No sossego do campo com minha mãe
Desfrutando da paz de Deus com minha mãe.
Minha mãe mora em um sítio. Pode-se dizer é um lugar privilegiado, pois fica dentro da cidade, mas não se ouve nada. É um sossego só. Como ela costuma dizer: “Estamos na paz de Deus”. É assim mesmo que nos sentimos.
Se pudesse descrever a paz de Deus, acredito que seria desta forma: quando saímos do caos da cidade grande, e assentamos em uma cadeira no jardim, onde podemos olhar para a bela natureza que Ele criou, e ouvir o silêncio, interrompido vez ou outra pelo canto dos pássaros, e uma grande tranquilidade invade nossa alma. Em alguns momentos vem uma brisa suave para quebrar o calor do sol.
É muito bom. Nem os problemas conseguem ocupar nossa mente. E ficamos ali, olhando a paisagem e jogando conversa fora. Eu aproveitando a companhia da minha mãe, que está com 89 anos, e, como sofre com o mal de Alzheimer, fala coisas, hora profundas, hora de tamanha ingenuidade que me comove. Dá vontade de rir e ao mesmo tempo me entristece. Um misto de emoções difícil de decifrar e enfrentar.
Certa vez, o médico e amigo José Salvador Silva me disse que o Alzheimer é a melhor doença para o doente e a pior para a família. Nunca vi uma verdade tão verdadeira. Minha mãe está na dela, numa boa, mas como é difícil ver que está deixando de ser a minha mãe.
Isso mesmo, aquela pessoa com quem convivi a vida inteira. Forte, alegre, engraçada, independente, de personalidade, altiva, briguenta, que se posicionava. Simpática, querida por todos, que contava casos e mais casos e mantinha todos em sua volta, rindo muito.
Agora, está frágil, silenciosa, em alguns momentos com olhar perdido e até desapontado porque percebe suas limitações e se sente constrangida. Tem horas que nota seus esquecimentos e se envergonha, porém, tenta despistar. Este desapontamento leva a uma agressividade momentânea que percebemos ser a única defesa que lhe resta. Isso me mata por dentro.
Como fazer? Como blindar tudo isso para não desabar? Como ficar insensível ou não se deixar atingir por tudo isso que vivemos? De onde tirar forças para enfrentar cada dia que notamos uma piora? Como despistar minha tristeza diante dela, quando, abraçada a mim, pergunta onde está sua filha, e sou obrigada a responder: “estou aqui, mãe”, de um jeito que ela não fique desapontada?
A arte de cuidar de uma mãe, pai ou qualquer ente querido nesta situação só se pauta em uma coisa: no amor. O amor nos capacita e nos fortalece. Deus nos deu princípios sábios que devemos seguir e o principal deles foi o amor.
Se lembrarmos do tamanho do amor que nossos pais sentem por nós, e de tudo o que fizeram por nós, com tanto amor, carinho e paciência desde que nascemos, e do tamanho do nosso amor por eles, saberemos que é só uma questão de retribuição, com amor.Estes momentos assentadas no jardim, de mãos dadas, jogando conversa fora, ficarão para sempre gravados na memória e no coração.
Isabela Teixeira da Costa
4 Comentários para "No sossego do campo com minha mãe"
Também sinto a sua dor e somente Deus com seu imenso amor nos dá forças para não desabar.
Que lindo relato Isabela. Sensível e profundo.
Adorei!
Obrigada