Psoríase: uma doença que sofre preconceito

Credito: Beto Novaes/EM/D.A Press
Credito: Beto Novaes/EM/D.A Press

O paciente tem que suportar os olhares fixos com ar de desprezo e até de repulsa.

Existem algumas doenças consideradas “leves”. Não são graves, pois não provocam nos pacientes o risco de perder a vida, não são contagiosas, mas também não têm cura e, infelizmente, são visíveis, pois a maioria delas são na pele – o órgão mais exposto do corpo humano –, como é o caso do vitiligo, da psoríase ou mesmo de grandes manchas. Elas provocam nas pessoas um certo estranhamento, que gera um preconceito. E quem sofre com isso, mais uma vez, é o paciente, que, além de ter que lidar com a doença, tem que suportar os olhares fixos com ar de desprezo e, às vezes, até de repulsa.
Tenho uma amiga linda, animada e extrovertida. Quando a conheci, vi no couro cabeludo, avançando pela testa e também no cotovelo, uma série de manchas vermelhas escamando de branco. Nunca tinha visto aquilo, pensei que fosse alergia a algum produto ou shampoo. Isso foi há muitos anos, ela ainda não pintava cabelo, portanto não poderia ser alergia à química da tintura. Perguntei na lata o que era, na maior inocência. Ela também respondeu com total naturalidade que era psoríase. Intrometida e curiosa como sou, continuei minha arguição jornalística, e ela foi respondendo e me explicando direitinho o que era, como era. Somos amigas até hoje. Praticamente os sintomas não aparecem mais. Ela nunca se deixou abalar por isso. Se deixou, nunca transpareceu. Achei muito legal da parte dela a naturalidade que abordou o problema.
Estudo recente feito pelo Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto apontou que a psoríase pode levar o paciente a manifestar sintomas de depressão e fobia social em função deste preconceito. No levantamento, 63,7% dos participantes tiveram a qualidade de vida impactada negativamente pela doença; sendo que 54,1% apresentaram sinais de ansiedade e depressão. A amostra, segundo a pesquisa, foi com pacientes das regiões Norte, Sudeste e Sul do Brasil. Vinte e nove de outubro é o Dia Nacional da Psoríase, que afeta 125 milhões de pessoas no mundo.
“A psoríase é uma doença mais comum do que se pensa, pois atinge 3% da população mundial. É fundamental que todos saibam que ela não é contagiosa. Até hoje não se sabe a real causa, mas há estudos que apontam que cerca de 30% dos casos têm fatores genéticos envolvidos, além do estresse emocional, com algumas infecções e traumas. A forma mais comum da doença se manifesta pelo aparecimento de lesões avermelhadas cobertas por escamas esbranquiçadas e prateadas. Embora persistente e crônica, ela tem tratamento”, destaca a dermatologista Lívia Pino.
A psoríase é cíclica, ou seja, aparece e desaparece de tempos em tempos. Sabe-se que está ligada ao sistema imunológico. Entre as prováveis causas do surgimento da doença estão o histórico familiar – entre 30 e 40% dos pacientes –; estresse; obesidade; tempo frio; consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, que não só aumenta as chances de desenvolver a doença como também a gravidade dela. O tratamento é fundamental para uma boa qualidade de vida do paciente, já que a psoríase não tem cura, porém, com o tratamento correto, fica quase imperceptível. Nos casos mais brandos, a hidratação da pele e aplicação de medicamentos tópicos na região das lesões e exposição diária ao sol são suficientes para melhorar o quadro e desaparecer os sintomas. Nos moderados, o tratamento com exposição à luz ultravioleta A é necessário, e uma alimentação balanceada aliada à atividade física. Para alguns pacientes é importante um acompanhamento psicológico.
Na alimentação, segue a dica: procurar alimentos ricos em ômega 3, como os peixes de água fria (atum, salmão, sardinha, bacalhau), azeite, sementes e nozes. Frutas de cores diferentes, verduras e legumes. Quanto mais colorido de vegetais for o prato, melhor. Cenouras, couve, batata-doce, abóbora, brócolis, mangas, figos e morango são alguns exemplos. O morango é rico em ácido fólico, outra substância que ajuda a controlar a inflamação.

Isabela Teixeira da Costa/Interina