Triste Dia das Crianças

Quem trabalha com crianças não consegue comemorar, hoje, o Dia das Crianças sem lembrar da terrível catástrofe na creche de Janaúba.

Acidente de Janaúba Foto EM/D.A Press

Todos que me acompanham sabem que coordeno, desde 1996, a Jornada Solidária Estado de Minas, programa de responsabilidade social dos Diários Associados em Minas, que beneficia creches comunitárias em Belo Horizonte.

Apesar de estar à frente do programa há 21 anos, já colaborava com ele participando das ações que o saudoso colunista social da casa, Eduardo Couri, promovia para arrecadação de recursos. Para quem não sabe, a Jornada começou em 1964 com o nome de Jornada pelo Natal do Menor, para dar um Natal para crianças de rua, orfanatos e instituições de forma geral eu trabalhavam com os pequenos.

A primeira ação para arrecadar dinheiro foi em 64, quando fecharam a Avenida Afonso Pena, entre a Igreja São José e o Edifício Acaiaca. Foi montado um palanque com banda de música, balisa e muita festa, e cobraram pedágio de carros e pedestres. Assim tudo começou.

Inauguração de brinquedoteca feita pela Jornada Solidária Estado de Minas

A Jornada atendia 300 instituições, num total de 65 mil crianças por ano, na região da grande Belo Horizonte. Com o passar dos anos, passamos a ajudar de maneira mais efetiva, fazendo reforma patrimonial nas creches que estavam caindo aos pedaços. Isso mesmo, com infiltrações, pisos esburacados, banheiros com vasos sanitários de adultos, sem descargas, carteiras quebradas, colchonetes velhos, faixas de propaganda de rua servindo de lençol para as crianças. Fogões, geladeiras e freezers e péssimo estado. Salas escuras, quentes, janelas pequenas.

Tudo isso, Nazareth Teixeira da Costa – presidente da Jornada – e eu observamos quando passamos a visitar todas as creches. Mas a coisa que mais chamou nossa atenção foi ver que nenhuma das creches visitadas tinha extintor de incêndio. Nos desesperamos. Todas elas, sem exceção, eram “forninhos de assar crianças”. A expressão pode parecer cruel e fria, mas eram isso mesmo. Se ocorresse algum incêndio acidental as crianças morreriam porque em nenhuma deles teria como retirar as crianças e nem como conter ou apagar as chamas.

Festa de Natal para as crianças da Jornada Solidária Estado de Minas

Quando mudamos o formato de atendimento, o primeiro dinheiro destinado às instituições foi para colocação de extintores em todos os espaços das creches. E ficamos que nem sarna, na cola dos diretores, para que a colocação fosse feita rapidamente. Algumas creches fizeram até projeto de incêndio, outras só colocaram os extintores. Tudo bem, o importante era estar resguardados. E sempre conferimos se estão recarregados.

Quando fiquei sabendo do que tinha ocorrido em Janaúba lembrei, no mesmo instante, desse fato, e respirei aliviada de nunca termos passado por algo tão trágico assim, por aqui, nem por acidente e muito menos por ação de uma pessoa doente. Porque ninguém normal faria tal atrocidade.

Hoje, acordei me lembrando de cada uma das nove crianças que foram vítimas fatais do incêndio de Janaúba e das outras 13 que ainda estão internadas em hospitais de Belo Horizonte. Não consigo deixar de pensar que todas elas poderiam estar hoje, alegres brincando no seu feriado. Tenho certeza que estão celebrando a vida, diferentemente das famílias que perderam seus filhos.

Peço a Deus conforto e consolo para as famílias. Agradeço a Deus pelo vida daquela professora, heroína que deu sua vida para salvar seus alunos – que exemplo maravilhoso –, e peço que isso tudo sirva de lição para outras instituições ficarem alertas com relação a extintores e a seleção da equipe contratada.

Isabela Teixeira da Costa

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