Cuidado com a depressão

Ilustração Son Salvador
Ilustração Son Salvador

Este é o problema da maioria das pessoas: precisar do outro para se completar.

Dia desses, encontrei a filha de uma amiga. Moça linda, talentosa, bem casada e com uma filhinha linda. Conversa vai, conversa vem, ela me disse que há um tempinho teve depressão, mas agora já está bem. E estava mesmo, a forma de falar, o semblante tranquilo, o sorriso meigo, tudo isso confirmava sua fala.
Saí de lá pensando o que leva uma pessoa a entrar em depressão. Ela tinha tudo. Recorri à minha irmã, psicanalista de mão cheia, Regina Teixeira da Costa, que escreve aos domingos neste espaço. Contei-lhe quem era a pessoa, como era vida dela – claro que de forma superficial, pois é também como eu sei, o que todos veem. A vida dentro de casa ninguém sabe.
Regina explicou que depressão é um problema interno da pessoa, que, muitas vezes, espera a solução de seus problemas, o seu complemento, no outro. Ocorre que essa espera é fadada ao fracasso. Nunca o outro pode suprir essa necessidade. Aí, ela entra em um abismo de fragilidades e fica buscando o outro para se segurar e se curar. Como não encontra, afunda mais ainda. Trata-se de uma busca fracassada – não porque o outro não quer dar sua ajuda, mas porque não tem jeito. Mesmo que ele queira, não pode.
Este é o grande problema da maioria das pessoas: precisar do outro para se completar, para ser feliz. Nossa felicidade não pode depender de ninguém. Temos que ser felizes por nós mesmos. Somos a nossa melhor companhia e temos que viver com a falta, seja ela qual for. Temos que aprender a ficar do nosso lado, a ser a nossa melhor companhia.
Se, por algum acaso, outra pessoa chegar, ótimo, ela se juntará à nossa felicidade. Se ela for embora, continuaremos felizes, apesar da sua ausência. Se passarmos por momentos tristes, não sucumbiremos a ele, pois, em nossa essência, estaremos bem conosco.
Poderemos passar por períodos difíceis e saberemos enfrentá-los, talvez com sofrimento, mas sem desmoronar internamente, pois estaremos bem estruturados com o nosso desejo. Em outras palavras, estaremos bem resolvidos.
Como é difícil chegar a esse ponto. Conheço tantas pessoas que passaram e ainda passam por depressão. Algumas com as quais conversei, que superaram o problema, relataram as causas. Por incrível que pareça, realmente o motivo da maioria dos casos é o outro – a mãe, em vários deles.
Impressionante como a mãe, mesmo tentando ajudar, acaba errando muito. Muitas delas, para ter os filhos à disposição em posição de subserviência, para eles não serem independentes, vão incutindo neles a sensação de incompetência e despreparo para a vida, que gera o sentimento de que não dão conta sozinhos. Isso impede o filho de seguir sua própria vida.
O amor que sentem pela mãe se mistura, inconscientemente, ao sentimento de raiva e, às vezes, de ódio. Afinal, como ter dois sentimentos tão antagônicos? Como sentir algo por sua mãe que não seja amor? Essa dicotomia inconsciente gera tamanho conflito interno que o leva à depressão profunda, que, se não for tratada, pode ter consequências graves.
O problema de outras pessoas é não conseguir dizer não. Vai aceitando tudo o que lhe pedem e se sobrecarregando. Como diz o ditado, engolem sapo e fazem a digestão. Ou melhor, engolem o sapo e ficam entalados, pois vão assumindo mais do que podem porque não querem desagradar. Não sei dizer o que leva uma pessoa a ser assim. O grande problema é que o outro se acostuma. Quando, com esforço hercúleo, a pessoa consegue dizer não, o outro não aceita, reclama, discute.
Acredito que é melhor ficar vermelho um dia do que amarelo a vida inteira. Algumas pessoas não conseguem se enfrentar para descobrir essas “escuridões” internas, enfrentar e desatar esses nós. Porém, quando consegue, é libertador.

Isabela Teixeira da Costa/interina

Crônica publicada hoje, no Caderno de Cultura do Estado de Minas