TOC é mais comum do que se imagina

Transtorno obsessivo compulsivo desafia a medicina

Conhece alguém que faz algo repetidamente? Uma pessoa normal, seu amigo, que sempre que sai do carro tem que voltar para verificar se realmente trancou o veículo, mesmo se você disser que a viu acionar o alarme? Ou aquela pessoa que fala a mesma coisa duas vezes?

Elas podem sofrer de transtorno obsessivo compulsivo, mais conhecido como TOC, que atinge cerca de 300 milhões de cidadãos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Como as pessoas podem se livrar dele?

O doutor Jeffrey M. Schwartz, um dos maiores especialistas mundiais em neuroplasticidade, escreveu um livro ensinando isso. TOC: Livre-se do transtorno obsessivo compulsivo relata vários casos de pessoas que chegam a extremos devido à doença. O especialista ajuda, de forma clara, a entendê-la.

Trata-se de um distúrbio psiquiátrico de ansiedade que tem como principal característica crises recorrentes de pensamentos obsessivos, intrusivos e, em alguns casos, comportamentos compulsivos e repetitivos. Uma pessoa com TOC é como o disco arranhado que repete sempre o mesmo ponto do que está gravado.

Alguns filmes – entre eles, Melhor é impossível, com a dupla Jack Nicholson e Helen Hunt – mostram cenas de repetição, como lavar as mãos constantemente, nunca usar o sabonete mais de uma vez, virar a tranca da porta diversas vezes antes de abri-la ou trancá-la definitivamente. Pacientes sofrem com imagens e pensamentos que os invadem insistentemente e, muitas vezes, não conseguem controlá-los ou bloqueá-los. A única forma de controlar tais pensamentos e aliviar a ansiedade que eles provocam é por meio de rituais repetitivos, que, muitas vezes, podem ocupar o dia inteiro e trazer consequências negativas na vida social, profissional e pessoal. Portadores de TOC acreditam que se deixar de cumprir o ritual, algo terrível vai ocorrer.

O TOC atinge mulheres e homens na mesma proporção. Na maioria dos casos, a doença surge durante a infância ou nos primeiros anos da adolescência, mas pode começar na vida adulta. Em seu livro, o doutor Schwartz relata casos surpreendentes, como o de um homem de 43 anos, perito de seguros, que lavava as mãos pelo menos 50 vezes por dia. Cita uma mulher de 33 anos, formada com honra na Ivy League, que chegou a levar o ferro de passar e a cafeteira para o trabalho para ter a certeza de que estavam desligados.

Parece loucura, até atitude de quem quer chamar a atenção. Porém, o doutor Jeffrey diz que o TOC é condição médica relacionada a um desequilíbrio bioquímico no cérebro. Segundo ele, as obsessões e compulsões são fortes o suficiente para causar incapacidade funcional.

O transtorno provoca obsessões peculiares. Uma pessoa se apega a um objeto e nunca se desfaz dele, por exemplo. De acordo com o médico, quem tem TOC deve entender que as mensagens compulsivas são falsas, reordenar o cérebro e corrigi-lo.

Não se pode pressionar o paciente. As mudanças podem ser traumáticas e, para que eles se controlem, devem assimilar o que está acontecendo e afastar o pensamento obsessivo. Para isso precisam de tempo. O livro traz os principais passos e dicas para acabar com esse mal que assola tantas pessoas no mundo.

Infelizmente, os médicos ainda não são capazes de entender completamente o que está por trás do transtorno obsessivo compulsivo. As principais teorias remetem a três fatores, ligados à biologia, à genética e ao meio ambiente. Alguns pesquisadores acreditam que o TOC pode ser resultado de alterações ocorridas no corpo ou no cérebro. Outros apontam a pré-disposição genética, muito embora os genes que estariam eventualmente envolvidos não tenham sido identificados até agora.

 

Isabela Teixeira da Costa

Comentários