Labirintite atinge muita gente

labirinto2Quem já teve crise de labirintite sabe como é desagradável ficar tonto, que nem um peru pronto para o abate.

Não sei quantos se lembram disso, mas quando era pequena e íamos para a fazenda, davam cachaça para o peru até ele ficar bêbado, antes de matar o bicho para assá-lo no dia seguinte. Diziam que era para amaciar a carne, que além de dura é muito seca. Soltavam o peru no terreiro e ele zigue-zagueava de tão bebum que estava. Nós, crianças, ríamos muito, sem pensar no trágico fim da ave.

Voltando para a labirintite, quando deitamos, o mundo roda. Quando estamos de pé, ficamos sem prumo. Parece que pisamos em falso. É muito desagradável. Na atual edição do MasterChef Brasil, o mineiro Guilherme Joventino deixou o programa porque teve uma crise de labirintite. Um dos colegas disse que cozinharia até sem uma mão. Ele nunca deve ter tido a doença ou não diria tal asneira. Se Guilherme insistisse poderia ficar sem um dedo ou colocar fogo em alguma coisa.

Pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) constatou que cerca de  33% da população brasileira sofre de tontura – a labirintite está nesse meio. A tontura é uma ilusão de movimento e representa todos os tipos de desequilíbrio corporal, como vertigem, instabilidade, desequilíbrio, flutuação, sensação de queda ou desvio ao andar. É um sintoma desagradável por si só, mas ainda piora quando se associa a náuseas, vômitos, zumbido, perda auditiva ou sensação de ouvido tampado.

Muitos acham que tontura é igual a labirintite: isso é um mito. Labirintite é inflamação do labirinto, que é a região interna do ouvido, por bactérias ou vírus. Portanto, nem toda tontura é labirintite. O nome correto das tonturas causadas por problemas não infecciosos do labirinto é labirintopatias. Com esse nome complicado, as pessoas acabam chamando pelo mais fácil e comum.

Para a médica Tanit Ganz Sanchez, pesquisadora pioneira dos estudos sobre o zumbido no ouvido no Brasil, a labirintopatia é semelhante ao zumbido, que acomete cerca de 24% da população. “Ambos podem aparecer juntos e serem causados pelos mesmos problemas, como os erros alimentares – ingestão frequente de doces, cafeína ou gorduras –, problemas de circulação causados por diabetes, pressão alta ou colesterol; efeito colateral de medicamentos, estresse, problemas na coluna cervical ou na mastigação, entre outros. Além disso, uma pessoa pode ter duas ou mais causas associadas de tontura, portanto, precisaria de uma investigação médica detalhada”, complementa a otorrino.

Outro mito é que tontura é coisa de idosos. A verdade é que pode ocorrer em qualquer idade, inclusive em crianças e adolescentes. Nos idosos é mais complicado por causa do risco de quedas, que pode trazer consequências desastrosas. “Nas crianças, a labirintopatia é mais disfarçada e se manifesta como medo do escuro ou de altura, dores de barriga sem causa aparente, falta de atenção e concentração na escola ou recusa de brincadeiras que precisam do equilíbrio: bicicleta, pular corda ou elástico, amarelinha, parque de diversões etc”, explica Tanit.

Outro mito é em relação ao tratamento. Muitos pensam que a solução está apenas em um medicamento. Para a médica essa é uma das principais verdades que a população ainda precisa aprender. “Apesar de alguns medicamentos serem muito úteis para cortar as crises de tontura e restabelecer a qualidade de vida, corrigir as causas é fundamental para diminuir a recaída. Dependendo da causa, o melhor tratamento pode ser a correção de hábitos alimentares, o uso de medicamentos ou algumas manobras posturais. Nos casos mais difíceis, indicamos a reabilitação vestibular, que é uma sequência de exercícios específicos para recuperação do equilíbrio. Em paralelo, direcionar o paciente para um estilo de vida saudável (alimentação equilibrada + atividade física regular + controle de estresse) também costuma ser muito benéfico para o tratamento e prevenção”, finaliza.

Isabela Teixeira da Costa

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