Qual a sua senha?
A senha da vida ninguém sabe, só Deus.
Acordamos na terça-feira surpreendidos pela notícia da tragédia com o avião que levava o time de futebol Chapecoense, de Santa Catarina, para a Colômbia, onde disputaria o primeiro jogo pela final da copa Sul-Américana.
Ninguém sabe ainda, ao certo, o que provocou a queda do avião, o que se sabe é que 71 pessoas morreram, seis sobreviveram e quatro pessoas que deveriam estar no voo simplesmente não embarcaram.
Claro que todos querem saber se faltou combustível ou se o avião teve uma pane elétrica e o piloto teve que jogar combustível fora, porém isso só é importante para responder perguntas, para matar curiosidade, para saber causas. Ou seja, para tirar uma interrogação enorme e, provavelmente impedir outro acidente do mesmo tipo, porque não trará ninguém de volta.
O que importa é que esse dia era o dia da chamada da senha dessas 71 pessoas que morreram. Não era o dia da senha dos seis sobreviventes. Rafael Henzel, jornalista que está sedado na UTI em condições estáveis; o zagueiro Neto também está estável e sedado na UTI; o estado do goleiro Jackson Follmann é crítico, está em observação e já teve uma pequena evolução. O lateral Alan Ruschel teve fratura na coluna, passou por cirurgia, e graças a Deus não terá danos neurológicos e nem motor. Os outros dois sobreviventes são os tripulantes Xiemena Suárez e Erwin Tumiri, ambos estão estáveis e em recuperação.
Provavelmente, tinham que passar por isso, mas não era a hora da senha de nenhum deles. Os quatro que não embarcaram por motivos diversos foram Luciano Buligon, prefeito de Chapecó (SC), Plínio David de Nes Filho, presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense, Gelson Merisio (PSD), presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e Ivan Carlos Agnoletto, jornalista da rádio Super Condá, de Chapecó. O vice-presidente da Chapecoense, Ivan Tozzo, também iria, mas desistiu porque teve um mal pressentimento. Esses motivos diversos surgem simplesmente para impedir que eles passassem por algo que não deveriam passar. Não era a vez da senha deles.
Não acredito em coincidências. Se um teve mal pressentimento, não foi por acaso. Da mesma forma que a mensagem deixada no facebook horas antes da tragédia pelo piloto paraguaio Gustavo Encina – que pilotava o avião, e era evangélico –, não parece coincidência: “Bom dia! Como você olha para sua vida? Para frente ou para trás? Que o Senhor te dê graça para largar as coisas, até mesmo aquelas que consideras preciosas nesta vida, e te permita olhar mais para adiante, onde Cristo te espera para um encontro glorioso que te abrirá as portas da eternidade”.
É por isso que já escrevi aqui, várias vezes, que devemos viver a vida bem vivida, aproveitando cada minuto com quem amamos, com as pessoas que gostamos, com amigos queridos, sem deixar nada por dizer. Isso não significa ser irresponsável nem fazer doideira, mas não desperdiçar o tempo. O tempo não volta, e cabe a nós preenche-lo da melhor maneira possível.
Ontem, os colombianos fizeram uma homenagem emocionante ao Chapecoense e a todos os brasileiros. Lotaram o estádio onde seria o jogo, vestidos de branco, com flores e velas nas mãos. Eram tantas pessoas que não coube no estádio, então, circundaram o local, coloccando flores e velas em todo o redor. A ceromônia foi linda, com discursos e a leitura do nome de todas as vítimas. Realmente o ser humano se une na solidariedade.
Em Chapecó, os torcedores do time também lotaram o estádio, vestidos de verde e prestaram homenagem ao clube, às vítimas e seus familiares. Foi feita uma cerimônia religiosa e puderam dividir a sua dor, enquanto aguardam a chegada dos corpos para poderem velar seus parentes e seus ídolos.
Torço para que cada um dos 71, tenha tido a oportunidade de dizer que amava seus queridos, que tenha feito tudo o que queria. Uma coisa é certa, os jogadores estavam em um momento de muita alegria, pois estavam indo participar de uma ocasião inédita em suas carreiras. Que Deus console as famílias.
Isabela Teixeira da Costa