Entenda a relação do glúten com a sua saúde

A retirada do glúten na alimentação por quem não é celíaco pode prejudicar o bom funcionamento do organismo. Nutricionista responde oito perguntas comuns sobre a ingestão do ingrediente e tira dúvidas mais comuns.

Início do ano, verão. Muitas pessoas aproveitam para fazer dieta, e a maioria delas é por conta própria. Como está na moda cortar glúten e carboidratos, esses produtos são radicalmente limados das refeições, sem a preocupação do que isso poderá afetar no funcionamento do organismo. Todos os ramos alimentares são importantes e devem fazer parte da dieta. E quem não sofre da doença celíaca não deve deixar de ingerir glúten, claro que na quantidade certa.

A discussão acerca dos alimentos que contêm glúten – farinha de trigo, cevada, centeio e nos derivados dos mesmos cereais, como pão, macarrão, biscoito, bolo e tantos outros produtos presentes nas mesas dos brasileiros – continua como um dos principais tópicos quando o assunto é saúde alimentar. Entre tanta opinião disseminada pela internet e até mesmo pela mídia, Marcela Tardioli, consultora em nutrição da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI), alerta: “somente um profissional da área da saúde, médico ou nutricionista, pode avaliar e indicar a restrição do glúten da dieta do paciente, mediante diagnóstico de alergia ou intolerância”.

Para enriquecer o debate, a especialista separou algumas das principais dúvidas sobre glúten na alimentação. Confira:

Qual o benefício do consumo do glúten?

O glúten é formado pela ligação entre duas proteínas, a gliadina e a glutenina, além de outras moléculas, que formam uma substância aderente, com elasticidade e insolúvel em água. Além disso, seu consumo se relaciona paralelamente à ingestão de carboidratos, muitas vezes na versão integral, que traz benefícios nutritivos, como saciedade e maior quantidade fibras, vitaminas, minerais na alimentação. Para mostrar sua importância, um estudo analisou a dieta de mais de 64 mil mulheres e 45 mil homens, no período de 1986 até 2010, mostrando que nos casos de restrição ao glúten sem necessidade, notou-se um menor consumo de grãos integrais e um aumento do risco de doenças coronarianas.

Posso substituir o glúten na minha dieta sem acompanhamento de médico ou nutricionista?

Não. De acordo com o Conselho Regional de Nutricionistas (CRN), essa substituição só é recomendada sob orientação de um médico (por diagnóstico), por meio de exames, confirmando disfunções relacionadas, como a doença celíaca. Ou, quando eliminada a hipótese de doença celíaca, existam sinais clínicos evidenciados no diagnóstico nutricional de sensibilidade ao glúten. Somente para esses casos há a recomendação do nutricionista para orientação da dieta, após diagnóstico médico.

É verdade que o nosso corpo não digere glúten?

Não. Em um indivíduo saudável o glúten é digerido normalmente para conseguir realizar sua função nas células. Só terão problemas neste processo, pessoas que apresentem doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, onde especificamente essa proteína não consegue ser digerida completamente.

Para evitar a retirada de glúten nestes casos, um grupo de cientistas do Instituto Agrícola de Melhoramento Genético em Vegetais de Córdoba, Espanha, iniciou um estudo para modificação experimental do trigo. Conforme explicado anteriormente, o glúten é composto por duas proteínas, a glutenina e a gliadina, esta última é a grande responsável pelas reações indesejáveis da doença celíaca. Eles usaram uma técnica para remover 90% das gliadinas no cereal, adicionando genes que desencadeiam um processo chamado interferência de RNA, o que impede a produção de proteínas específicas. Esta tecnologia de reduzir de forma precisa e eficiente a quantidade de um dos compostos causadores da intolerância e sensibilidade ao glúten possibilitará futuramente a formulação de novos produtos que apresentem o nutriente mesmo para esse público.

Não me sinto bem quando consumo massa ou pão, sou intolerante ao glúten?

