A Barbie se misturou

barbieSempre fui fã da Barbie.

Quando era criança, na década de 1960, ela não existia aqui no Brasil, só tínhamos a Suzi, “prima” criada pela Estrela, a anos-luz da perfeição da americana. Conhecia-a porque meus tios, Neury e Décio Rocha, eram muito ricos e nas férias o passeio deles com os filhos era um giro pelo mundo. Minha prima Elizabeth trazia Barbies, Skippers, Kens, Stacies. Para quem não sabe, a Skipper é a irmã adolescente de Barbie, e Stacie, a criança da família.

Adorava ir na casa dela com Regina, minha irmã. As duas saíam, porque eram mais velhas, e deixavam o mundo encantado da Barbie só pra mim. Tinha guarda-roupa completo, casaco de pele, cabeça sem cabelo para trocar perucas, maiô, camisola, roupa de esporte, vestido de baile em musseline esvoaçante, vestido de noiva (com véu e grinalda), sapatinhos, sandálias, tênis… Passava o dia dentro do quarto, brincando. Era um sonho. Minha maior frustração foi quando Beth se casou e deu tudo de presente para a cunhanda. Toda vez que posso, jogo isso na cara dela. Antes de cometer tamanha crueldade, ela me deu algumas roupinhas, que guardo até hoje.

Minha irmã e eu ganhamos de presente de nossos pais uma viagem para a Disneylândia, lá na California. Tinha 12 anos, e ela, 15. A Diney World ainda não existia. Foi maravilhoso, gastei todos os meus dólares comprando Barbies. Só não trouxe mais porque minha irmã amarrou o dinheiro, se não fosse assim, ficaria sem um centavo até mesmo para comer. Tive uma raiva danada. Comprei mala, muitas roupas e os bonecos. Brinquei muito e guardei tudo para quando tivesse uma filha. Quando Barbie chegou ao Brasil, comprei mais e fui colecionando. Quando Luisa fez 6 anos, dei tudo para ela. Os olhinhos brilharam. Arrependi-me, porque ela detonou minha coleção. Mas brincou a valer.

Sempre acompanhei a boneca, porque paixão de infância não acaba. Agora, vejo que a Mattel se rendeu ao mundo real. Acaba de lançar três tipos de corpo para a tradicional e elegante Barbie: a alta, a baixa e a gordinha, que, pra falar a verdade é mais cadeiruda que gorda. Tem um braço e perna um pouco mais largos e o quadril avantajado.

São 33 bonecas com sete tons de peles, 22 cores de olhos e 24 penteados, sem contar a diversidade de cabelos e os looks de moda. Essa ação, claro, só ocorreu porque o produto perdeu mercado para bonecas mais transadas, criadas a partir de desenhos animados e filmes adorados pelas meninas: Monster high, Frozen, a coleção Ever after high. Mas ainda sou Barbie Futebol Clube. Tive casa, carro, van, avião, piscina de sua coleção. Antes de existir tudo isso, eu mesma criava a casa dela na penteadeira do meu quarto. Usava as coisas lá em casa mesmo. Comprava acessórios na Feira de Artesanato da Avenida Afonso Pena – ex-feira hippie da Praça da Liberdade. Os expositores vendiam roupinhas, cama, jogos de sala de visita, de jantar. Comprava tudo e brincava muito. Tive infância, aproveitei ao máximo. Hoje, as meninas só querem saber e tablets e redes sociais. Perdem a fase que deveriam curtir – depois que passar a idade, não há como voltar.

Resta saber se a mudança da Barbie vai despertar o interesse das pequenas consumidoras do século 21. A menina gordinha vai realmente trocar a esguia boneca e seu namorado sarado pelo casal cheinho? Tenho sérias dúvidas. Como a novidade só estará nas lojas brasileiras em março, vamos aguardar o resultado das vendas. Mesmo assim, foi um avanço. (Isabela Teixeira da Costa/Interina)

 

Crônica publicada no caderno EM Cultura do Estado de Minas, 12/2/16, na coluna da Anna Marina

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