Mau hálito, ô coisa chata
Tem coisa pior do que mau hálito?
Na minha opinião, é uma das piores coisas, pois não há como escapar de seus efeitos. Afinal, temos que conversar com as pessoas. Quando chega alguém com aquele hálito terrível, sentido a quilômetros de distância, como fazer? Geralmente a pessoa não percebe e não tem desconfiômetro. E não dá para avisá-la. Oferecemos bala ou chicletes – artifícios que tenho sempre em mãos, até mesmo para uso próprio –, mas ela não aceita. À medida em que vamos conversando, viramos o rosto e nos afastando, mas a pessoa vai virando junto, chegando mais perto. Desesperador. Sem falar nos interlocutores que conversam soltando perdigotos, dá vontade de abrir um guarda-chuva na frente deles. Socorro!
Certa vez, combinamos, entre amigas, avisar umas às outras caso alguém tivesse mau hálito. Afinal, amiga que é amiga não deixa a outra pagar mico. Sempre sobra para mim, que tenho mania de ser sincera. Estávamos em uma reunião, muitas pessoas conversando e percebi que uma delas tinha o problema. Não poderia deixá-la naquela situação. Se fosse comigo, não gostaria que me deixassem “feder no nariz dos outros”. E lá fui eu, amiga até debaixo d’água, avisar. Toda jeitosa, pois, por mais íntima que a gente seja, não dá para ir de supetão. Dizer “você está de mau hálito” ofende né?
Chamei-a em particular e disse, no meio da conversa: “Aqui, seu hálito está um pouco forte”. Ofereci a bala e continuei: “se fosse você, procuraria um dentista, pois pode ser gengiva, língua, etc”. Resposta imediata: “Não estou não, fui no dentista outro dia mesmo. Deve ser porque estou de estômago vazio”. Aí, percebi que as pessoas não querem a verdade. Nunca mais aviso ninguém, só se for minha filha ou irmã. Os outros, deixo para lá.
A dentista Ana Carolina Martinez informa que a halitose – alteração do hálito – é muito comum: 90% dos casos ocorrem por problemas dentro da boca. “Um deles é a falta de higienização dos dentes e da língua”, explica. Há diversos tipos de halitose: a fisiológica, mau hálito ao acordar, que some logo depois da higienização; por medicamentos, causada por tranquilizantes e diuréticos, que contribuem para a diminuição da saliva; a alimentar, temporária, ocasionada pela ingestão de alimentos como alho, cebola, jejum prolongado e bebidas alcoólicas.
Há também a halitofobia. Nesse caso a pessoa apresenta alteração no olfato e passa a acreditar que tem mau hálito, embora ele seja imaginário. O estresse também pode causar o problema. “O corpo reage liberando adrenalina, que interfere na produção de saliva e gera mau hálito”, explica a dentista.
Problemas renais e diabetes mellitus também podem provocar mau hálito. Porém, é muito dizer que problemas estomacais são causadores do odor desagradável na boca. A grande vilã é a língua, que acumula micropartículas de alimentos – quando a pessoa passa muito tempo sem se alimentar, esses resíduos acabam exalando odor. Nem todo mundo higieniza a língua com a frequência necessária, porque isso pode ser desagradável. Mas lembre-se: é fundamental.
As dicas para contornar o problema são simples: mascar chicletes sem açúcar para aumentar a produção de saliva; usar o fio dental diariamente, principalmente à noite; escovar os dentes adequadamente; higienizar a língua. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)
Crônica publicada no Caderno EM Cultura, 8/2/16, na coluna da Anna Marina
2 Comentários para "Mau hálito, ô coisa chata"
Texto de quem nunca teve o problema. De uma insensibilidade imensa. A pessoa que tem sofre bastante e não, não é nada simples resolver com balas ou escovando os dentes. Mts pessoas que tem o problema ao longo do tempo escovam os dentes até melhor que a média, pois se iludem que isso irá dar jeito. Procuramos médicos, dentistas, remédios e todo tipo de solução e nada resolve. Acabamos sozinhos e julgados por pessoas com ideias vazias e sem qualquer empatia como essas desse texto.
Rei, desculpe a demora em responder, mas gostei muito do seu comentário. Só para esclarecer, já tive mal hálito, não um crônico, mas resolvi bem o problema com o uso constante do fio dental e da escovação da língua. Mas você foi a primeira pessoa a dizer da busca por solução e da dificuldade em sanar o problema. Não sei se é você que passa ou pe=assou pelo problema, ou alguém próximo, mas gostaria muito que contasse o que já foi feito, sem sucesso, os remédios indicados pelos médicos e o que eles alegam com o insucesso do tratamento. Acredito que isso seria de muita ajuda e esclarecimento, tanto para mim, quanto para os leitores. Obrigada.