Terça-feira gorda

Hoje é terça-feira gorda de carnaval, mas o que quer dizer essa antiga e comum expressão?

Sempre achei engraçado a expressão “terça-feira gorda de carnaval” que minha mãe sempre dizia quando se referia ao dia de hoje. Nunca perguntei a ela o por quê de ser chamada assim, e sempre era falada ao se referir ao nascimento da minha irmã: “Ela nasceu na terça gorda de carnaval”. Estava pensando nisso e me bateu uma curiosidade de saber a origem da expressão.
Hoje, temos a facilidade do “São Google” e foi a ele que recorri. Segundo o Wikipidia, “a terça-feira gorda (em francês: Mardi Gras), ou terça-feira de carnaval, é o dia de fevereiro ou março que precede a quarta-feira de cinzas. Portanto, é o último dia que antecede a Quaresma, e é comemorado em alguns países com o consumo de panquecas. Este banquete móvel é determinado pela Páscoa. Em outros países, especialmente aqueles em que é chamado de Mardi Gras ou alguma tradução, este é o último dia de carnaval, sendo, para os católicos, também o último dia de ‘comer gordura’ antes do período de jejum da Quaresma.
“Historicamente, é o dia em que os católicos se despedem da carne, pois, nos quarenta dias seguintes, devem jejuar, orar e fazer penitência e se abster de comer carne. Tudo isso em preparação à Páscoa. É observada pelos católicos e anglicanos, que fazem um momento especial de autoexame, para analisar quais erros eles precisam se arrepender e em quais áreas da vida ou da espiritualidade precisam pedir, especialmente, a ajuda de Deus”.
Realmente os tempos mudaram, era chamada de terça gorda porque as pessoas tiravam a barriga da miséria comendo muito, para enfrentar a quaresma. Naquela época os jejuns e as privações eram quase diárias, pois assim os fieis lembravam os sacrifícios feitos por Jesus Cristo. Hoje, ninguém faz penitência, e nem pensam no que fizeram de errado. Pura utopia. A quaresma hoje – pelo menos aqui no Brasil, para a grande maioria das pessoas –, se resume a não comer carne vermelha nas sextas-feiras, entre o carnaval e a páscoa, portanto esta expressão perdeu o sentido. Mas que era engraçado, isso era.
Vale ressaltar que não sou e nunca fui católica, sou evangélica e por essa razão não sou muito conhecedora das tradições e ritos da religião romana, por isso a necessidade de fazer uma pesquisa. Conheço alguma coisa, porque a família do meu pai é muito católica. São de Santa Luzia e até hoje ajudam nas igrejas de lá, inclusive fazendo campanhas de arrecadação de recursos para restauração das mesmas.
Tinha uma prima – a Naná, que infelizmente já nos deixou – que plantava alfazema na fazenda para decorar e perfumar a igreja na Semana Santa. Suas filhas deram continuidade a essa função. A família toda ajuda. A Anna Marina vai para lá na sexta-feira da paixão para arrumar a cama de Jesus Cristo morto. Por sinal ela restaurou com perfeição o lençol todo feito com fio de prata. Branca Diniz faz a roupa para vestir a imagem de Maria e todas as primas, juntas, passam o dia decorando e arrumando para a procissão da noite.
Bem, nesta minha pesquisa descobri uma coisa interessante, que ainda não sabia: os seis domingos entre o carnaval e a páscoa têm nome, dados pelo povo. São nomes simbólicos, relativos a epístolas ou acontecimentos relevantes do cristianismo. Existe um ditado que cita todos eles, é um versinho: “Ana, Magana, Rebeca, Susana, Lázaro, Ramos e na Páscoa estamos.” Imagino que minhas primas, principalmente a Beth que é historiadora, devam conhecer, talvez minha avó tenha recitado muito para elas, contando os domingos da quaresma, mas para mim é novidade.
Voltando à terça-feira de carnaval, hoje, teoricamente, é o último dia da folia de Momo. Digo teoricamente, ou oficialmente, porque nas últimas décadas ninguém mais respeita a data desta festa popular. Era para começar na última sexta-feira, mas na verdade começou 15 dias antes e vai continuar no próximo final de semana. Porque aqui em Belo Horizonte o povo trabalha quinta e sexta, mas retoma a farra no final de semana. Mas lá na Bahia eles nem param, continuam como se não houvesse amanhã. Para os baianos quarta, quinta e sexta continua a farra.
Durante anos no jornal todo mundo trabalhava na quarta-feira depois do meio dia. Hoje, o pessoal da administração costuma compensar o dia no banco de horas e não aparecem por aqui. Mas, quando vinha todo mundo era muito divertido, porque trabalhar mesmo, quase nada. O que ocorria era uma contação de caso de como tinha sido o carnaval de cada um. E muita gente ia para a redação para acompanhar a apuração das escolas de samba do Rio de Janeiro, que sempre é feita na quarta-feira de tarde. Era muito legal, uma total interação entre os colegas, a tarde era um misto de caras amassadas e a alegria e risadas dos casos inusitados do carnaval.
É interessante ver como os costumes vão mudando com o passar dos anos. Dá saudade.

Isabela Teixeira da Costa

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