Por um futuro melhor

Projetos em BH mudam a vida de moradores de rua.

Um dos graves problemas sociais do Brasil é o morador de rua. Infelizmente, são completamente ignorados por quem passa por eles. Quando alguém está caminhando, não escuta a voz pedindo esmola e nem sequer enxerga a mão estendida esperando ajuda. Algumas pessoas chegam a mudar o trajeto para evitar passar no quarteirão onde haja um pedinte. Agem dessa forma, assim que o avistam, por medo de que algo ocorra.
Atitudes como essas, de temor e indiferença, fazem com que eles se sintam piores do que já estão. Em vários relatos de ex-moradores de rua, o que mais se ouve é a perda da dignidade, que eles se sentem um lixo ao receber olhares de desprezo e indiferença.
O que mais entristece é o fato de abrigos oferecidos pelo município estarem infestados de percevejos. Vários moradores de rua vão até lá para usar os banheiros e receber alimentação. Porém, preferem dormir ao relento, na porta dos prédios, a serem picados por insetos.
Há algum tempo, surgiu em Belo Horizonte um projeto muito interessante, o Cidade Refúgio, que tira as pessoas das ruas e oferece tratamento contra o vício das drogas e do alcool, além de alfabetizar e ensinar uma profissão. A proposta é reinserir o indivíduo na sociedade e na família.
O trabalho é feito com homens e mulheres de 18 a 55 anos em situação de rua e com quadro de dependência química. A maioria não tem vínculos familiares ou comunitários. Nem todos são alfabetizados e muitos jamais tiveram trabalho, mesmo informal. A maioria chega ao Cidade Refúgio com a saúde debilitada pelo uso contínuo de drogas, más condições de vida e exposição ao relento.
Os atendidos passam por uma avaliação para analisar seu desejo e interesse de mudança, descobrir sua história pregressa nas ruas e nas drogas, conhecer sua saúde, vínculos familiares, pendências jurídicas, etc. Se aprovado, é encaminhado para a sede da Cidade Refúgio, uma fazenda na região de Raposos.
Depois do processo de adaptação e desintoxicação, ele entra para a rotina diária: terapias ocupacionais, aconselhamentos, atividades direcionadas, estudos e palestras específicas, acompanhamento psicossocial, espiritual e médico. Há projetos de reinserção social com cursos profissionalizantes de alvenaria, acabamento, pintura, gesso, bombeiro, eletricista, padeiro, confeiteiro, pizzaiolo, garçom, corte e costura, silk, jardinagem e paisagismo.
A parte final do tratamento é o retorno do ex-morador de rua e ex-dependente químico à sociedade, já empregado, com a ajuda do projeto.
Outro programa muito interessante, iniciado há cerca de um ano, é a corrida de moradores de rua. Apesar de o governo não ter política esportiva para reinserção social, um grupo de jovens começou a correr com algumas dessas pessoas da região da Floresta, em BH.
A psicóloga Érica Machado foi conhecer o abrigo e, conversando com um morador, percebeu que uma das queixas era não ter o que fazer. Ela fez parceria com o Sebrae, que agora oferece cursos para a turma interessada, e chamou o amigo Bernardo Santana para desenvolver atividades físicas com os homens. Bernardo arregimentou voluntários e nasceu aí a corrida, com treinos às segundas, quartas e sextas-feiras, bem cedinho, no Parque Municipal. Vários deles largaram as drogas e a bebida. Até participaram de maratona. Os voluntários arrecadam doações para os novos amigos.
Atitudes assim fazem toda a diferença na vida de pessoas que foram parar nas ruas e sonham sair de lá.

Isabela Teixeira da Costa

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