucesso, depois de muitos erros e acertos.

Sérgio foi atrás dele, conheceu a fundo o trabalho e o adaptou. Isso mesmo, porque estamos em outro país, temos outra cultura e a Escola da Serra lida com o ensino médio e a pressão para o Enem. É impressionante. Muito antes da criação das nove séries no ensino fundamental, o referido colégio já era assim. O ensino é dividido em ciclos: dois no infantil; três, de três anos cada, no ensino fundamental; e um, também de três anos, no ensino médio.

Não existe aula, mas períodos escolares por áreas afins – língua portuguesa, ciências humanas e sociais, matemática, etc. As salas, bibliotecas com mesas para quatro pessoas, recebem roteiros dos professores e os estudantes fazem pesquisa para desenvolvê-los. A pesquisa pode ser feita nos livros ou em tablets, que ficam à disposição. O silêncio é total. Se começa a ficar barulhento, os professores, sempre à disposição para esclarecer dúvidas, simplesmente levantam a mão e o silêncio volta. É proibido o uso do celular no período escolar, mas a liberdade é total.

No início do ano, é feito o diagnóstico de cada estudante para saber como é seu ritmo de aprendizagem. Cada aluno escolhe um professor como seu tutor, com quem terá reuniões semanais. Prova? Só de matemática. Livro didático de propriedade do aluno? Só o de línguas (inglês ou espanhol), únicas disciplinas com aulas “formais”. Todos os estudantes têm que fazer alguma atividade artística: teatro, dança, artes visuais ou música.

A avaliação se dá para verificar a evolução do aluno com base no acompanhamento diário de seu progresso Esse processo contempla os três campos da cognição ligados à formação de competências: o desenvolvimento de conceitos (conhecimentos), de habilidades (procedimentos) e de valores (atitudes). Se o estudante estiver atrasado em alguma disciplina, o supervisor dá um tempo para que a tarefa seja concluída. O aluno se compromete, estuda por conta própria com orientação do professor, aprende a pensar e a encontrar respostas e soluções.

Isabela Teixeira da Costa

Publicada no Caderno EM Cultura do Estado de Minas

 

Mudança do ensino médio

Iaci com suas alunas. Foto arquivo pessoal
Iaci com suas alunas. Foto arquivo pessoal

A mudança do ensino médio no Brasil está dando o que falar.

O que vai mudar no Ensino Médio no país, que está gerando a maior polêmica? A grosso modo, os alunos poderão escolher algumas matérias de acordo com seu interesse, e outras serão obrigatórias. Aumentará a carga horária e com isso passará a ser integral. Em um primeiro momento, apenas 5% das escolas estaduais.

Segundo o Ministro da Educação, essa mudança só conseguirá ser totalmente implantada a partir de 2018, e está baseada em um projeto criado em 2013. A grande crítica é que o projeto foi feito sem ouvir professores e alunos, maiores interessados e que sabem, melhor do que ninguém, as falhas do sistema atual.

Toda essa mudança teve início com base no desinteresse dos alunos, e essa falta de interesse não passa apenas pelo conteúdo programático, mas sim pela didática. Já falei isso aqui em outros textos. Vivemos em uma época de alta conectividade. Os alunos recebem uma enxurrada de informações por minuto, se comunicam com “trocentos” colegas simultaneamente, é como se estivessem ligados em uma tomada de 360 volts.

Isso não significa que são hiperativos, simplesmente estão inseridos no mundo atual. Um jovem assim não consegue mais ficar 4 ou 5 horas assentado em uma sala de aula ouvindo explanação de professor que, em alguns casos, fica de costas, virado para o quadro, escrevendo.

O professor tem que estar atualizado, inserido no mundo dos jovens, ser criativo. O professor tem que se reinventar. Minha cunhada Jussara Belo tem uma irmã que é professora e coordenadora de Biologia no Sistema Arquidiocesano, Iaci Belo, que está na profissão há 30 anos. Inclusive aposentou e continua trabalhando.

Iaci encontrou o caminho das pedras. Nunca assisti uma de suas aulas, porém, os casos que escuto em reuniões de família é que seus alunos prestam atenção na aula, adoram a matéria, gostam muito dela e sempre fazem homenagem à professora Iaci.

Iaci com os alunos. Foto arquivo pessoal
Iaci com os alunos. Foto arquivo pessoal

Em seu Facebook, Iaci posta aulas interativas e os comentários dos alunos são só elogios. As fotos postas tem comentários elogiosos tanto de alunos como de ex alunos saudosos. Pelo visto, é possível evoluir didaticamente junto com a mudança comportamental dos jovens e da sociedade. Basta querer, amar o que faz, ser competente e criativo.

Nos Estados Unidos os jovens estudam em horário integral, das 8h às 16h, escolhem as disciplinas de seu interesse e elas são práticas, preparando para conseguirem trabalhos, como artesanato em cerâmica, bijuteria, mecânica, marcenaria, culinária, etc. Isso paralelo às aulas obrigatórias. Porém, em todas as escolas existe total infraestrutura para cada uma das disciplinas optativas. Ninguém reclama.

Ensino médio exemplar é na Suécia. Além de ensinar as matérias curriculares, as escolas preparam os jovens para a vida, ou melhor, para viverem sozinhos. Desde os 11 anos, os pequenos têm aulas de culinária, arrumação de casa, aprendem a lavar roupa – que tecido pode lavar junto, em qual fase da máquina de lavar, etc.

À medida que os alunos crescem os ensinamentos evoluem em dificuldade e aprendem a costurar, bordar, até chegar a fazer suas próprias roupas. Os jovens aprendem economia doméstica, marcenaria entre outras disciplinas práticas para a vida e isso tudo não é optativa, mas obrigatória. A matéria que vi sobre o ensino na Suécia estava todo mundo com uma carinha muito boa também.

Será que chegaremos lá algum dia?

Isabela Teixeira da Costa