Crianças do século 21

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Giovana Rohlfs Vasconcelos de Oliveira

Tomar conta de crianças do século 21 não é nada fácil.

No sábado, o Walace Soares e alguns amigos fizeram uma grande festa em Escarpas. Quando eu falo grande, é grande mesmo. Ele queria fazer uma festa para mil pessoas, mas os amigos foram pedindo para levar outros amigos ele foi deixando, e o que era para mil acabou virando para 4 mil. Acho que Escarpas inteira estava lá.

Os filhos de Adriana e Elói decidiram ir e claro que nos dispusemos a ficar com as crianças. Eles iam só dar um passadinha lá. Não tínhamos dúvida que tiraríamos de letra, afinal, tinha a babá do Breninho, Larissa, a Ana Silva, que está com a Adriana desde quando seu filho mais velho nasceu, a filha dela Laura, Adriana, Elói, Neil, Cláudia e eu.

Oito babás para três bebês. Estava no papo. Um menino de 1 ano e 10 meses, uma menina de 10 meses e um recém nascido de 1 mês. Tranquilo. Os pais saíram deixando tudo no esquema. Que horas que toma a mamadeira e como prepará-la, que horas que dorme, como fazer dormir, remédio para gases e febre, como tirar temperatura. Isso mesmo, agora não é mais na base do termômetro debaixo do braço, como fazíamos com nossos filhos, nada disso. Agora tem uma maquininha digital, que encosta na testa e em segundos mostra a temperatura.

Tudo calmo. Breninho brincando com massinha, Giovana deitada no carrinho, Guilherme dormindo. Foi os pais saírem que o show começou. Breninho resolveu que comer massinha era mais gostoso do que a gelatina, e nada que falássemos ou fizéssemos mudaria a vontade dele. Nem o vovô, que é a paixão da vida dele conseguiu fazer o pequeno entender que massinha faz dodói na barriga. O jeito foi levá-lo para o banho e desviar sua atenção para tirar a massinha de seu alcance. Claro que isso não foi sem choro.

Guilherme acordou e começou a chorar, e a Gigi, que estava tão quietinha no carrinho, do nada abriu o berreiro também. Pronto, está montado o circo dos horrores. Três crianças chorando e a gente não sabia o que fazer. Adriana com Guilherme, Larissa com Breninho e Cláudia e eu com a Gigi.

Elói e Neil preferiram ir para a sauna, era mais relaxante. E para nossa alegria Ana Silvia apareceu. Foi a salvação com a pequena Giovanna que quando foi para seu colo acalmou. Fomo socorrer a Adriana com o Guilherme que não parava de chorar, e pedimos que Larissa trocasse de função, deixasse a gente dar banho no Breninho para ela tentar fazer Guilherme dormir. Em dois minutos o bebê acalmou e ela mesmo deu banho e fez o Breno dormir.

Pronto, a paz reinou. Por 10 minutos. Giovana só queria saber de brincar e Guilherme acordou. Os olhinhos arregalados como nunca vi em um bebe de um mês. Alguém me explica? Crianças do século 21 nasceram com um chip a mais, ou melhor, dois. Nunca vi coisa igual. Só eu devo ter andado uns quatro quilômetros dentro da casa empurrando Gigi no carrinho, e nada dela dormir. Entregamos para Deus. Espalhamos brinquedinhos no chão e deixamos ela se esbaldar, não sem antes ela mandar bala em uma mamadeira bem cheia.

Gui ficou rodando de colo em colo, com pequenas crises de cólica. Às 22h30, o sono venceu Gigi que capotou e quase levou Ana Silvia junto. Os pais chegaram logo em seguida e encontraram as crianças calmas e as oito babas acabadas, totalmente destruídas pelos três pequenos valentes. E caíram na gargalhada, sem antes deixar escapar “para vocês verem o que a gente passa”.

Fiquei pensando se algum dia for avó, o que será de mim e do meu neto. Só rindo, ou chorando. O bom foi que entre mortos e feridos salvaram-se todos.

Isabela Teixeira da Costa

  • Primeiro uma dica, esta barra das guias atrapalha a leitura quando rolamos o mouse. Eu nasci no interior, minha mãe se casou aos 17 meu pai 35. Aos 20 anos de idade ela já tinha 3 filhos criados no que chamava de terreiro, brincando com bonecos de chuchu e gravetos de plantas. Era tipo um sítio e havia muito espaço de terra para correr e brincar enquanto ela cuidava de animais, porcos, gado de leite, cuidava da casa, roupas de trapos, nem modees existia, lavava, o banho era na bacia, somente os pés , banho completo somente aos sábados. Ferro de passar era à brasa de fogão e eletricidade surgiu na cidade somente na década de 1960. Não existia o plástico. Alimentos básicos feijão,fubá eram armazenados em sacos de linhagem. Não sobrava tempo para cuidar das crianças, elas cuidavam umas das outras. Resumindo hoje é um inferno criar filhos em apartamentos. A saída é escravizá-los em vídeos e celulares. Moral da história em meio século o mundo progrediu as tecnologias de modo assustador e não se sabe o que será do futuro que hoje se faz como diz Roberto Carlos na canção.

  • Cara Isabela. Realmente cuidar dos filhos requer atenção e educação. Pelo que vi na reportagem, estas crianças devem ficar o dia todo com as babás, correto? Se for isso, quem as educa principalmente, são elas. Então é difícil mesmo de entender a fundo o comportamento de cada criança, e saber individualmente como ajudá-las a compreender o que deve e o que não deve ser feito. Se os pais veem as crianças apenas a noite, fica difícil, não é mesmo?

    • Não, você teve um impressão bem errada. Essas crianças ficam com as mães, que por sinal, são excelentes mães, dedicadas e entregues a seus filhos e contam com total apoio e parceria dos pais, que também são nota 10. Fiquei impressionada, por sinal, os pais de hoje cuidam muito mais dos filhos do que os mais da minha época. Trocam fralda, dão almoço. Não lembro do meu pai ter feito isso comigo, e nem o pai da minha filha com ela. Apenas o casal que está com o bebê recém nascido é que tem uma babá, já que tanto o pai quanta a mãe trabalham (não agora porque ela está de licença maternidade), mas com um bebê de um mês e outro de 1 ano e 10 meses, é preciso uma ajuda extra. O que percebi é que as crianças de hoje, são mais espertas, mais ativas. Quando minha filha nasceu, há 28 anos, um bebê de 1 mês ficava enrolado em cueiro e manta, dormia praticamente o tempo todo, chorava para mamar, quando estava sujinho ou em caso de cólica. O bebê de um mês, ficava acordadinho com olhinhos arregalados, atento a tudo. E o cueiro foi abolido há anos, menino recém-nascido hoje fica só de roupinha.

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