O mundo está estarrecido com a barbárie do estupro coletivo cometido contra a adolescente carioca de 16 anos.
Ela foi violentada fisicamente, mas o ato cometido por mais de 30 homens agrediu a todas as pessoas de bem. A agressão continuou a cada vídeo divulgado, cada comentário agressivo tentando culpá-la e mais ainda, na demora do delegado em tomar alguma atitude.
Não é à toa que a vítima disse: “Não dói o útero e sim a alma por existirem pessoas cruéis sendo impunes”.
Os agressores se exibiram nas redes sociais se gabando do que tinham acabado de fazer, dizendo: “30 engravidaram”. O Artigo 241 da Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe fotografar e divulgar menores de idade em cena de sexo ou nudez. A pena é de três a oito anos de reclusão. O rapaz que filmou e postou na rede social foi à delegacia, declarou ser o responsável por isso. Entrou sorrindo, dando tchauzinho para as câmeras. Saiu sério, afirmando que provou sua inocência. Qual inocência se foi ele quem publicou as imagens? Era para ter ficado detido.
A vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, declarou: “O gravíssimo delito praticado contra essa menor – mulher e, nessa condição, sujeita a todos os tipos de violência em nossa sociedade – repugna qualquer ideia de civilização ou mesmo de humanidade”.
“Não pergunto o nome da vítima: é cada uma e todas nós mulheres e até mesmo os homens civilizados, que se põem contra a barbárie deste crime, escancarado feito cancro de perversidade e horror a todo o mundo. (…) Nosso corpo como flagelo, nossa alma como lixo. É o que pensam e praticam os criminosos que haverão de ser devida e rapidamente responsabilizados”.
Este rapidamente, ministra Cármen Lúcia, já está demorando bastante. Já identificaram quatro ‘suspeitos’. Por que não pediram a prisão preventiva?
O que choca mais neste crime? As mais de 500 curtidas no post do vídeo? Os inúmeros comentários de apoio aos 30 machões? As centenas de pessoas recriminando a adolescente dizendo que ela foi culpada? O delegado perguntando se a moça tinha costume de fazer esse tipo de coisa, como a menor relatou em entrevista, ontem à noite, ao Fantástico?
Outro ponto triste nessa história toda é saber que a menina não falaria nada por medo e vergonha. Só tomou coragem incentivada pelas mais de 800 denúncias feitas por pessoas que viram o vídeo postado pelos executores. Isso precisa mudar nas vítimas. Vítima, é vítima. Não, é não. Violência, é violência. Temos que parar de pensar com essa cabeça machista de achar que a mulher tem culpa do olhar do homem sobre ela. Não tem. As mulheres que forem violentadas têm que dar queixa o mais rápido possível. Quem deve se envergonhar desse ato tão covarde é o homem.
Estuprador pega qualquer moça, pode estar andando na rua, saindo da igreja ou dentro da escola. Pode estar de gola rolê e saia longa. Nada justifica tal agressão. No caso desse crime, se fosse um único estuprador já seria uma atrocidade, mais de 30 não dá para descrever. Só de pensar, embrulha o estômago.
Quando fui repórter de polícia era sabido que nem os presos gostavam de estupradores. E estou falando de ladrões, assassinos, gente barra pesada. Todos se davam bem, porém, quando chegava um estuprador… A vida dele na cadeia ficava bem complicada. Hoje, não sei como é.
Este não foi o primeiro caso. Em maio de 2015, quatro adolescentes entre 15 e 17 anos foram amarradas, estupradas, espancadas e jogadas de um penhasco de mais de 10 metros de altura, no Piauí. Elas foram encontradas com vida, socorrida e levadas ao hospital. Uma delas morreu dez dias após o crime. Um homem de 40 anos foi preso como mentor da barbárie e quatro adolescentes, também entre 15 e 17 anos, participaram do crime.
Na entrevista ao Fantástico, a vítima disse que quer justiça, esquecer tudo e seguir em frente com a vida. Uma coisa que ajuda é o fato de a terem dopado, pois ela não se lembra de tudo o que fizeram. Tiraram o delegado do caso, assumiu Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima. Fica a esperança de um trabalho mais ágil, humano e menos machista. Todos juntos na campanha #contraaculturadoestupro.
Isabela Teixeira da Costa