Violência doméstica contra a mulher

Imagem divulgação
Imagem divulgação

Saiba como reconhecer uma mulher que está sendo agredida e ajude no combate à violência doméstica.

Hoje, no Brasil, a violência contra a mulher, em suas diversas formas, faz uma nova vítima a cada 20 minutos, o que coloca o País como quinto colocado no horrendo quadro dos países no ranking de feminicídios. Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil o índice de mortes de mulheres, vítimas deste tipo de incorrência, é de 4,8 para 100 mil mulheres. Dados de 2016 da Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), apontam que de 67.962 relatos de violências, 67,63% ocorreram em um relacionamento heterossexual – em 41% dos casos, a relação durava há mais de dez anos, e em 39,34%, a violência é diária.

Na última edição do reality show BBB o participante Marcos, cirurgião plástico, foi eliminado do programa pela produção por agredir outra participante, a Emily, com quem estava tendo um relacionamento amoroso na casa. Vi, pela internet, a cena dele acuando a menina contra a parede, com o dedo em riste em seu rosto, e gritando com ela. Isso já é agressão psicológica. Fiquei sabendo que uma delegada abriu o processo porque a menina reclamou que seu pulso estava doendo e que o rapaz a teria beliscado. Atualmente, não é mais necessário uma mulher prestar queixa, se ficar configurado agressão a polícia pode agir por conta própria.

De acordo com Sarah Lopes, psicóloga do Hapvida Saúde, “geralmente o agressor é uma pessoa covarde, que se apega à fragilidade emocional que a mulher está passando naquele momento, sabendo que, física e emocionalmente, pode dominar a vítima. Frequentemente, o agressor percebe alguma dependência nas mulheres, seja ela financeira ou até mesmo emocional, e aproveita-se disso para agredi-la, sem que sofra maiores consequências por conta de sua relação de dominação. E além das marcas físicas e sociais, as violências psicológica e emocional podem ter consequências ainda mais graves e limitantes para a vítima, isto por ser uma violência silenciosa, em que somente é possível perceber seus danos ao longo do tempo, dificultando ainda mais os possíveis reparos e superações”.

Mas como identificar uma possível vítima de violência, principalmente aquela sofrida dentro do lar? Segundo a psicóloga, algumas atitudes podem revelar a vítima de violência doméstica. “As mulheres que sofrem este tipo de violência se tornam mais reclusas, isoladas socialmente, apresentam comportamento diferenciado na frente do agressor, demonstram tristeza ou comportamento depressivo, evitam convívio com familiares, começam a falar menos sobre sua vida cotidiana, especialmente sobre seu relacionamento, ausentam-se do trabalho ou sentem-se desmotivadas, de forma geral”, destaca Sarah.

Qualquer pessoa que saiba ou desconfie de que uma mulher está sofrendo qualquer tipo de violência, pode ser o denunciante, facilitando muito a erradicação deste tipo de agressão em âmbito nacional e global, levando-se em consideração que a agredida, muitas vezes, está sendo coagida pelo agressor. “A maioria das agredidas sente-se sozinha e sem o apoio de alguém que represente segurança em sua vida ou é refém da crença machista de que é necessário suportar todo tipo de agressão, pois seria ‘merecedora’ da violência doméstica perpetrada pelo agressor. Por isso, a família deve, sem dúvida, apoiar a vítima sempre que necessário, deixar claro que os medos dela são infundados”, finaliza a psicóloga.

Isabela Teixeira da Costa

10 anos da Lei Maria da Penha

Maria da Penha
Maria da Penha

No dia 7 de agosto a Lei Maria da Penha completou 10 anos.

De acordo com dados do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo (obtidos por meio do disque 180) cerca de 37% dos casos relatados são frutos de relação agressiva há mais de dez anos. Das mulheres que procuraram ajuda, 11% revelaram que o relacionamento tinha menos de um ano. Para agravar os casos, 65% das agressões acontecem na presença dos filhos, sendo que em 17% desses casos, as crianças também acabam sofrendo com violência física. A violência doméstica contra a mulher é um crime gravíssimo, que envolve questões emocionais e socioeconômicas profundas, o que dificulta a denúncia.

