A língua portuguesa está indo para as cucuias

letrasExcesso do uso de mensagens digitais leva jovens a desaprender a língua portuguesa.

Sou gerente de Comunicação Interna dos Diários Associados em Minas. Há alguns anos, desenvolvemos um projeto com escolas e precisei selecionar alguns jovens para trabalhar na área. Entre os diversos testes necessários para a seleção pedi ao RH que incluísse uma redação jornalística sobre um tema sugerido por mim.

Para esta fase final ficaram oito candidatos, e coube a mim ler as referidas “matérias” redigidas por eles. Suplício foi pouco perto do que passei. A primeira dificuldade foi entender a letra. Perdia feio para a de médico, para falar a verdade, se devolvesse para cada um e pedisse leitura, acredito que nem eles mesmos conseguiriam tal façanha. A segunda foi com a pontuação; e a terceira, com os erros de português. Sinceramente, foi difícil escolher a menos ruim.

Estruturação de texto, poucos fizeram. Isso tudo é culpa do estilo de vida. Ninguém mais escreve, só tecla. A maioria em WhatsApp e Twitter, que é tudo abreviado, com linguagem própria e simbologia. Até nos e-mails e nas redes sociais já usamos abreviações.

Em 2011, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) lançou um livro para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) defendendo a linguagem popular. Foi o maior escândalo. A mídia e outro tanto de gente cairam em cima falando mal. Outros defenderam, até que aos poucos, como tudo neste país, a polêmica se calou. Em um capítulo, os autores diziam que não tem problema falar errado, como se fala informalmente.

livromecVejam um trecho do livro:

“Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado.

Você acha que o autor dessa frase se refere a um livro ou a mais de um livro? Vejamos: o fato de haver a palavra os (plural) indica que se trata de mais de um livro. Na variedade popular, basta que esse primeiro termo esteja no plural para indicar mais de um referente.”

E continuam dizendo que é claro que uma pessoa pode falar ‘os livro’, mas ressaltam que dependendo da situação ela poderá sofrer bullying linguístico. Também exemplificam com outro exemplo: “nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”, porque todo mundo entende. Entender entende, mas está errado!!!!

Não quero ser purista, porém não posso concordar com o assassinato da nossa língua. Não aguento mais conversar com profissionais, inclusive da área de comunicação que não conjugam tempo verbal correto. Nem mesmo plural! Socorro! Informalidade tem limite. O profissional está em seu ambiente de trabalho, na área de comunicação de uma empresa e fala tudo errado. Dá para aceitar???

Entendo que existe no país uma diversidade sócio-cultural-regional que faz com que pessoas falem de formas diferentes, por regionalismo ou por falta de oportunidade de frequentar uma escola e aprender a língua portuguesa básica. Claro que a comunicação é possível entre todas as pessoas, mas não podemos dizer que o uso da língua esteja correto.

A partir do momento que o órgão máximo da educação do país, publica um livro respaldando esses erros, a chance de aprendizado e ensino está fadada ao fracasso. Essas pessoas que falam errado vão querer se esforçar em aprender, se o livro diz que estão corretas? Duvido.

Para deixar claro que não vai aqui nenhum preconceito, exemplifico de outra forma: quando chega ao país um estrangeiro para se estabelecer aqui, seja ele de qual nacionalidade e nível econômico for, começa a aprender o português. No início, vai falando tudo errado, e todo brasileiro que conviver com ele vai corrigindo sua pronuncia até que aprenda a língua. Ninguém ignora a fala errada, mesmo entendendo o que ele diz.

Conheço uma moça russa que conheceu o filho de uma grande amiga, quando ambos faziam um curso na França. Apaixonaram-se e hoje, moram no Brasil. Quando ela chegou aqui, em menos de quatro meses já falava português. Dedicou-se tanto, que hoje fala melhor do que muito brasileiro.

Me desculpem os compatriotas, mas ela está certa. Salve a língua portuguesa!

Isabela Teixeira da Costa

  • Lendo o artigo “A língua portuguesa está indo para as cucuias”, deparei-me com fatos diários vivenciados em sala de aulas. Tais como:
    * pronome “mim” antes do verbo (professor, posso ir lá embaixo pra MIM beber água?!…) , mas, sinceramente, o pior de tudo é ouvir “professores” de Língua Portuguesa cometendo esse erro primário na sala dos professores!!!
    * início de frases ou substantivos próprios com letra minúscula. É inadmissível que aluno do nono ano ainda escreva o próprio nome com letras minúsculas ou “brasil” com “b” minúsculo e justifica-se, ainda, (ao ser interpelado por mim) que professor de geografia não precisa corrigir erros de português!!!
    Então, conforme diz a linguística: ” a gramática normativa não descreve a língua como realmente se evidencia, mas sim como deve ser materializada pelos falantes, constituída por um conjunto de sinais (as palavras) e por um conjunto de regras, de modo a realizar a combinação desses”.
    Sendo assim, pra quê gramática? Pra quê tantas regras e exceções?
    O IMPORTANTE NÃO É “NÓIS” SE ENTENDERMOS?! Uai, sô ????????

    • Outro dia, uma amiga me contou que a professora de português de seu filho corrigiu errado o trabalho dele. Ela foi na escola fazer a reclamação. Com certeza essa criança vai ter dúvida, para o resto da vida de como escrever a tal palavra.

Comentários