Nova “brincadeira” entre adolescentes humilha e machuca colegas
O que leva jovens e adolescentes a cometerem atos que trazem consequências graves? Em 2017, foi a vez do boom do jogo virtual Baleia Azul, no qual os jovens se inscreviam, recebiam diversos desafios e iam cumprindo cada um deles, secretamente, desde coisas bobas, a se cortar e por fim, tirar a própria vida. Agora, a brincadeira da vez nas escolas é o chamado “Quebra crânio”, “desafio da rasteira” ou “roleta humana”, mas de brincadeira não tem nada. É uma sacanagem que dois amigos ou amigas – porque tem muita menina participando também – colocam um terceiro entre eles, pedem ao terceiro para dar um pulo, e quando este salta os outros dois passam uma rasteira nele fazendo com que ele caia de costas no chão.
Já ocorreram vários desmaios por causa de batidas de cabeça, e uma jovem já morreu por causa de um traumatismo. O pior é que esta agressão covarde, que é filmada e postada na redes sociais por centenas de adolescentes, já está sendo feita dentro de casa. Em um dos vídeos, dois rapazes fazem a “pegadinha” com a mãe, que cai desacordada e eles ficam rindo. Segundo psicólogos, essas atitudes na adolescência são consequência da infância e do fato de os jovens estarem sozinhos.
Denise Lellis, PHD em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, explica que é uma atitude que ultrapassa os limites do bullying e passa ser uma agressão física, que denota em uma total falta de empatia e de preocupação, tanto com o bem-estar emocional como com o bem-estar físico um do outro. E alerta que isso pode ser uma consequência do estilo tóxico de vida ao qual as crianças têm sido inseridas. “Não é falta de palmada, mas falta de presença”, alerta Dra. Denise.
“Quando crianças e adolescentes assistem a esse tipo de vídeo e saem repetindo a atitude, é porque não tem um adulto para dividir e trocar ideia, e é aí que nasce e mora o perigo. No momento, o foco está nas vítimas, com os que são machucados fisicamente, mas é preciso olhar para os adolescentes que estão fazendo isso, pois o futuro deles está em jogo. Quem serão esses adultos que agridem sem se preocupar com o outro? A adolescência é consequência da infância”, comenta a pediatra.
A Dra. Denise conta que há muitos comentários culpando a geração, que não é resiliente, que não tem desenvolvimento emocional. Mas, segundo ela, isso começa na infância e pelos pais. “Os pais têm a oportunidade de impedir que esse tipo de comportamento agressivo aconteça por meio da presença. Pais que assistem a esse tipo de vídeo junto com seus filhos e trocam ideias com a criança e criticam esse tipo de atitude estão agindo de maneira preventiva”, explica a especialista.
Para famílias que já têm filhos adolescentes e que viram esses vídeos, o conselho é chamar para uma conversa e tentar ajudá-los a se colocar no lugar de quem pode se machucar. Os pais devem também orientar e alertar o filho, já que ele também pode ser a vítima. Nesse caso, é importante que se converse de forma clara e verdadeira para que não se crie um pânico em relação aos amigos. “Essa geração não é culpada, mas sim vítima, porque está sozinha. A internet tem conversado muito mais com crianças e adolescentes porque estamos permitindo que isso aconteça. Porém, muita atenção, porque a internet também não é a vilã. O vilão é o estilo de vida. Estamos deixando os nossos filhos a mercê de quem quiser falar com eles. Um bom indicador é: se a criança não pode andar na rua sozinha, então ela também não pode ficar na internet sozinha”, enfatiza Denise.
Também é uma oportunidade para as escolas, a partir desses fatos, alertar e trabalhar o cuidado com o outro e a empatia, já que a criança que passou pela situação se machucou não só fisicamente, mas emocionalmente, podendo se sentir humilhada e constrangida. É uma violência infinita. “Meu último recado é: pais, aproveitem essa oportunidade para dialogar com seus filhos. Não se deve procurar culpados, mas se abrir ao diálogo, independentemente da idade da criança”, diz a pediatra.
Isabela Teixeira da Costa / Interina