Doação de órgãos, um ato de amor

Ilustração Lélis
Ilustração Lélis

No Brasil, existem mais 50 mil pessoas à espera de um doador para terem uma nova chance de vida.

Já tive um primo precisando de doação de órgão. Sei como é aflitiva e angustiante esta situação. Ele teve câncer de fígado e ficou por mais de um ano à espera de um doador. Era para ter ficado muito mais, mas, por uma bênção de Deus, reabriu o transplante em Brasília e ele ficou como o primeiro da lista. Depois deste tempo, infelizmente para uma família, um rapaz sofreu acidente de moto, o fígado dele era compatível com meu primo, e o transplante pode ser feito. Isso já faz muitos anos, e ele vive bem e saudável até hoje. Por isso, sou doadora, tanto de órgãos quanto de medula. Sempre que posso, aviso a quem convive comigo. Espero que minha vontade seja respeitada e mais ainda, que quando eu morrer, possa ser doadora, pois não são todas as pessoas que podem doar. Algumas doenças e até mesmo a idade avançada impedem a doação.
No Brasil, existem mais 50 mil pessoas à espera de um doador para terem uma nova chance de vida e esse número, infelizmente, só aumenta a cada ano. Uma das principais causas desse crescimento é a recusa dos familiares em autorizar a retirada de órgãos de um ente querido quando acaba de falecer ou quando é diagnosticado com morte cerebral. O pior é que negam mesmo sabendo que esse era o desejo expresso do doador. Isso representa mais de 44% de possibilidades que são perdidas.
Fico pensando se não seria o caso de cada um se colocar no lugar da família de quem está precisando receber uma doação. Acredito que a postura seria bem diferente. O pior é que isso pode ocorrer com qualquer um. Ninguém sabe o dia de amanhã, nem mesmo o que vai ser de sua vida daqui a alguns minutos. Perdi uma amiga na sexta-feira, vítima de um aneurisma. Ela estava ótima há cerca de 10 dias. Conversamos pela manhã um tempão ao telefone, e, à noite, dirigindo o seu carro, começou a passar mal, encostou o veículo e entrou em coma. Não voltou mais. Dez dias depois, se foi. Quem poderia imaginar algo assim? Uma mulher jovem, cheia de vida.
Em vez do aneurisma, ela poderia ter passado mal e precisar receber um transplante qualquer. Todos estamos passíveis de viver situação semelhante. Ninguém sabe o que será de seu futuro, só Deus. Por isso, penso que as pessoas deveriam agir com maior generosidade.
Sensibilizado com essa situação, o músico e ativista Bruno Saike iniciou uma jornada solitária visando conscientizar um número maior de pessoas e mudar o panorama da doação de órgãos. Nasceu assim a ação #JUNTOSOUTRAVEZ, apoiada pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), que reuniu em um vídeo mais de 130 personalidades, entre elas Cauã Reymond, Emerson Fittipaldi, Paula Fernandes e até Lionel Messi. Todos fazendo gestos simbolizando uma doação, ao som da canção tema Sonho dourado, de autoria de Abel Pintos, e que alcançou mais de 1 milhão de views e foi alvo de matérias em mais de 200 veículos nacionais e internacionais. A ação ganhou proporções mundiais.
Bruno Saike lançou em 2016 a segunda etapa #JUNTOSPARASEMPRE, com a música tema interpretada por grandes nomes da música brasileira como Elba Ramalho, Jorge Aragão, Marcos & Belutti, cantando em inglês e espanhol, com participações de Ivete Sangalo, do maestro João Carlos Martins e do médico Patch Adams – que teve sua história retratada no filme Patch Adams – O amor é contagioso, com Robin Williams. O vídeo conta com a participação de pessoas que viveram ou vivem o drama da espera de um doador.
Tomara que alcance o objetivo, que mais pessoas sejam impactadas e que o número de doações aumente consideravelmente.

Isabela Teixeira da Costa/Interina