Não. Para determinar alguma doença relacionada ao consumo de glúten é necessário acompanhamento de um profissional de saúde que poderá encaminhar os exames necessários para determinar se apresenta algum tipo de intolerância ou sensibilidade. É importante tomar cuidado, pois existem outras enfermidades com sinais semelhantes à intolerância, como a síndrome do intestino irritável (SII), que causa dor abdominal, inchaço, gases, diarreia e constipação, que são queixas frequentes usadas como justificativa da retirada do glúten na alimentação.

Dieta livre de glúten ajuda na perda de peso?

Não. Muitas vezes esta informação é propagada, porém, na verdade a perda ou controle de peso é gerado pela mudança na alimentação e nos hábitos de vida, como prática regular de atividade física e dieta balanceada.

O glúten pode fazer parte de uma alimentação saudável?

Sim. Dentro de uma alimentação balanceada e hábitos saudáveis de vida, a presença de glúten na dieta contribui para uma maior variedade de alimentos, principalmente os carboidratos, como pães, massas e biscoitos, além dos grãos integrais, que apresentam um aporte nutricional benéfico e uma quantidade de fibra necessária para o funcionamento adequado do nosso intestino.

Porque pães sem glúten são menos macios?

Quando sovamos uma massa que contém glúten, criam-se estruturas capazes de prender o gás carbônico gerado pelas leveduras do fermento. Traduzindo: isso faz com que o pão tenha capacidade de crescer e conservar o seu tamanho. Por isso, aqueles que não contem glúten tornam-se um pouco mais quebradiços e menos macios.

Retirar o glúten da dieta é uma maneira adequada de aumentar mais nutrientes na alimentação?

Não. Um estudo recente divulgado em 2016 publicado na revista Clinical Nutrition, mostrou que dietas sem glúten são mais pobres em fibras, principalmente pela exclusão de alimentos naturalmente fontes de fibras, como os grãos. Também comprovou que elas são um pouco mais pobres em ácido fólico e vitamina D.

Isabela Teixeira da Costa

Glúten: vilão ou modismo?

glutenA questão sobre comer ou não glúten está em alta e com muita polêmica, porque nem todo mundo tem a doença celíaca. Segundo estatísticas, o número é bem baixo, porém, muita gente está cortando o glúten e afirmando ter melhorado a saúde. Recebi este artigo e decidi publicá-lo na íntegra, já que não entendo do riscado. Assim, as polêmicas, críticas e discussões ficam no âmbito dos profissionais.

Profissionais da Clínica Dr. Walter Minicucci comentam se é mesmo necessário retirar o glúten da alimentação

Exemplos de dietas sem glúten que prometem benefícios e emagrecimento rápido se multiplicam pela internet e, por conta própria, muita gente começou a cortar os alimentos com glúten do cardápio. Ao mesmo tempo, há quem se pergunte se eles são mesmo tão prejudiciais na alimentação.

Para quem tem a chamada doença celíaca, o glúten, de fato, precisa ser banido do cardápio, mas é importante ressaltar que a intolerância ao glúten não é tão frequente como vem sendo divulgado, conforme explicam os profissionais da Clínica Dr. Walter Minicucci, de Campinas.

Dr. Walter Minicucci
Dr. Walter Minicucci

Segundo o médico, “a doença celíaca é causada pela intolerância ao glúten, uma proteína presente em vários alimentos, como trigo e cevada. Nos portadores da doença, o organismo tem dificuldade de absorver os nutrientes dos alimentos, vitaminas, sais minerais e água. Os sintomas mais graves são diarreia, vômito, perda de peso, inchaço nas pernas, anemia, alterações na pele, fraqueza das unhas, queda de pelos, diminuição da fertilidade, alterações do ciclo menstrual e sinais de desnutrição”.

