Monte Verde não é mais a mesma

É impressionante ver o que o “progresso” consegue fazer com uma cidade, até mesmo as turísticas que vivem da natureza como em Monte Verde.

Fui a Monte Verde em 1985, de lua-de-mel, e retornei um ou dois anos depois com minha mãe e minha irmã. Era lindo. Chamava a atenção pela vegetação nativa, os altos pinheiros. A rua era de terra e o frio intenso dava o clima perfeito para a região.

As pousadas eram uma graça. Fiquei – nas duas vezes – na pousada Moinho Velho, que era pequena, charmosa, aconchegante. Os proprietários eram um casal inglês, muito simpático. Ela ainda existe, mas cresceu bastante.

Lembro de um restaurante pequeno, tipo bistrô de um alemão que tinha um fondue espetacular com olhos bem diferentes e uma truta maravilhosa, fresquinha – já que na cidade tem criadouro –, que fazia no molho de manteiga com amêndoa e alcaparra acompanhada de batatas cozidas. Compramos vários potes de molhos de fondue para trazer, todos fabricados por ele. E o restaurante Pucci, que existe até hoje.

No alto de uma montanha tinha uma casinha muito simples, mas tão limpa que era possível comer no chão. Por lá morava uma senhorinha já bem idosa que fabricava geleias deliciosas. Não sei até hoje como ela fazia para não ficar uma única folha caída no terreiro com tantas árvores em seu terreno, que era de terra batida. Compramos seus produtos, de vários sabores.

Retornei neste fim de semana para o casamento de um primo. Fomos eu, minha irmã, minha sobrinha Rafaela e sua filha Bárbara. Continua lindo, charmoso e recebeu muitas melhorias – algumas questionáveis –, e o clima, mesmo no verão, continua frio. Na subida da montanha já ficamos assustadas com a mudança da paisagem. Todos aqueles lindos pinheiros e a vegetação nativa foi para as cucuias. Desmatamento total e só replantio de eucalipto. Em vários pontos já com derrubada dessas árvores para retirada da madeira.

Cresceu muito o número de pousadas e hotéis, com variedade de preços e alguns só para adultos, para que o descanso seja total. Ficamos na Pousada Águia Dourada. Muito charmosa. O salão de café da manhã precisa de um trato para fiar mais leve e bonito, mas o pessoal é muito simpático e atencioso. Os quartos são excelentes. Ficamos em um apartamento para a família. Nota mil. Sala com sofá, mesa e quatro cadeiras, frigobar, aquecedor, TV com serviço de cabo e ainda um DVD e muitos filmes à disposição. Dois quartos sendo um de casal e outro com duas camas de solteiro e um banheiro. Amplo e muito confortável. Na pousada tem uma academia, uma piscina ao ar livre, uma outra aquecida em local fechado, com sauna e ainda um spa, para o hospede reservar o uso exclusivo, com direito a massagem. Muito bom.

A rua principal da cidade agora está calçada, e por ser época de Natal, está toda decorada e iluminada, e cheia de lojas, mini shoppings e muitos restaurantes para pegar turistas, porque todos são muito ruins e caros. Isso mesmo, caro quando pagamos muito para comer mal. Conseguiram acabar com o fondue, prato tão tradicional na cidade. Agora ele vem na chapa, ou seja, é carne na chapa com molhos. Então não é fondue, só o de queijo e o de chocolate mantêm a origem. E os molhos são uma variedade de maioneses temperadas e geleias, exceto na Casa do Fondue. E a moda agora é o rodizio do famoso prato, assim eles cobram mais caro e o cliente prova dos três tipos. O bom mesmo é o de chocolate, porque as frutas da região são excelentes.

Enfim, o casamento foi emocionante, lindo, animado. Uma delícia reunir a família, mas foi bastante decepcionante ver como os empresários da região destruíram a natureza que é o que traz dinheiro para eles mesmos e a prefeitura permitiu que isso ocorresse. Ficamos chocadas. E na volta, passando por Igarapé é para estarrecer como a mineração está acabando com uma montanha e esburacando a serra. Tudo pelo dinheiro. Que pena, onde vamos parar?

Isabela Teixeira da Costa