Trombose: voos longos são um risco

Especialista fala sobre o risco de trombose em voos longos e dá cinco dicas para evitar o problema.

Como já disse aqui há alguns meses, fiz uma cirurgia no final de janeiro, e como viajei agora no início de junho, uma amiga me pôs o maior medo, dizendo que não poderia viajar sem antes consultar meu médico, por risco de eu sofrer uma trombose no voo. Claro que liguei para o Marcos Martins, falei com ele e fui tranquilizada. Ele deixou claro que o risco não é meu e nem por causa da cirurgia, mas de todo mundo, e que eu teria que dar uma caminhada no avião durante a viagem.

Um voo direto para os Estados Unidos, por exemplo, costuma levar em média 11 horas; para a Europa, 13 horas. Pessoas chegam a voar 36, 38 horas com escalas para visitar países da Ásia e Oceania. Isso significa que se acomodam na poltrona e passam horas sentadas na mesma posição, a dez ou 12 quilômetros de altura. Segundo os médicos, quanto mais tempo a pessoa passar sentada, maior será o risco de sofrer uma trombose venosa profunda (TVP). Trata-se da formação de trombos, uma coagulação do sangue no interior dos vasos sanguíneos, que podem oferecer alto risco de mortalidade se houver como desdobramento a embolia pulmonar.

Alguns dias depois, recebi um material bem completo sobre o tema, do cirurgião vascular e ecografista paulista, Ronald Flumignan, do CDB Medicina Diagnóstica. De acordo com Ronald, o tipo mais comum de embolia pulmonar é aquele que se forma a partir do desprendimento de um coágulo de sangue – geralmente, um que tenha se formado na perna ou região pélvica (TVP). “Pessoas que passaram muito tempo em repouso, acamadas, ou que fizeram voos longos, têm um risco aumentado para a trombose e suas complicações. Voos com mais de quatro horas de duração já são preocupantes, mas os que mais representam risco para os pacientes são aqueles com mais de 12 horas de duração. Por isso é fundamental, diante dos primeiros sintomas, não perder tempo e seguir com diagnóstico e tratamento. Vale lembrar que o fator de risco ‘idade’ é um dos mais importantes, principalmente quando diz respeito a um paciente com mais de 60 anos. Ou seja, quanto mais idade o passageiro tiver, há mais chances de sofrer TVP e suas complicações”.

Na opinião de Flumignan, inclusive, as companhias aéreas que fazem voos de longa duração deveriam incentivar mais os pacientes a esticar e movimentar as pernas durante a viagem. “A trombose venosa profunda geralmente provoca dor, inflamação e inchaço. Se o trombo se desprende da parede do vaso, há risco de circular pela corrente sanguínea e bloquear a artéria que alimenta os pulmões, causando a embolia. Esse é o principal motivo de morte relacionada à trombose venosa. Como há casos de TVP sem provocar alertas como dor ou inchaço, é fundamental que as pessoas conheçam os fatores de risco e avaliem se vale a pena fazer viagens longas e com voos diretos. Os que optam por fazer voos longos deveriam tomar precauções, como mudar de posição durante o voo, levantar e andar periodicamente, tomar muita água e ainda, os que podem, deveriam usar meias elásticas durante toda a viagem”.

O médico explica que os fatores de risco mais comuns, depois da idade ou de o paciente já ter enfrentado outros episódios de TVP, incluem: histórico familiar, imobilidade, câncer, uso de determinados contraceptivos ou terapia de reposição hormonal, gravidez, insuficiência cardíaca, obesidade, tabagismo e até mesmo varizes. “Se, depois da investigação clínica, houver suspeita de trombose, é indicado fazer um eco-Doppler colorido, também conhecido como ultrassonografia vascular, para avaliar as condições dos vasos – não só das pernas, como também dos braços e barriga. Trata-se de um exame não invasivo, sem dor, sem contraindicações, e que revolucionou o tratamento vascular”.

Flumignan explica que esse exame aponta a exata localização das veias e artérias, indicando se estão funcionando bem ou se há alguma obstrução (trombose), por exemplo. Segundo ele, a trombose pode ocorrer em qualquer vaso do corpo, seja artéria ou veia. “Diante desse recurso, é possível orientar pacientes com risco aumentado para TVP a não fazer voos longos, sem escala. Ou mesmo avaliar se um determinado paciente irá se beneficiar com o uso das meias elásticas para prevenir trombose. Afinal, o que muita gente desconhece é que nem todos os pacientes  podem usar essas meias. Para os que podem, elas de fato reduzem o risco de trombose durante voos prolongados – com evidências médicas de alta qualidade”.

Ainda com relação ao uso de meias elásticas, o médico ressalta que problemas como oclusão arterial grave nas pernas, por exemplo, contraindicam seu uso – já que isso poderia agravar o quadro arterial e trazer complicações como feridas ou até mesmo amputação. Flumignan também ressalta que alguns pacientes precisam usar medicações, como os anticoagulantes, antes de viagens longas. “Na dúvida, a melhor maneira de saber se pode ou não usar uma meia elástica, se é necessário usar alguma medicação ou não, é consultar um médico vascular de sua confiança. A avaliação do especialista, com base em exames complementares – como o ultrassom vascular – vai direcionar a conduta médica em cada caso em particular”.

