A força do ser humano

Fico encantada e surpresa com a força que vejo nas pessoas para enfrentarem os problemas e dificuldades da vida.

Convivo com muitas pessoas, inúmeras, por sinal. E conversa vai, conversa vem, alguém acaba contando alguma coisa de sua vida e, mesmo sem querer, revelando uma força que, muitas vezes, nem elas mesmas sabem que têm.

Sei que não é assim com todas as pessoas. Fico impressionada com a quantidade de gente que é acomodada, não faz nada, só fica no canto, insatisfeita, murmurando em vez de se mexer e ir à luta para mudar a situação. E não me refiro apenas às questões financeiras, mas a elas também.

Estou me referindo aos problemas matrimoniais, financeiros, de saúde, de relacionamento com filhos, pais, empregos. Enfim, todas as áreas da vida que levam o ser humano a um sofrimento e insatisfação tão grande e em vez de lutar e mudar, parece que entra em uma bolha catártica (se é que essa expressão existe) e vive ali quase como um zumbi.

O casamento está péssimo, mas é incapaz de chamar o marido ou a mulher e conversar exaustivamente e acertar os ponteiros, buscar uma ajuda profissional, ou seja lá o que for. Alguns pais veem um filho se afundar na bebida ou nas drogas, sofrem profundamente com isso, mas assistem a autodestruição, em sofrimento, sem tomar uma atitude drástica para tirar o filho dessa situação. Algumas pessoas estão extremamente insatisfeitas com o emprego, mas não procuram outro. Conheço várias pessoas que saíram do emprego durante esta crise e se descobriram em uma nova atividade. Estão mais felizes e realizados. Isso, só para citar alguns exemplos para que entendam do que estou falando para não ficar no abstrato. Sei que atitudes assim não são propositais, penso que seja um tipo de fraqueza. Não sei, não sou psicóloga.

Por outro lado, encontro exemplos de bravura que me encantam. Vou me dar o direito de resguardar os nomes. Tenho uma amiga de quem gosto muito. Infelizmente, por excesso de trabalho de ambas as partes, não convivemos tão próximas como eu gostaria. Ela é linda, delicada, inteligente, excelente profissional. Há pouco tempo fiquei sabendo que ela teve um câncer e enfrentou tudo sozinha. SOZINHA. Isso mesmo, não contou para a mãe, irmã, marido, nenhuma amiga. Tratou sozinha, enfrentou a angustia, sofrimento, quimioterapia, dores, mal estar, tudo, sozinha, só ela, o médico e Deus.

Só contou depois de alguns anos do problema resolvido, com a melhor carinha do mundo, sem nenhum arrependimento de ter feito dessa forma. Fiquei impressionada com sua força. Até porque o sofrimento do câncer vai muito além do físico, e todo mundo que já conviveu com alguém que teve a doença sabe bem do que estou falando. No caso dela foi mais fácil esconder o fato porque a quimio não provocou a queda dos cabelos, mesmo assim, isso não torna o sofrimento menor.

O que mais me surpreende é que sempre que toma conhecimento que alguma amiga está doente, é a primeira a ligar e mandar mensagem oferecendo ajuda, companhia e ainda por cima manda comidinhas gostosas como uma canja ou um bolo, para aquecer o coração da gente.

Tenho outra amiga que também é um exemplo. É bem casada, tem dois filhos e um deles é autista. Ela e o marido, desde que o menino entrou na adolescência tomaram várias medidas legais para garantir pensão vitalícia para ele, e agora ela acaba de se aposentar, antes da hora, para evitar que possíveis mudanças na lei da aposentadoria possa prejudicar o futuro do rapaz. Quando interditaram o filho, o juiz perguntou o motivo e ela explicou claramente que era para garantir o sustento dele quando eles – os pais – faltassem. O juiz elogiou a atitude dos pais dizendo na maioria das vezes os pedidos de pensão para incapazes só são requeridos depois da morte dos pais e que isso é moroso e trabalhoso.

Imagino como não deve ter sido difícil interditar um filho e, ainda em uma idade ativa e produtiva, abrir mão de seu trabalho, que sei bem que é algo que ela amava fazer. Só para registrar, ela atuava em uma área que não permite continuar trabalhando depois que se aposenta.

É disso que estou falando, garra, força, fazer a diferença na sua vida. Lutar sozinha, ou não, mas não ficar acomodada, murmurando.

Isabela Teixeira da Costa