Vasto mundo da internet

Mário Prata Foto extraída da internet
Mário Prata Foto extraída da internet

Não consigo deixar passar os equívocos da internet.

Era daquelas que repassava tudo o que recebia pela internet. O que me mandavam por WhatsApp ou pelo Facebook, lá estava eu enviando para a lista de contatos sem me preocupar se era verdade ou não, até porque acreditava piamente ser verídico, pois sempre recebia de amigos.

Certo dia, em um desses repasses, minha amiga Silvana Moysés me enviou na mesma hora uma matéria mostrando que aquilo era falso. Levei o maior susto, enviei um desmentido para as pessoas. Isso ocorreu mais umas duas vezes, e aí procurei ficar esperta. Teve uma vez que até consultei Silvana sobre um material que recebi. De novo era falso.

Além dos boatos – que são essas notícias falsas –, ainda existem as informações atrasadas, quando dizem que algo ocorrerá naquele dia, porém o fato já rolou dias atrás; e também os textos atribuídos a pessoas erradas. Peguei mania de sempre pesquisar e confirmar a autoria, principalmente dos textos que gosto.

Recebi um tempo atrás, de várias pessoas, um texto atribuído a Arnaldo Jabour, intitulado O mundo sem mulheres. O texto é muito legal, porém não parece nem um pouco com o estilo de Jabour. Saí à procura do verdadeiro autor e descobri que a primeira parte foi extraída de uma crônica de Mário Prata, publicada na revista Época, em 20/10/2003.

A crônica se baseou em uma matéria feita em Serra Pelada. O início é bem machista, o próprio autor reconhece, depois muda completamente. Decidi publicá-la aqui, para fazer justiça a Mário Prata, mineiro de Uberaba, que cresceu em Lins (SP), escritor, dramaturgo, cronista e jornalista. da melhor categoria.  

Pra cumemuié – Mário Prata

“Pra cumemuié, uai.

Não fosse pelo microfone do repórter, poderia se dizer tratar-se de um filme bíblico. O sujeito estava todo coberto de lama, junto com mais 30 mil iguais a ele, escavando a terra lá em Serra Pelada. O documentário era antigo, é claro, mas passou na televisão outro dia. E o mineirinho ali, ao ser perguntado por que queria achar ouro e ficar rico, não pestanejou: “Pra cumemuié, uai”. Claro. Que outro motivo ele teria? Só fiquei na dúvida se era para conquistar a sua mulher ou para transar com qualquer mulher. Provavelmente a segunda hipótese.

O Cacá Rosset já tinha esta teoria há muitos anos: tudo que o homem faz, tudo, é com um único objetivo: cumemuié. O cara faz um esforço desgraçado para ficar rico pra quê? O sujeito quer ficar famoso pra quê? O indivíduo malha, faz exercícios pra quê? Mulher! Pode ser até a própria. Mas a verdade é que é a mulher o objetivo do homem. O pavão também é assim. Os animais são assim. Os bichos só pensam nisto. Já as bichas, pra cumeomi.

Fico imaginando aqueles ministros todos lá na posse e um dizendo para o outro, enquanto posam para fotografias: “Vai rolar muita mulher aqui no pedaço”. O jogador quando faz o gol pensa a mesma coisa. O artista em close na novela tem certeza. Aquele candidato a prefeito naquela cidadezinha. Para o que ele quer aquele pequeno poder?

As mulheres, antigamente, ficavam trancadas dentro de casa e se tratavam e ficavam bonitas apenas para os seus homens. Aí começaram a dar liberdade pras danadas e deu no que deu. O mundo ganhou vida, além da beleza, é claro.

Gisele Bündchen Foto extraída da internet
Gisele Bündchen, referência de beleza em todo o mundo. Foto extraída da internet

Pode continuar a ler, minha querida, que as barbaridades vão parar por aqui. Pode parar de me achar machista, machão ou coisa parecida. Tudo que eu quis dizer é que o homem vive em função de você. Vivem e pensam em você o dia inteiro, a vida inteira. Se você, mulher, não existisse, o mundo não teria ido pra frente. Homem algum iria fazer alguma coisa na vida para impressionar outro homem, para conquistar um sujeito igual a ele, de bigode e tudo. Um mundo só de homens seria o grande erro da criação.

Já dizia a velha frase que “atrás de todo homem bem-sucedido existe uma grande mulher”. O dito está envelhecido. Hoje eu diria que “na frente de todo homem bem-sucedido existe uma grande mulher”.

É você, mulher, quem impulsiona o mundo. É você quem tem o poder, e não o homem. É você quem decide a compra do apartamento, a cor do carro, o filme a ser visto, o local das férias. É mesmo para você que vai o ouro extraído lá na lama. Bendita a hora em que você saiu da cozinha e, bem-sucedida, ficou na frente de todos os homens.

E, se você que está lendo isto aqui for um homem, tente imaginar a sua vida sem nenhuma mulher. Aí na sua casa, onde você trabalha, na rua, nas telenovelas. Só homens. Já pensou? Filmes só com homens? Romance sem uma Capitu ou uma Madame Bovary? Um casamento sem noiva? Um mundo sem cinturas e saboneteiras? Um mundo sem sogras? Enfim, um mundo sem metas.

Tá certo o mineirinho de Serra Pelada. Todo o ouro do mundo para as mulheres. E, aos homens, um abraço.”

No texto que rola na internet cortaram o princípio e o fim da crônica de Prata e acrescentaram 20 motivos pelos quais os homens gostam tanto de mulheres. Esta parte é de autor desconhecido, e não publicarei aqui. Fica assim, registrado e corrigido mais um erro popular nas redes sociais.

Isabela Teixeira da Costa