A difícil tarefa de mudar os hábitos alimentares

Para emagrecer e manter o peso ideal é preciso mudar os hábitos alimentares, uma coisa bem difícil de fazer.

Todo mundo sabe que para emagrecer é preciso fazer uma dieta reduzindo calorias, com uma alimentação equilibrada e praticar alguma atividade física para gastar calorias. A fórmula é bem simples, ingerir menos caloria e gastar mais. Se é simples assim e todo mundo sabe, por que é tão difícil emagrecer e mais difícil ainda permanecer magro?Por que a grande maioria das pessoas que lutam contra o peso passam a vida no efeito sanfona?
São várias as respostas para essas perguntas, mas a principal é: essas pessoas não mudam os hábitos alimentares. Isso mesmo, fazem uma dieta restritiva intensa – por sinal algumas completamente malucas que acabam por prejudicar a saúde –, emagrecem e quando chegam ao peso desejado, liberam geral. Voltam a comer tudo o que havia sido radicalmente cortado da alimentação e com isso, engordam novamente. Não levando em conta a utilização de remédios “naturais” que ajudam no emagrecimento, e quando são suspensos, o usuário ganha muitos quilinhos de novo.
Mas por quê é tão difícil fazer essa reeducação alimentar para o resto da vida? Se livrar de um comportamento ruim vai além da força de vontade. Existe um componente de peso testando a persistência sempre que resolvemos mudar: o cérebro. Ele colabora para que a gente sinta melhor cultivando os velhos hábitos, do que tentando se livrar deles.
Segundo o psicólogo clínico Weslley Carneiro, existe uma área dentro da nossa cabeça chamada de “cérebro reptiliano”, que é basicamente responsável pela nossa sobrevivência e que foi formada nos tempos das cavernas, mas que nos acompanha até hoje. “Não tendo uma maneira de conservar a carne de um animal abatido e sabendo da escassez até que surja uma nova oportunidade de caça, a mensagem enviada pelo cérebro era: coma tudo o que puder e garanta a sua sobrevivência, você não sabe quando comerá novamente. A questão é que ainda hoje, reagimos aos alimentos como se não fôssemos ter acesso a eles nunca mais”.
De acordo com o especialista, o papel que a comida ocupa na vida de alguém que sofre de compulsão alimentar não tem muita diferença da droga para um adicto, porque ambos ocupam o papel de um “amortecedor” para o sofrimento, mas que tem um alto risco de manutenção, já que o alimento é algo de fácil acesso. Por isso, cabe a mudança de hábitos e busca de ajuda profissional, uma vez que a situação de obesidade pode se instalar gradativamente sob os olhos de todos a nossa volta e de forma silenciosa.
Para quem quer adotar novos hábitos e não consegue, a psicoterapia é uma ótima aliada, porque ela trata da causa do leva a pessoa consumir coisas que engordam. Por meio das sessões é possível, por exemplo, identificar um padrão comportamental que sucede a um episódio de ansiedade. De posse dessas novas informações, o paciente pode seguir a sua trajetória com maior clareza e adotar uma nova postura que vá de encontro ao que realmente deseja, seja uma vida saudável ou qualquer outro propósito.
Weslley ressalta que não é necessariamente na balança que o paciente percebe os resultados do tratamento da melhor maneira. Para ele, vincular o êxito a apenas um número, pode significar fazer um bom trabalho, que talvez não tenha garantias a longo prazo e que com frequência pode gerar grande sentimento de frustração. Porém, quando um paciente experimenta uma roupa que antes não lhe servia ou se sente mais confiante em se comprometer a trabalhar pela sua melhor versão é notória a sua satisfação e realização pessoal.

Isabela Teixeira da Costa

Crônica publicada no caderno EM Cultura do Estado de Minas

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