A nutricionista Maria Caroline Souza Netto explica, “por ser uma doença auto imune, ela pode aparecer em qualquer idade e os sintomas podem se manifestar em diferentes intensidades.  O diagnóstico em muitos casos é tardio justamente porque a pessoa acaba apresentando sintomas mais brandos, como cólicas e desconfortos abdominais”.

O diagnóstico preciso é feito por meio de exames de sangue juntamente com endoscopia com biópsia, procedimento necessário para detectar mudanças na parede do intestino delgado. O tratamento é cortar o glúten da dieta, o que é um desafio, já que ele aparece em alimentos como trigo, aveia, cevada, centeio e todos os seus derivados, como massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja, entre outros. “Evitar o glúten é uma tarefa difícil, pois ele está presente em muitos produtos, mas hoje já existem muitas opções, alternativas e até receitas para serem feitas em casa”, explica a nutricionista.

Para pessoas com sintomas muito severos, qualquer contato com o glúten precisa ser evitado, por isso é preciso ter muito cuidado ao se alimentar fora de casa. Há quem passe mal somente pela contaminação indireta do alimento, que pode ocorrer durante a preparação, em que traços ou mesmo apenas partículas de glúten de outros alimentos contaminam o prato. A chamada ‘contaminação cruzada’, aliás, pode ocorrer até mesmo nas etapas de  colheita, armazenamento e transporte dos alimentos.

Pacientes com diabetes tipo 1 têm maior risco de desenvolver a doença celíaca.

Pacientes portadores de diabetes tipo 1 apresentam maior risco de desenvolver a doença celíaca, pois ambas são consideradas doenças autoimunes, ou seja, há produção de anticorpos pelo próprio organismo. No caso do diabetes, o organismo produz anticorpos contra as células do pâncreas; no caso da doença celíaca, contra algumas proteínas e enzimas relacionadas à absorção de nutrientes pelo intestino delgado.

Menos de 10% dos portadores de diabetes têm o diabetes tipo 1, em que o pâncreas deixa de produzir insulina. Geralmente a doença aparece na infância ou adolescência, mas seu surgimento não depende de dieta, sedentarismo ou algum fator claramente sabido. Deve ser tratada com insulina, dieta específica e atividades físicas. “Em portadores de diabetes, a doença celíaca não tratada aumenta o risco de hipoglicemia, e leva à piora geral do controle do diabetes, além de prejudicar o desenvolvimento das crianças, aumentar o risco de doenças como osteoporose na vida adulta e outras deficiências de vitaminas e minerais”, alerta Walter Minicucci.

Mas afinal, o que é o glúten?

Habitualmente encontrado no trigo e outros grãos relacionados, tais como a cevada e o centeio, o glúten é um composto formado a partir de várias proteínas e confere textura, sabor e mastigabilidade para os alimentos.

Cortar o glúten da dieta emagrece?

Segundo a nutricionista, a perda de peso ao eliminar o glúten do cardápio, na verdade, está ligada a menor ingestão de calorias e carboidratos. “Para eliminar o glúten, as pessoas naturalmente cortam da dieta uma série de alimentos como pães, massas, doces, então, na verdade, ela está emagrecendo porque está ingerindo menos calorias”, explica a especialista, mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela Unicamp.

Para pessoas que precisam mesmo restringir o glúten da dieta, a nutricionista orienta que se busque ajuda profissional. “Quando é preciso adotar uma dieta muito restritiva, por motivos de saúde, como é o caso das pessoas portadoras da doença celíaca, é importante ter um auxílio profissional para que de alguma maneira a pessoa faça ingestão das vitaminas e nutrientes necessários e conheça quais substituições saudáveis ela pode realizar. No mais, já se sabe que o ideal, para todos, é adotar uma alimentação equilibrada, pensando na adoção de hábitos saudáveis em longo prazo.  Manter o controle do peso é sim, importante, pois sabemos que a obesidade é fator preponderante para uma série de doenças, como o diabetes, mas dietas radicais não costumam dar resultados a longo prazo e podem até prejudicar a saúde”, alerta a nutricionista.