A arte de conviver
O convívio com o outro pode ser complicado, mas a diferença é que faz a vida ser interessante.
Por que o ser humano é tão complicado? Não fomos criados para viver sozinhos, portanto, devemos nos relacionar. Se esse é o curso natural da vida, era de se esperar que os relacionamentos – e não estou me referindo a relacionamentos amorosos – deveriam ser mais fáceis.
Sei que cada um tem suas peculiaridades e particularidades, e é exatamente isso que faz a vida e os relacionamentos serem interessantes. Já pensou se todo mundo fosse igual? Seria chato demais. Pareceríamos robôs, seria como nos relacionar com a gente mesmo. O que dá colorido à vida são as diferenças de personalidade, temperamento, gosto e até mesmo a carga emocional que cada um carrega consigo mesmo, fruto da educação recebida e da história vivida ao longo da vida – inclusive das marcas que essa história deixou em cada um.
O que me deixa intrigada é ver como algumas pessoas são pesadas. A vida é tão curta, seria muito mais fácil vivê-la de maneira mais alegre. Tudo seria mais fácil e leve. Por exemplo, na vida acabamos cruzando constantemente com pessoas que, apesar de nunca sermos apresentados a elas, acabam se tornando conhecidas. São pessoas com quem cruzamos diariamente na padaria, no prédio onde trabalhamos, o vizinho que raramente vemos, ou aqueles com quem nos encontramos na porta do colégio.
Com esses conhecidos tomamos uma atitude civilizada, cumprimentando-os sempre que cruzamos com eles. “Bom-dia, boa-tarde, boa-noite.” Em alguns casos, chegamos até a perguntar como estão, a desejar um bom dia de trabalho. Nessas horas, percebemos a peculiaridade do comportamento humano. Algumas pessoas respondem, outras não; algumas acenam com a cabeça, outras são mais abertas e chegam a trocar algumas palavras. Normal.
Fiquei sabendo de uma coisa que me chocou. Uma psicóloga, que trabalha no prédio de um amigo, deixou um aviso na portaria proibindo todas as pessoas de cumprimentá-la. Alguém já ouviu absurdo maior? Você está proibido de me cumprimentar! Principalmente partindo de uma psicóloga, que tem como profissão ajudar as pessoas a resolver seus problemas de relacionamento. Dessa aí quero distância.
Fiquei imaginando a cena. Se cruzar com ela no corredor, tenho que fingir que não a vi. Eu entrando no elevador, várias pessoas lá dentro e a dita-cuja também, aí vou dar bom dia e tenho que falar: “Bom- dia a todos, menos pra você”… Ou viro de costas para ela e falo bom-dia para os outros? E se alguém se esquecer da “ordem proibitiva” e cumprimentá-la? Será agredido ou ela vai chamar a polícia?
É por conta de gente assim e dessa dificuldade de se relacionar pessoalmente que, a cada dia, mais pessoas estão preferindo viver na superficialidade dos contatos virtuais via redes sociais. É mais fácil mandar parabéns pelo Facebook do que dar um telefonema, ou mandar mensagem com sua opinião do que marcar um encontro e bater papo cara a cara, mesmo que a conversa possa provocar alguma discussão. E daí? Depois tudo se resolve. O importante é conviver, não perder o relacionamento presencial, porque ele faz bem para a alma.
Pergunto a mim mesma o que leva uma pessoa a não querer receber um simples bom-dia acompanhado do sorriso de um outro ser humano. Uma atitude tão simples e rápida que dá um novo colorido ao nosso dia. Deve ser uma pessoa muito de mal com a vida.
Isabela Teixeira da Costa
1 Comentário para "A arte de conviver"
É necessário colocar tons de relacionamento em nossa vida: algumas pessoas serão como os tons sóbrios, outros exuberantes, encontraremos tons esmaecidos e outros bem marcantes! É a pluralidade desses tons que dão à nossa vida uma cor mutante e nova. Mais pessoas que agreguemos, maior será a cartela de cores e possibilidades!