Enem: a corrupção está em todo lugar

enemFiquei chocada com a criatividade e investimento que fizeram para fraudar o Enem.

O Enem é a nova forma de se ingressar em uma Universidade Federal no país. Os alunos estudam o ano inteiro em cursinhos para se preparar para os dois dias de provas e a temível redação. Depois, com base na pontuação alcançada podem escolher qual curso que querem fazer.

Isso porque os cursos mais concorridos acabam precisando de pontuação muito alta, pois normalmente os concorrentes estão mais preparados e elevam muito o nível do resultado. E aí é ver em qual Universidade você conseguirá vaga. O processo de verificação da pontuação e posterior escolha da universidade ou instituto federal, se dá pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A pessoa tem duas opções de escolha: ou dois cursos ou duas universidades federais em diferentes localidades. A grosso modo é assim.

Tenho uma sobrinha emprestada, mas que considero sobrinha, que queria muito fazer medicina, não alcançou os pontos necessários e preferiu mudar para farmácia. Está adorando o curso. Particularmente, acho que ela deveria ter tentado mais. É extremamente inteligente e muito nova, tinha todo o tempo do mundo para realizar seu grande sonho.

Reprodução g1.com
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Voltando ao assunto, entendo que as faculdades particulares estão caras e poucas pessoas têm condições de arcar com a mensalidade, porém, estão pagando algo em torno de R$ 200 mil pela fraude. Isso são quase 40 mensalidades do curso de Medicina. Quem tem dinheiro para pagar isso, não seria melhor estudar e fazer um vestibular em faculdade particular?

A quadrilha também ofereceu esquema de vaga sem a pessoa precisar fazer a prova por R$ 400 mil. Quem tem dinheiro para pagar tudo isso por um crime, não precisa, nem de longe, estudar em uma Universidade Federal. Tem grana de sobra para pagar mensalidade do curso mais caro que existe. Será que é preguiça de estudar, ou falta de confiança em si mesmo?

O esquema só foi descoberto porque uma das meninas que foi abordada pela quadrilha não aceitou a oferta, ficou tão indignada que foi na delegacia e denunciou o esquema. A mineira Sofia Macedo foi presa em flagrante, no segundo dia de prova do Enem, e estava usando o ponto eletrônico. Pelo que entendi foi aliciada. Os ataques virtuais a ela foram tão grandes que teve que deletar todas as suas redes sociais, e não está nem saindo de casa, pois sofre constrangimento.

Será que tudo isso vale a pena? Agora, já foi descoberto que, 6 minutos depois que as provas iniciaram, as respostas do gabarito da principal prova para quem tenta Medicina, já estava sendo cantado. O gabarito vazou, resta saber como. E o governo diz que não comprometeu o exame.

Como não? Eles conseguiram rastrear e pegar em todo o país todos os alunos que participaram do esquema? Será mesmo? Porque é uma concorrência totalmente desleal com os milhões de estudantes que se dedicaram e empenharam o ano todo para prestar o Enem.

Outro ponto frágil que ficou provado: é possível uma pessoa fazer inscrição e outra entrar no lugar dela, com documento falso e fazer a prova em seu lugar. Quantos já não devem ter feito isso sem ser descoberto.

E a tal Sofia chora porque perdeu um ano inteiro da sua vida. Será que não pensou nesta possibilidade quando comprou o esquema? Provavelmente, se tivesse dado certo estaria toda feliz. Ou estaria chorando, arrependida, por ter tomado o lugar de uma pessoa que realmente estudou? Duvido.

Isabela Teixeira da Costa