Para casa, o terror dos pais
Escolas extrapolam e mandam para casa que alunos não conseguem fazer sozinhos.
Há algum tempo, tenho acompanhado os casos de uma sobrinha às voltas com os para casa de sua filha. Como é muito engraçada, ouvia as histórias e ria muito. Em alguns momentos, chegava a pensar como ela podia reclamar. Afinal, mãe é para isso também, ajudar os filhos nas tarefas escolares.
Com o tempo, fui prestando mais atenção nos relatos e percebendo que ela tinha certa razão. O colégio manda uma criança de 6 anos fazer uma pesquisa sobre determinado assunto. O aluno está aprendendo a ler, não sabe usar a ferramentas de persquisa na internet. Mesmo que existisse enciclopédia em casa – já caiu em desuso – ela não saberia procurar. Resumo: esse para casa foi para a criança ou para seus pais?
O que o aluno estará aprendendo com essa tarefa, uma vez que ele não a executou? E por que dar uma atividade para os pais, que já são sobrecarregados de afazeres e poderiam aproveitar este tempo com o filho brincando, em vez de despertar neles a raiva de fazer um para casa, uma vez que já saíram da escola?
Saí para jantar com um grupo de amigos. No meio da conversa surgiu o mesmo assunto. O pai estava de mau humor porque ajudava o filho, de 6 anos, a fazer um para casa de seis folhas.
Pensei que não tinha escutado direito, perguntei para confirmar. O menino, de apenas 6 anos, tinha uma folha de para casa para cada ano de vida. Tudo para o dia seguinte. A mesa inteira ficou chocada.
As mães começaram a palpitar. Uma delas citou uma questão que veio em uma recente atividade de seu filho, que é poucos anos mais velho que o outro. Algo sobre elemento faltoso. Ou isso é novo na escola ou perdi essa aula. Nunca ouvi falar sobre isso (procurei no Google e não achei), ela também não. Engraçada que só, disse para o filho: “Elemento faltoso é o seu pai, ponto!”. (O pai em questão já morreu.)
Piadas à parte e sem querer chocar ninguém, o fato é que muitas das coisas que os filhos estudam hoje os pais não sabem mais, ou nunca souberam, porque entraram há pouco no “cardápio” do conhecimento. E não cabe a nós, pais, estudarmos, e sim aos filhos. Eles são os alunos. Os exercícios devem vir de forma que eles tenham capacidade de executar sozinhos. Próprios para cada idade.
Sempre estudei sozinha. Minha mãe me socorria quando tomava recuperação. Sempre em geografia e história, fato recorrente, porque sempre dormia sobre os livros quando estudava para as provas. Aí, na recuperação ela estudava comigo para me manter alerta.
Pergunto: O que passa na cabeça da pedagogia moderna para fazer esse tipo de coisa? Será que não percebem que não adianta muita coisa para a criança? Que ela não aprende por osmose?
Acredito que as escolas têm que exigir dos alunos – dos alunos, e não dos pais. O mundo está competitivo e a moçada está cada vez mais empurrando com a barriga. O desrespeito em sala de aula é grande e o desafio do professor é fazer com que o estudante se interesse pelo aprendizado desde pequeno. Fazer com que larguem o celular para prestar atenção na disciplina deve ser o objetivo principal de todo mestre. Acredito que o professor que conseguir desenvolver uma didática moderna, que desperte o interesse na geração Z de aprender dentro de uma sala de aula, terá grande chance de ganhar o Prêmio Nobel de Educação.
Isabela Teixeira da Costa
5 Comentários para "Para casa, o terror dos pais"
Meu filho estuda no colégio Novos Tempos em Contagem e é muito comum ver os pais reclamar dos inúmeros e dificultosos para casas para alunos de 6 a 9 anos.
Será que você acompanha realmente as escolas enviam aos alunos como para casa ou foi algo conhecido como ponto fora da curva?
Aconselho uma pesquisa aprofundada para não generalizar e trazer mais elementos negativos para uma instituição tão valiosa e absurdamente surrada pela sociedade e meios de comunicação, que nada entendem de Escola e de Educação.
Basilio, coordeno o programa Leitor do Futuro, do Jornal Estado de Minas. Valorizo e defendo muito as escolas, como você. Não me baseei em duas ou três para escrever o artigo. É uma constante em um círculo grande e variado. Hoje mesmo, ouvi elogios a uma escola de BH que envia para casa e aconselha os pais a não ajudarem. Caso o aluno tenha dificuldade, deverá retornar a questão ao professor. Acho que esta é a atitude correta. No Colégio Vértice, de São Paulo, que é forte no Enem, a criança treina na escola para não ter que receber ajuda dos pais em casa. Fazem todo o para casa sozinhos. O papel do professor é fundamental em uma escola, por isso defendo tanto a boa remuneração a este profissional.
Ouço com certa frequencia que “escola boa é a que exige, cobra”, quando vou entender o que é “exigir, cobrar”, descubro – espantada(!): “dá muito para casa”. A escola que escolhi para o meu filho, dá o para casa na medida certa (quantidade e qualidade) e ele faz sozinho boa parte. Ajudo nas dúvidas, na seleção de material de pesquisa na internet. Mas o “serviço pesado” – ler, resumir, selecionar as informações relevantes, é dele. Recebo com frequencia criticas sobre a escola onde meu filho estuda. Ignoro. Percebo que ele não sabe nem mais e nem menos que os colegas de outras instituições que se matam nos para casas longos e quase intermináveis.
Ruth, escola tem que exigir e cobra, mas do aluno, na minha humilde opinião, e não dos pais.