Um ato de grande covardia, quando o homem usa de sua superioridade de força física e prepotência para humilhar, amedrontar e machucar e em alguns casos até mesmo matar a mulher. E faz de tal forma e com tanta ameaça que leva a mulher a ficar com medo de denunciar a agressão sofrida.

“Diversos fatores podem ser apontados para explicar a relutância de muitas mulheres em denunciarem seus agressores, tais como o medo do agressor, a dependência financeira, a dependência afetiva, o desconhecimento de seus direitos, o sentimento de impunidade, a preocupação com a criação dos filhos, dentre outros que se enquadrem no chamado ‘ciclo da violência doméstica’. Todos esses fatores exemplificam e evidenciam a já mencionada situação de vulnerabilidade da mulher nos casos de violência doméstica”, explica a advogada e especialista em direito de família, Regina Beatriz Tavares da Silva.

A Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006, para coibir e punir com mais rigor atos de violência contra a mulher. Ela leva o nome da farmacêutica bioquímica Maria da Penha Fernandes que, aos 38 anos, além de sofrer agressões físicas do marido e pai de suas duas filhas, Marco Antônio Heredia Viveros, foi atingida por ele com um tiro que a deixou paraplégica.

Por mais que Maria da Penha estivesse acostumada com as explosões de fúria de Marco Antônio, seu marido na época, ela custou a acreditar que aquele disparo tinha sido feito pelo pai de suas filhas. A agressão sofrida por ela em meados de 1983, deixou outro legado além da lei, o livro Sobrevivi… Posso contar, onde relata tudo o que sofreu.

Capa do livro
Capa do livro

“Acordei de repente com um forte estampido dentro do quarto. Abri os olhos. Não vi ninguém. Tentei mexer-me, mas não consegui. Imediatamente, fechei os olhos e um só pensamento me ocorreu: “Meu Deus, o Marco me matou com um tiro”. Um gosto estranho de metal se fez sentir, forte, na minha boca, enquanto um borbulhamento nas minhas costas me deixou ainda mais assustada. Isso me fez permanecer com os olhos fechados, fingindo-me de morta, porque temia que Marco desse um segundo tiro.”
Fico pensando o terror que ela viveu. Estava dormindo, acorda com o barulho de um tiro e percebe que foi nela, do nada. E tem que se fingir de morta para não levar outro tiro.

Para se criar a lei demorou 23 anos desde o dia que Maria da Penha levou o tiro. Porém ela não desistiu, mesmo paraplégica continuou lutando para evitar que o mesmo acontecesse com outras mulheres no Brasil. Sua luta por justiça foi árdua, mas hoje, aos 71 anos, sabe que não foi em vão, pois deixou uma lei que funciona. Que ajuda centenas de mulheres e também conscientiza homens. Ocorreu uma mudança, lenta, mas importante.

Luiza Brunet Foto O popular reprodução
Luiza Brunet Foto O popular reprodução

Apesar de ser tão falada e divulgada, a agressão contra a mulher pode ocorrer em qualquer esfera, independentemente do nível socioeconômico do agressor. Em julho, a atriz Luiza Brunet foi vítima de seu ex-namorado, o empresário gaúcho Lírio Parisotto. Um bilionário que acumulou uma fortuna de US$ 2,4 bilhões. Sua empresa hoje, é um conglomerado de quatro indústrias petroquímicas.

Infelizmente, até hoje muitas mulheres não denunciam e foi exatamente para encorajá-las, mostrar que são vítimas e não tem do que se envergonhar é que Brunet fez questão de fazer a denúncia.

Na década de 90 tive o prazer conhecer Luiza Brunet, quando veio a Belo Horizonte para participar do lançamento de coleção de uma marca para qual eu e a minha saudosa sócia Ângela Valente fazíamos assessoria. Passei três dias com ela. Depois ela voltou algumas vezes, mas aí só os vimos rapidamente. Sei que não é muito, mas não teve uma única pessoa que não ficasse encantada com a educação, simpatia, delicadeza e gentileza dessa mulher. Sem nenhum estrelismo. Gente como a gente, mas com tamanha educação…

Mas, mesmo que não fosse, nada justifica uma agressão física. Denuncia neles!

Isabela Teixeira da Costa