Lixar os pés é bom?

Adoro lixar meus pés quando vou à pedicure, mas dermatologistas alegam que este hábito não é tão bom e explicam como deve ser feita esfoliação na área.

Tenho costume de fazer meus pés sempre com a Solange, no LG Studio, de Laura Nunes. Solange já conhece os cantinhos que incomodam e tira o que tem que ser retirado na medida certa, lixa meus pés, e como amo uma boa massagem, prefiro não passar esmalte para que o tempo da massagem com creme hidratante seja maior. Como nunca marco hora – jornalista é assim, não consegue ter agenda fixa –, vou na hora que dá, e vez ou outra Solange está ocupada e nem sempre posso esperar ela desocupar.

Em uma dessas vezes fui atendida pela Regina, outra profissional do salão muito competente também. Reparei que ela não lixou meu pé e reclamei a hora. Ela olhou para mim como se olhasse para um ET. E sem nenhuma cerimônia, mas com muita educação disse que não lixava o pé de ninguém, porque não era bom. E muito incomodada disse que se eu fizesse questão lixaria o meu. Como eu vi o tanto que aquilo era quase um “sacrilégio” para ela, abri mão. Fez uma esfoliação no meu pé com uma ótima massagem.

Tenho que confessar que sinto uma sensação de limpeza quando lixam meu pé. É bom demais. Pelo visto a Regina é que está com a razão. A dermatologista Claudia Marçal, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Academia Americana de Dermatologia (AAD), diz que a pele dos pés é naturalmente mais espessa e por isso a esfoliação e hidratação são dois processos importantes nos cuidados com os pés. Mas alerta com relação ao uso das lixas, alegando que elas podem ser prejudiciais.

“A pele dos pés, na região plantar – da sola –, tem em média seis milímetros de espessura e é composta pela epiderme, com uma área que tem mais queratina, que uma proteína morta, por isso é mais espessa. Mesmo que esteja densa demais, lixar – principalmente com lixas elétricas – não é uma boa opção. Quanto mais agressivo for o quadro de esfoliação, maior será o rebote produzido pela pele, com uma resposta natural do corpo de espessamento ainda maior. As lixas elétricas são altamente prejudiciais. Além disso, num primeiro momento, nós podemos perder a capacidade natural de autoproteção, tirando também o estrato córneo natural que protege os pés, o que abre a porta de entrada para fungos e bactérias, além de aumentar a sensibilidade, e ajudar no desenvolvimento de dermatite irritativa ou de contato”, alerta Cláudia, que também não recomenda a retirada de camadas ou de áreas mais grossas da pele com lâminas ou aparelhos elétricos. “A retirada da pele com lâminas ou aparelhos elétricos provoca um dano na estrutura da epiderme e favorece um processo de reconstrução irregular com um quadro de espessamento anômalo.”

Cláudia Marçal recomenda o uso de esfoliantes naturais para resolver o problema da pele da região mais áspera, grossa e esbranquiçada, por conta do acúmulo de queratina. “Esse é um sinal de perda de integridade da barreira cutânea, dessa forma, a pele fica seca, já que não conta com a formação adequada de água e lipídeos. Uma vez que a região da planta dos pés suporta todo o peso do corpo e faz atrito constante com o solado dos calçados, que muitas vezes é constituído por substâncias sintéticas ou couro sintético, ou mesmo os pigmentos presentes nesses materiais, isso acaba provocando um quadro de irritação com tentativa natural de espessamento para autoproteção”, destaca. Ela indica esfoliantes à base de cremes, microesferas em óleos ou creme que esfolia, hidrata e amacia.

“A esfoliação natural é a melhor forma para resolver o problema com a pele dos pés mais grossa. Antes de esfoliar, os pés devem ser embebidos numa solução que pode ser de água com uma mistura de óleos, ou mesmo com alguns extratos naturais (de mentha piperita, de hortelã, de óleo de alecrim ou de amêndoas) e só depois fazer a esfoliação, em movimentos circulares e na região do dorso e da planta dos pés, e posteriormente a hidratação. Os pés úmidos facilitam a retirada do processo das células mortas, ou seja, a queratina. E não há a possibilidade de machucar, uma vez que, com a pele úmida, há um processo melhor de esfoliação e depois de hidratação. A pedra pomes úmida pode ser usada em alguns casos para que sejam retirados somente os espessamentos necessários”, esclarece Cláudia.

A dermatologista ensina soluções caseiras como esfoliantes: “Podemos usar sal grosso, numa emulsão com óleos naturais, ou mistura de açúcar com mel para fazer a esfoliação e logo depois o uso de um bom creme hidratante à base de lanolina, vaselina, manteiga de karité, Vitamina E, Pro Vitamina B5 e a ureia. É fundamental fazer hidratação reparadora e compensatória para evitar que haja o efeito rebote”, detalha.

“Muitas vezes percebemos a descamação que pode ser causada apenas pelo processo de secura excessiva, mas pode ser devido a uma alteração muito comum na planta dos pés chamada desidrose, ou um processo de doença desidrótica. Ela ocorre por uma hipersudorese local que provoca um quadro de dermatite de contato, que pode ser contaminado secundariamente por fungos e bactérias. Apenas a questão da planta dos pés estar esbranquiçada, na maioria das vezes, não é sinônimo de doença, mas de falta de hidratação. Quando isso ocorre de uma maneira progressiva, a pele pode ficar mais áspera, mais rugosa e com a formação de pequenas fissuras, principalmente na região dos calcanhares. Por isso, a esfoliação e hidratação são fundamentais”, finaliza.

Isabela Teixeira da Costa

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