O autismo

Dia 2 de abril é comemorado o Dia Mundial do Autismo e Belo Horizonte terá semana de debates, palestras, oficinas e orientações à população.

O Autismo, também conhecido como Transtornos do Espectro Autista (TEA), é transtorno que causa problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e comportamento social da criança.  Estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo todo possuem algum tipo de autismo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS); no Brasil, 2 milhões. Uma pesquisa atual do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) diz que o autismo atinge ambos os sexos e todas as etnias, porém o número de ocorrências é maior entre o sexo masculino (cerca de 4,5 vezes).

No fim dos anos 1980, uma a cada 500 crianças era diagnosticada com autismo. Hoje, a taxa é de uma a cada 68. O significativo aumento chamou atenção até da ONU (Organização das Nações Unidas), que classificou o distúrbio como uma questão de saúde pública mundial.

Esse transtorno não possui cura e suas causas ainda são incertas, porém ele pode ser trabalhado, reabilitado, modificado e tratado para que, assim, o paciente possa se adequar ao convívio social e às atividades acadêmicas o melhor possível. Quanto antes o autismo for diagnosticado melhor, pois o transtorno não atinge apenas a saúde do indivíduo, mas também de seus cuidadores, que, em muitos casos, acabam se sentindo incapazes de encararem a situação.

Uma amiga tem um filho autista. O rapaz está com 28 anos, nasceu bem e até os três anos interagia normalmente. Foi nessa idade que o autismo se manifestou e ele parou de falar. Começou com atitudes intempestivas como se fosse gestos de raiva, tipo jogar objetos no chão ou pela janela. Essas alterações foram tratadas pelas professoras como problema comportamental, como se a criança estivesse passando por problemas familiares e manifestando como rebeldia. A mãe, pessoa bastante lúcida e instruída, e amorosa, percebeu que o filho não estava normal e procurou um neurologista, e ouviu do profissional que se tratava de birra e falta de limites.

Absurdo total, percebido por ela, pois sabia muito bem que a educação que dava para o filho era correta e com limites. Começou aí uma via sacra de pediatras, neurologistas, psicólogos, psiquiatras, e tudo quanto havia de exames na época. Infelizmente ela só ouvia que ele tinha “um problema importante”, mas ninguém falava o que era. Claro que tinha problema, uma criança que de uma hora para outra parou de falar, ficou hiperativo e chorava muito. Demorou oito anos até que um psiquiatra fechou o diagnóstico dizendo que se tratava de autismo, fato que ela já desconfiava há alguns anos, baseada em pesquisas próprias. O rapaz entende as coisas, porém sua comunicação é limitada. Tem algumas atitudes diferentes como gostar de tomar vários banhos ao dia, de roupa. Faz atividades físicas – importante no tratamento -, está na aula de música e pelo que ela me conta, parece que é feliz.

Outra coisa curiosa e interessante que minha amiga me contou é que a dieta de restrição do glúten é benéfica para o autista porque minimiza os comportamentos repetitivos. O problema é que toda a família e locais de apoio onde o autista convive tem que seguir a dieta, uma vez que ele não consegue selecionar por si próprio o alimento, ou seja, se ver um bolo ou um pão vai querer comer e não tem como explicar que não pode. Isso provavelmente desencadearia uma crise, já que elas ocorrem em função de alguma frustração.

Para comemorar o Dia Mundial do Autismo pessoas com o transtorno, associações e entidades ligadas à causa inovam com uma programação diversificada em Belo Horizonte. Será uma semana – de 2 a 8 de abril – voltada para o TEA com debates, palestras, oficinas e orientações à população. Com o tema “Autismo, quem faz o que em BH”, a programação diversificada vai contar com a participação de pessoas com autismo, seus familiares, associações, entidades e profissionais ligados à área, além de organizações que empregam pessoas com autismo, numa parceria com a PBH, ALMG, UFMG, OAB, entre outras instituições. A Defensoria Pública, por exemplo, irá orientar sobre os direitos das pessoas com autismo. Haverá ainda muitas outras informações sobre o TEA para famílias, educadores, profissionais da saúde, gestores e sociedade em geral. A proposta do evento é ampliar a atuação das pessoas com autismo, além de abrir o debate sobre os diversos aspectos do TEA.

