Reaprendendo a comer
Depois da cirurgia bariátrica é um reaprendizado.
Como disse ontem, decidi operar e operei. Não foi uma tomada de decisão difícil. Só faltava a oportunidade, já que a cirurgia não é barata e no meu caso o plano de saúde não autorizava, porque não era obesa mórbida.
A primeira semana eu achei que ia ser enlouquecedora. Uma semana sem mastigar? Quem aguenta isso? E só bebendo líquido, tipo água rala? Daria uma fome danada. Que nada. Não dá fome nenhuma e de vez em quando, muito em quando mesmo, dá vontade de mastigar e tem uma coisa que o médico liberou: picolé de fruta – desde que não leve leite –, limão, uva, abacaxi. Sopa no mel.
Só bebia em um copinho descartável de café, daqueles de 50 ml. Gente, tranquilo demais. Não dá fome nenhuma. A cada meia hora bebia um, de gole em gole. Vale frisar que os goles eram bem pequenos. Então, cada “refeição” era demorada, degustada. A sopa era feita com tudo, bem rica, sem óleo, e só bebia a água da sopa. Quando entrava aquele caldinho quente e salgado era muito gostoso. Mas apenas aquele copinho satisfazia. A semana passou voando. Não pensei que fosse ser tão tranquilo.
Claro que tinham os gases e a cada duas horas eu fazia uma caminhada de 15 minutos dentro da minha casa mesmo. Criei um circuito que dava dois minutos então eu sabia quantas vezes tinha que repetir. Foi tranquilo e isso ajudava com os gases. Vale ressaltar que esses gases não doíam, só estavam lá. E saíam por todos os lugares normais de saída, então, quanto mais rápido elimina-los, melhor. E o santo luftal fazendo o seu papel.
A segunda semana chegou. Dr. Marcos Martins me liberou para trabalhar e dirigir. Na alimentação, o que era líquido passou a ser batido no liquidificador. Também pude comer banana e mamão amassadinhos e maçã raspadinha. Que delícia. A sopa já era grossinha. Na primeira vez coloquei uma concha e achei pouco demais, então coloquei duas conchas no prato. Não consegui comer nem meia. Ri demais.
No jantar, troquei a concha por uma concha de molho, que é bem menor e me servi apenas uma vez. Fiquei chocada com a quantidade que estava no prato. Pensei com meus botões “vou passar fome”, que nada, dei conta de comer a quantidade servida e fiquei satisfeita por mais de quatro horas.
Na terceira semana já podia carne moída, frango desfiado, arroz cozidinho e purê de batata. Biscoito de polvilho, creme cracker, queijo polenguinho e café. Sucesso. Porém, quando fui almoçar, que decepção. Sentia a comida descer. Pesou no estômago. Comi um pingo. Graças a Deus não entalei, apesar de não saber o que isso significava.
Várias pessoas que eu tinha conversado já me falaram que eu poderia entalar, e neste caso a solução era vomitar para aliviar, e que eu poderia ter dumping, e neste caso tinha que sentar ou deitar e esperar passar.
Segui minha vida numa boa, redescobrindo a alimentação e como era ingerir alimentos sólidos depois da cirurgia. Comer devagar, pequenas garfadas, mastigar muito. Um dia, do nada, a comida parou na altura do peito. Doeu como se fosse ar preso. Fiquei com vontade de arrotar. Fui para o banheiro, o arroto não saía, e quando saiu, não era arroto e sim um pouco da comida. O alívio foi imediato. Pronto, descobri o que era entalar.
O por que, não sei. Posso ter comido depressa, mastigado pouco. O fato é que passei pela primeira de muitas experiências de entalo que todo operado passa. Bem-vinda ao clube. Dumping eu nunca tive.
Hoje, 35 dias depois de operada, 9 quilos mais magra, já posso comer quase tudo. Estou muito bem, obrigada, e sei que a cirurgia bariátrica pode ter os seus riscos, mas afirmo que não é nenhum bicho de sete cabeças. O bem que ela faz para a saúde e a autoestima, só a pessoa pode avaliar. Porém, é preciso estar nas mãos de excelentes profissionais como eu estive e estou.
Isabela Teixeira da Costa
8 Comentários para "Reaprendendo a comer"
Isabela, você não tem ideia da tolice que fez em operar. Sua produção de HCl ficará irremediavelmente comprometida e, por consequência, a digestão de proteínas ficará definitivamente prejudicada, o que a levará a inexorável perda de massa magra. Além disso, como você não mais produzirá fator intrínseco, sofrerá de anemia crônica, tanto megaloblástica ou mesmo por baixa assimilação de ferro (microcítica). Não adianta ingerir B12 via oral, porque ela não é bem absorvida. Injeções de B12 são extremamente dolorosas. Lembre-se ainda que, estatisticamente, 90% dos operados de cirurgia bariátrica voltam a engordar em, no máximo, 10 anos. A cirurgia bariátrica de Capella ou em Y de Roux é um verdadeiro estupro à fisiologia, como eram as cirurgias Bilroth II que eram feiras antigamente para tratamento de úlcera duodenal. Meus pêsames!
Respeito a sua opinião. Só não concordo sobre as dores das injeções de B12 porque tomei 3 antes da cirurgia e não senti dor nenhuma com elas. Com relação às deficiências que você citou, verei no futuro.
Ainda bem deu tudo certo mas eu fiquei com muito medo…
KKKK
Parabéns Isabela querida ,pelo dia de hoje é pela atitude que tomou ,que vai te fazer com que se ame mais ainda ???⚘?????
Obrigada
Isabela, tenho certeza que a sua decisão não foi impensada e que você pesou todos os prós e contras. Tenho amigos que fizeram, uma voltou a engordar por que não foi nada disciplinada e o olho gordo em relação a comida não foi embora na cirurgia; outro está operado há anos e super bem,s em nenhum problema de saúde. Tenho certeza que o mesmo acontecerá com você. Bjs e sucesso.
QUE HISTÓRIA LINDA….. TUDO QUE VOCÊ PASSOU EU ESTOU PASSANDO, ESTOU ME REDESCOBRINDO… QUE DEUS CONTINUE A TE ABENÇOAR. BJOOS SUCESSO