O que vivemos no colégio não esquecemos nunca.
No domingo fui almoçar com uma amiga e tive o prazer de reencontrar com uma pessoa muito querida, que de certa forma fez parte da minha vida por muitos anos: professor Ulisses de Oliveira Panisset. Foi reitor do Colégio Metodista Izabela Hendrix, hoje, Instituto e Centro Universitário.
Ele é um querido de todos os alunos, professores e funcionários que passaram por lá durante sua gestão. Entrei no Izabela criança. Fiz o maternal no Instituo Brasil, mas no jardim de infância fui para lá e não saí mais. Fui aluna de inúmeras professoras e professores que guardo no coração até hoje.
Não esqueço do saudoso professor Vinagre, de matemática, gostava muito de mim. Até hoje não entendo o porquê. Nos dias de calor me colocava assentada na frente da porta para que eu ficasse na corrente de ar. Quando a aula era no horário que antecedia o recreio sempre me dava um dinheiro e pedia que eu buscasse para ele um salgado e um refrigerante na cantina, e completava: “E um para você também”. Não adiantava dizer que não queria e não precisava, a resposta era sempre a mesma: “é ordem de professor e não se discute”. Até hoje sinto não ter ficado sabendo quando faleceu, pois não pude prestar minha última homenagem.
Voltando ao Prof. Panisset, já tinha encontrado com ele outras vezes neste restaurante, porém sempre estava acompanhando, então só nos cumprimentávamos. Desta vez estava sozinho e depois assentou em nossa mesa e batemos um longo papo. No alto de seus 91 anos, relembramos bons momentos do colégio.
A primeira coisa que disse foi: “A sua família inteira estudou no Izabela, e foi a única até hoje a fazer isso”, afirmou orgulhoso. Meus dois irmãos, Camilo Filho e Renato fizeram o primário lá, depois mudaram para o Santo Antônio. Regina e eu entramos no jardim e seguimos. Regina, mais tarde foi para o Pitágoras. Assim que abriram a faculdade de Letras minha mãe se matriculou e meu pai, não sei se por ciúmes – professor Panisset garante que sim -, ou por companheirismo se matriculou também. Mas depois, meu pai tomou bomba por freqüência, e desistiu. Ele saía muito tarde do jornal onde já era diretor Executivo, e sempre perdia a primeira aula.
Continuamos os casos. A sala dele tinha uma mesa de centro linda com um aquário. Lembramos de certa vez, que minha prima – que também estudava lá – foi expulsa da sala de aula e mandada para a sala dele. Ele precisou sair por um minutinho e pediu que ela ficasse esperando. Quando retornou, ela não estava mais lá, e os peixinhos estavam sobre a mesa, mortos. Foi a gota d’água e ela foi convidada e se retirar da escola.
Professor Panisset nos contou que tinha uma aluna estrangeira, filha de um grande executivo que estava trabalhando no Brasil. Ela era simpática, comunicativa, querida por todos os professores e colegas. Certo dia, a cantina aumentou o preço do cachorro quente e a menina ficou transtornada. Tomou uma atitude de revolta que surpreendeu a todos. Na época, a cantina ficava debaixo do teatro, então ela subiu as escadas de acesso à entrada lateral do teatro, dependurou uma corda formando uma forca e anunciou que quem entrasse na cantina seria enforcado. A coisa ficou preta, porque ela estava bravíssima e falava sério.
Chamaram correndo o professor Panisset. Quando ele chegou ela se sentiu intimidada, ficou mais mansa e acabou atendendo seu chamado, acompanhando-o até sua sala. Ele pediu que chamassem o pai da garota que era alemão. Em meia hora ele chegou, ouviu o relato e foi logo tirando o cinto para dar uma surra na filha. Foi impedido por Panisset, que retirou a garota de sua sala e teve uma conversa com o homem, explicando que a menina deveria estar com algum problema, pois a reação que ela teve não condizia com seu comportamento habitual. O empresário tirou a menina do colégio. Graças a Deus ouviu os conselhos do nosso reitor. Um ano depois, a moça retornou ao Izabela e contou sua história.
Estava com um tumor no cérebro, que tinha provocado tal mudança de temperamento. Foi operada na Suiça, onde continuou dando prosseguimento aos seus estudos. Uma vida foi salva graças à percepção do Panisset por sua grande experiência.
Até hoje, tenho amigos que fiz no Izabela. Depois conto mais. Tempo bom, que não volta mais.
Isabela Teixeira da Costa