Para aqueles que já estão com o voo marcado, o especialista dá cinco dicas de ouro:

  1. Procure se levantar a cada duas horas de voo e caminhar pelo corredor;
  2. Sentado, procure fazer movimentos circulares com os tornozelos e esticar os joelhos;
  3. Se não houver contraindicações, use meias elásticas prescritas por um médico vascular;
  4. Vista roupas leves e confortáveis;
  5. Procure ingerir bastante água durante o voo. Isso vai mantê-lo hidratado e fazer com que se levante para ir ao toalete algumas vezes. Além disso, a desidratação pode facilitar o surgimento de trombos.

Isabela Teixeira da Costa

Viagem de avião aumenta risco de trombose

tromboseMédica explica porque aumenta o risco de trombose em viagens de avião e ensina como evitar o problema.

A maioria das pessoas ama viajar. Eu, quando ouço a palavra viajar, sempre que posso, antes mesmo de terminar a palavra já estou com a mala pronta. Infelizmente, muitas não viajam tanto quanto gostariam por questão de tempo por causa do trabalho e de dinheiro, já que viagem, por menor de que seja, demanda um gasto acima do orçamento mensal.

Quem não gosta de conhecer novos lugares, novos ares e outras culturas? Para isso, é preciso enfrentar longas horas de voo e é aí que mora o perigo. “A trombose dos viajantes, ou também conhecida como síndrome da classe econômica, é uma doença rara, porém muito subestimada considerando que a trombose pode acontecer até horas após o voo, quando a pessoa já está no seu destino, seja a passeio, trabalho ou retorno para casa”, explica a cirurgiã vascular e angiologista Aline Lamaita, médica membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular. “E isso pode ser extremamente perigoso”, alerta.

Segundo a médica, a viagem de avião aumenta o risco de trombose porque ficar muito tempo parado sem movimentar a panturrilha diminui a velocidade do sangue dentro dos vasos. “Além disso, temos a pressurização da cabine e ar condicionado em geral, que causam uma desidratação com consequente aumento da viscosidade sanguínea (deixando o sangue mais grosso); também bebemos, em geral, pouco líquido para evitar visitas ao banheiro do avião, piorando a desidratação; algumas pessoas gostam de tomar um tranquilizante para dormir durante o voo (e fica mais parado ainda); e o uso de bebidas alcoólicas piora o quadro”, explica a médica.
“Existem pessoas com agravantes individuais que as deixam mais vulneráveis, como dor na perna, obesidade, tabagismo, uso de hormônios (pílula anticoncepcional), portadores de qualquer tipo de câncer, portadores de trombofilias (doença do sangue que deixa maior predisposição a coagulação sanguínea) e qualquer condição que aumente a imobilização (gesso, deficientes físicos, fraturas), gestantes, idosos e portadores de varizes”, explica Aline.
A trombose é quando desenvolve um “trombo”, um coágulo sanguíneo, nas veias das pernas e coxas, que entope a passagem do sangue. “Existem situações onde o risco do sangue coagular (virar uma gelatina) dentro das veias aumenta, como lesão da veia, diminuição da velocidade do sangue e aumento da viscosidade sanguínea (o sangue fica mais grosso)”, explica a médica.
Os sintomas da trombose, de acordo com Aline, são dor na perna, principalmente na panturrilha, associado a inchaço persistente, o que vai levar quase sempre à procura de ajuda médica. “Em casos mais raros um pequeno coágulo pode se desprender e correr pela circulação até chegar ao pulmão, o que os médicos chamam de embolia pulmonar e pode causar dor no peito, tosse, cansaço e em casos mais graves a morte súbita”, conta.
Algumas medidas muito simples podem evitar o quadro:

Beber muito líquido;

Evitar bebidas alcoólicas durante o voo;

Evitar medicações para dormir, porque diminuem sua mobilidade;

Movimentar suas pernas enquanto estiver sentado;

Andar pelos corredores a cada duas horas.
Caso o paciente tenha alguma das condições agravantes, o ideal é procurar um cirurgião vascular. “Ele vai orientar se existe a necessidade do uso de meias elásticas durante o voo ou indicar uso de anticoagulantes em casos mais graves”, diz. “Existem meias elásticas de compressão 15-23 mmHG que não necessitam de receita médica e não apresentam contraindicação no uso, que são ótimas para quem quer uma ajuda a mais para prevenir o quadro. São uma ótima opção para pacientes jovens, sem doenças associadas e que viajam com muita frequência. Sempre lembrando que deve seguir as especificações de tamanho da meia e cuidar para que ela seja colocada de forma correta. O uso errado pode ser mais prejudicial que benéfico”, finaliza.

Isabela Teixeira da Costa