Por que o respeito ao pedestre não funciona em Belo Horizonte?
O pedestre quer que os carros parem no meio quarteirão para ele atravessar.
Constantemente me perguntava isso. Sempre invejei – no bom sentido – os países onde carros param para os pedestres atravessarem as ruas com segurança. Acho o máximo da educação e respeito. E tinha certeza absoluta que isso seria algo completamente utópico no Brasil.
Meus avós moravam em Brasília, meu tio e primos também. Por isso, passei muitas férias por lá, na minha adolescência. E sempre voltava lá. Brinquei muito naqueles gramados nas quadras residenciais, já subi muito em árvore – o que era proibido, mas fazíamos assim mesmo. Corrigindo, meus primos subiam muito em árvore. Eu ficava em baixo olhando. Sempre fui gordinha e não dava conta. Podem rir.
Certa vez, cheguei a Brasília para as férias com a minha mesada e fomos ao mercadinho perto da casa da minha vó. Comprei umas faquinhas, tipo canivete, e dei de presente pros primos e pros amigos. Do lado da casa de vó tinha uma árvore que soltava uma seiva leitosa, que virava borracha. Não deu outra, todo mundo subiu na árvore e com as faquinhas começaram a cortar e colher o leite para fazermos bolinhas de borracha para brincar. Tinha um galho bem baixinho que deixaram pra mim. Sentei nele como se monta em um cavalo.
Jogava a faquinha, ela fincava na árvore, eu puxava e o leite escorria. Era uma aventura. Estava no céu, pela primeira vez tinha subido em uma árvore. Tá certo que o galho ficava a um metro do chão, mas pra mim era muito. Sentia como se tivesse escalado o Everest. Minha bolinha estava maior que uma bolinha de gude quando, de repente, em vez da faca entrar na árvore, entrou no meu joelho, arrancou um pedaço e caiu no chão. O sangue jorrava. Chorei demais e não sabia se chorava mais da dor ou do medo do meu avô, porque tinha certeza que ele ia me xingar muito, ou me bater – eu estava sozinha, meus pais estavam aqui trabalhando.
Quando ele viu, ralhou comigo, colocou um algodão com esparadrapo e nos colocou de castigo, porque o que fazíamos era proibido e ele poderia receber uma baita multa. O corte e o buraco que tinha feito no meu joelho foi tão grande que precisaria de pontos, mas a raiva de vô foi tão grande que ele nem pensou nisso. Tenho a cicatriz até hoje.
Contei tudo isso para dizer que em Brasília eles sempre tiveram muito respeito pelos jardins da cidade e pelo cidadão. Tanto é, que há alguns anos o jornal Correio Braziliense lançou uma campanha para que os carros parassem nas faixas de pedestres, quando esses quisessem atravessar. A cidade abraçou a campanha. Deu muito certo. Quando retornei à cidade fiquei impressionada. Se um pedestre chega na faixa e faz sinal, todos os carros param para ele atravessar. Fiquei tão orgulhosa.
Pouco tempo depois começa a mesma campanha em BH. Infelizmente, não pegou com tamanha força, e fiquei me perguntando o por quê. Agora eu descobri. São dois os motivos: o primeiro é porque nem todos os motoristas param, alguns, infelizmente não respeitam os pedestres, porém este é o menor dos motivos, pois se o segundo motivo funcionasse direito, com o tempo esses motoristas mal educados acabariam se rendendo à educação.
O segundo motivo é que os pedestres ouvem o galo cantar e não sabem onde. Eles Esquecem de um pequeno detalhe da campanha: os pedestres têm que atravessar na faixa! Vira e mexe vejo pessoas atravessando no meio do quarteirão, em qualquer lugar, e querendo que os carros parem. Assim não dá. Outros, chegam na faixa e vão atravessando sem sinalizar, o que também fica bastante perigoso. E ainda têm aqueles que, em esquinas com sinal, que mesmo com o sinal fechado para eles e aberto para os carros, querem que os carros parem para eles atravessarem. Não é assim que as coisas funcionam. Quando existe sinal, é ele quem comando o trânsito.
Enfim, basta bom senso e respeito às leis que, com certeza, a campanha de respeito aos pedestres funcionará por aqui também.
Isabela Teixeira da Costa
1 Comentário para "Por que o respeito ao pedestre não funciona em Belo Horizonte?"
Pois é Isabela, funciona assim mesmo aqui em BH, e com outras variáveis. Primeiro, o órgão responsável por regular o trânsito em Belo Horizonte sempre esteve em descrédito com a população, acho que por isso a campanha não “colou”. Segundo, vejo isto funcionar nas proximidades de escolas, no horário do entra e sai dos alunos. Fora isto, algumas raras vezes. Sou praticante desta gentileza urbana, mesmo sabendo que corro o risco de uma batida na traseira, ou de apressados/atrasados buzinando. Quem sabe um contágio social?!