Isabela Teixeira da Costa

Autismo em pauta

autismo1Rio de Janeiro vai sediar Seminário sobre autismo nos dias 24 e 25 de novembro.

Estatísticas internacionais têm apontado um aumento no número de casos de autismo. Antigamente, uma em cada 68 crianças nascidas vivas era autista, agora já se contabiliza um caso para cada 45 nascimentos. No Brasil, estimativas apontam que três milhões de pessoas sejam afetadas por este transtorno.
“Essas crianças chegam cada vez mais ao mundo e, por consequência, nas escolas e nos hospitais, e por isso as famílias e os profissionais precisam estar preparados para atendê-los”, afirma Giovana Escobal, vice-coordenadora do Laboratório de Aprendizagem Humana Multimídia Interativa e Ensino Informatizado (LAHMIEI) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O Laboratório é responsável pela organização do 12º Seminário Internacional do LAHMIEI que será realizado no Rio de Janeiro, nos dias 24 e 25 de novembro, com o tema “Autismo e Atrasos no Desenvolvimento Intelectual: Atualidades e Modelos de Atuação”.
Os participantes poderão conhecer os modelos mais avançados para identificar e lidar com os comportamentos típicos de quem sofre do transtorno, como dificuldades ou deficiências de linguagem falada, de contato visual, alterações no sono e alimentação, fobias e birras. O Seminário é aberto a todos os interessados – professores, diretores de escola, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, médicos, cuidadores e familiares.
Como não existe exames para detectar o autismo, o diagnóstico ocorre pela avaliação comportamental. Portanto, quanto mais padronizada forem as informações para os profissionais e familiares mais rápido será o diagnóstico e maiores as chances de sucesso no tratamento. Inscrições até o dia 23 de novembro no site www.xiiseminterlahmiei.faiufscar.com, mais informações pelo telefone (16) 3306-6712 ou pelo e-mail autismoufscar@gmail.com.

Como disse mais acima, o diagnóstico de autismo é difícil de ser feito, pensando em ajudar e facilitar, cientistas brasileiros criaram a startup de biotecnologia TISMOO, o primeiro laboratório do mundo exclusivamente dedicado à medicina personalizada para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e outros transtornos neurológicos de origem genética, como a Síndrome de Rett, Síndrome de Timothy, Síndrome Frágil X, Síndrome de Angelman e a Síndrome de Phelan-McDermid. Idealizada por renomados cientistas brasileiros, o objetivo da TISMOO é colaborar com profissionais de saúde no tratamento de pacientes que enfrentam essas síndromes, por meio de exames genéticos precisos. Com isso, a startup pode ampliar a possibilidade de cura e tratamento dos sintomas.

O projeto é desafiador e ambicioso, pois a ideia é trazer técnicas e estudos de ponta, restritos a universidades e centros de pesquisa, e colocá-los em prática para o benefício clínico dos indivíduos afetados. Primeira no mundo, a TISMOO quer impactar as pesquisas no desenvolvimento de novas substâncias e no entendimento das doenças neurológicas, oferecendo uma medicina personalizada, capaz de atender as características de cada paciente. As tecnologias em desenvolvimento podem antecipar ainda mais esta personalização clínica, pois o conhecimento da individualidade genética pode contribuir para um melhor entendimento do autismo além de, potencialmente, abrir janelas para intervenções mais específicas.

“O trabalho desenvolvido na TISMOO vai beneficiar muitas pessoas por oferecer aos pais o conforto de descobrir qual a mutação genética que seus filhos têm e qual o tratamento especializado deve ser aplicado. Conhecer qual o tipo de autismo (qual os genes causais envolvidos) é importante porque os futuros ensaios clínicos irão recrutar indivíduos baseando-se justamente nessa informação. Todos, inclusive os neurotípicos, vão se beneficiar pelo conhecimento gerado porque estamos entendendo como a genética humana contribui para o desenvolvimento neural”, comenta Alysson Muotri, cientista chefe da TISMOO, biólogo molecular e professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia (UCSD), considerado um dos principais especialistas em autismo do mundo.

Isabela Teixeira da Costa