Papai, você pode me vender uma hora do seu tempo?

Um belo texto sobre o papel de pai, a necessidade de dividir seu tempo e se dedicar com qualidade aos filhos, escrito pelo professor da UFPR e pai de três filhos, Jacir J. Venturi.

 

Jacir J. Venturi

 

Todo dia o mesmo ritual: o pai extenuado chega à noite em casa após mais um duro dia de trabalho. Seu filho, com os olhos cheios de admiração, abraça-o. Eles trocam algumas palavras sobre a escola e se despedem com beijos na face, o boa-noite e o “durma com os anjos”. Certo dia, com a voz tímida, o garoto pergunta ao pai, que acaba de chegar: “Papai, quanto você ganha por hora?”. O pai surpreso, desconversa. O filho insiste: “Papai, quanto você ganha por hora?”.

O sempre ocupado pai promete uma resposta para o dia seguinte, mas se aflige com a pergunta. Passado algum tempo, dirige-se ao quarto do filho e o encontra deitado. “Filho, você está dormindo?”, pergunta. “Não, papai!”, responde o garoto. “Querido, eu ganho 28 reais por hora.” O filho levanta-se da cama, abre a gaveta e, entre notas e moedas, conta 28 reais. Abraça o pai com ternura e, com os olhos cheio de lágrimas, pergunta: “Você pode me vender uma hora do seu tempo?”.

Esta singela história é conhecida; o leitor certamente já a recebeu por e-mail ou a leu nas mídias sociais. Ela enseja a meditação sobre a disponibilidade de tempo para os filhos, os quais, mais cedo do que se pensa, compreenderão a árdua luta dos pais pela sua sobrevivência profissional, o necessário cumprimento dos deveres no importante papel de provedores e que a dedicação ao trabalho é fator de realização pessoal e é modelo de responsabilidade.

Busca-se, evidentemente, a prevalência do bom senso, da medida, do equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar. Nesse contexto, importa mais a qualidade do afeto que a quantidade de tempo disponível aos filhos. O abraço afetuoso, o beijo estalado, a imposição de limites, o diálogo objetivo e adequado à idade, o acompanhamento do rendimento escolar, a presença nos momentos de lazer ou doença e a transmissão (pela palavra e pelo exemplo) de valores éticos e de cidadania que podem ser praticados diariamente – com ênfase nos finais de semana – por pais que trabalham cerca de oito, nove ou dez horas por dia.

O consultor Gutemberg de Macedo dá seu depoimento em um de seus livros: “Conheço executivos bem-sucedidos que mantêm uma vida balanceada. São bons profissionalmente e, até prova em contrário, bons maridos, bons pais, bons líderes e bons cidadãos. O segredo? Saber dividir, compartimentar esses diferentes papéis. É preciso parar para refletir com profundidade. A vida é uma bênção de Deus. Desequilibrá-la é destruí-la. E destruí-la é uma espécie de estupro da própria divindade. Se Ele descansou, quem afinal você pensa que é para querer ir além?”

“Devo dar segurança do meu amor” deve ser um mantra diário de todo pai. Significa, sim, menos lazer, menos convivência com os amigos, menos academia. Mesmo cansados, podemos ir além para cumprir o papel de pai (ou mãe). A paternidade responsável é uma missão e um dever a que não se pode furtar. No entanto, veem-se nas escolas filhos órfãos de pais vivos. E, na maioria das vezes, falta de tempo é apenas uma desculpa para a sua omissão. A vida profissional, apesar de suas elevadas exigências, pode muito bem ser ajustada a uma vida particular equilibrada. É uma questão de ênfase e dosagem de tempo.

 

Pai

Pai1É impressionante ver como mudou o papel do pai na família.

Hoje, é o Dia dos Pais.

Há seis anos perdi meu pai. Porém, ele já estava doente há anos, e quando íamos vê-lo já não era o meu pai que estava ali. Era a imagem dele, pois havia uma ausência. Ele não nos conhecia, não conversava, apenas superficialidades, palavras soltas. Desde esse momento, comecei a viver o luto por sua perda, mas não tive como não sofrer quando de fato ele partiu.

Impressionante essa história de morte. Sabemos que todos nós vamos morrer um dia, ninguém vai ficar para a semente. Todos recebemos uma senha quando nascemos, só não sabemos que dia a nossa senha será chamada. Mesmo assim, não conseguimos nos preparar para este momento de despedida. Somos egoístas, queremos quem amamos o maior tempo possível conosco. Porém, isso é impossível, então deveríamos aceitar melhor.

Porém, os bons momentos, as lembranças estão guardas na memória e no coração e isso ninguém tira. Por cinco anos trabalhei ao seu lado como sua secretária. Por alguns anos, meu pai trabalhou em São Paulo, por isso trabalhávamos muito aos sábados e domingos, o que nos aproximou mais. Mesmo depois que fui para a redação, costumávamos almoçar juntos para colocar o papo em dia.

Claro que tínhamos nossas diferenças, que puderam ser esclarecidas quando ainda estava lúcido. Porém, era um pai “a la” década de 60, 70. O foco principal era no trabalho, o pai provedor, o que tornava sua presença em casa coisa rara. Sentíamos sua ausência. Trabalhava muito e saía demais com os amigos à noite. Quem conheceu meu pai sabe como ele era sociável. Amava uma seresta, tanto que sempre tinha ao seu lado um bom violonista. Sua grande alegria foi no dia que entreguei um caderninho improvisado com a letra das principais serestas que ele cantava. Carregava para todo lado.

PrimusMas tínhamos nossos momentos em família. Os almoços de domingo eram sagrados. Ele gostava muito do restaurante do Minas I, do Monjolo, Farroupilha, Automóvel Clube. Eu, menina, sempre pedia bife com batata frita, até que um dia ele me proibiu e exigiu que mudasse o cardápio. “Chega minha filha, você tem que aprender a comer outras coisas. Escolhe outro prato”. Ordem dada, ordem obedecida. Pedi camarão à grega, e desde então passei a provar todos os tipos de camarão que existiam em todos os restaurantes. Nunca mais ele reclamou.

Aos sábados nos levava ao Minas, por sinal, aprendi a nadar com ele na piscina do Minas. Íamos ao Pic, no Parque Municipal para andar de burrinho. Foi lá uma vez que na correria para pegar um burrinho tropecei em uma raiz de uma árvore e quebrei o dedo da mão. Acabei com o passeio da família. Íamos muito no Mangueiras, hoje, Parque Guanabara, onde tinha restaurante e até boliche. Passávamos férias em São Lourenço, Araxá, íamos para Setiba, Praia da Costa, Rio de Janeiro. Era divertido.

Hoje, quando vejo os pais, fico impressionada. São exemplares. Eles participam. Brincam, trocam fraldas, fazem o bebê dormir. Alguns têm mais paciência do que as mães, que hoje colocam uma babá para cada filho. Fico encantada. É como diz a propaganda, “não basta ser pai, tem que participar”. Meus sobrinhos são exemplares. Um deles está trabalhando em São Paulo. Quando chega sexta-feira em BH, passa o fim de semana inteiro grudado na sua filha. É lindo.

Que bom que os valores estão mudando e que os pais percebem que a dedicação aos filhos faze toda a diferença na formação desses, que serão o futuro. Parabéns aos pais, continuem se dando aos seus filhos cada vez mais, isso sempre fará muito bem a eles e vocês!

Isabela Teixeira da Costa