Julgamento de vinho que abalou o mundo

O vinho branco vencedor
O vinho branco vencedor

Degustação de vinhos às cegas sempre surpreende

Recebi este material do meu amigo Lúcio Costa. Li e achei muito interessante, porque coisa muito parecida – salvo as devidas proporções – ocorreu aqui em Belo Horizonte há cerca de três anos. Um grupo de empresários, parceiros da Jornada Solidária Estado de Minas, decidiram fazer um jantar com degustação e leilão de vinhos. O comerciante, professor e sommelier de vinhos, Rodrigo Fonseca, do Taste Vin, fez uma palestra e na sequencia a degustação às cegas, e por várias vezes, os vinhos mais em conta, menos tradicionais podemos dizer, foram escolhidos como os melhores.

Tenho que confessar não entender muito , ou melhor quase nada de vinhos, uma vez que não bebo bebida alcoolica, mas me diverti vendo a reação dos meus amigos quando Rodrigo revelava suas escolhas. Tudo em clima de muita descontração já que ali só estavam amigos e bons apreciadores da bebida. Vejam como foi na França:

“Em 24 de Maio de 1976, uma degustação de vinhos em Paris mudou para sempre a visão do mundo sobre os vinhos da Califórnia. A degustação foi organizada por Steven Spurrier, um inglês comerciante de vinho que era dono de uma loja e de uma escola de vinhos no centro de Paris. Localizada perto dos escritórios da IBM, muitos dos estudantes da L’Academie du Vin eram norte-americanos que trabalhavam na França.

Spurrier ficou intrigado com alguns dos Cabernets e Chardonnays da Califórnia que seus alunos traziam à loja. Curioso para ver como esses recém-chegados se sairiam contra os vinhos franceses feitos a partir do mesmo tipo de uva, ele organizou uma degustação às cegas em comemoração as atividades do Bicentenário Americano em Paris.

Spurrier escolheu os melhores, incluindo o co-proprietário do Domaine de la Romanée-Conti, Aubert de Villaine, e sommeliers de restaurantes três estrelas como Tour d’Argent e Taillevent. Havia apenas uma mulher no júri: Odette Kahn, editora da revista La Revue du Vin de France, a mais famosa publicação francesa do assunto
Spurrier escolheu os melhores, incluindo o co-proprietário do Domaine de la Romanée-Conti, Aubert de Villaine, e sommeliers de restaurantes três estrelas como Tour d’Argent e Taillevent. Havia apenas uma mulher no júri: Odette Kahn, editora da revista La Revue du Vin de France, a mais famosa publicação francesa do assunto

Os jurados franceses escolhidos para o evento tinham credenciais profissionais impecáveis. Foram feitas duas degustações às cegas: a primeira com Chardonnays da mais alta categoria e a segunda com vinhos tintos de Cabernet Sauvignon.

Ele escolheu o melhor da França: Château Mouton-Rothschild como um dos Cabernets, e o Puligny-Montrachet Les Pucelles da Domaine Leflaive’s nos Chardonnays. Ninguém jamais acusou Spurrier de ter sido tendencioso na escolha dos franceses.

A degustação

A degustação aconteceu em um hotel no centro de Paris, foram reunidos 6 dos melhores rótulos de Napa Valley para cada tipologia (branco Chardonnay e tinto Cabernet Sauvignon) e para os Franceses eles escolheu quatro vinhos tintos de Bordeaux e quatro vinhos brancos da Borgonha. Os jurados estavam entre os melhores degustadores da França.

Lacrados e demarcados para a escolha do melhor vinho, a ordem dos vinhos foi entregue ao correspondente da revista TIME em Paris, Sr. George M. Taber. Ele foi o único jornalista que aceitou cobrir o evento (na época Steven, convidou vários jornalistas para o evento, mas todos recusaram).

A surpresa

Os vinhos brancos foram degustados primeiro, o que é uma espécie de regra nas competições de vinho. E o impensável aconteceu. Na categoria de vinhos brancos o Chateau Montelena Chardonnay 1973 da Califórnia havia superado seus homólogos franceses.

Os jurados franceses ficaram muito surpresos. Como poderiam vinhos excepcionais virem de outro lugar que não do legítimo terroir francês?

Segundo relato do jornalista presente, a segunda parte da degustação, com os vinhos tintos foi bem diferente. Os jurados não estavam mais quietos, estavam falantes e pareciam confusos. Os juízes de um lado da mesa diziam ter certeza que tinham provado um vinho francês, enquanto o outro lado jurava que o vinho em questão vinha da Califórnia. Aqueles grandes jurados franceses não conseguiam diferenciar um vinho francês de um norte-americano.

Chegou um ponto em que Christian Vannequé, sommelier do Tour d’Argent, degustou um vinho tinto e disse em seguida: ‘Este é um Mouton ou eu não sei o que estou fazendo aqui’. E de fato ele havia acertado. Acabara de degustar um Mouton Rothschild 1970.

vinho tinto
Garrafas do Stag’s Leap Cabernet Sauvignon em 1973 e atualmente.

As notas da degustação de vinhos tintos foram um pouco estranhas. O júri estava dando notas ou muito altas ou muito baixas dependendo da certeza que tinham sobre a origem do vinho.

Quando Spurrier anunciou os resultados da degustação dos tintos, a Califórnia mais uma vez saiu vencedora, o Stag’s Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon 1973 – a primeira safra produzida com uvas provenientes de vinhas com apenas três anos de idade – foi julgado o melhor. O Cabernet havia superado quatro Bordeaux topo de ranking, incluindo Premier Crus como Château Mouton-Rothschild e Château Haut-Brion.

Tanto na competição de brancos como na de tintos, o Napa Valley ficou com o primeiro lugar. E este foi o Julgamento de Paris.

A degustação de Paris de 1976, ou Julgamento de Paris, como ficou conhecido, teve um efeito revolucionário, ‘como um tiro vínico ouvido em todo o mundo’.

– Barbara Ensrud, Wall Street Journal

No dia 24 de maio de 2006, jurados europeus e americanos, simultaneamente em Napa e em Londres, degustaram exatamente os mesmos vinhos de 30 anos antes. O resultado foi a vitória ainda maior da Califórnia: os cinco vinhos mais bem pontuados eram de Napa. Os vinhos californianos conseguiram passar pelo teste do tempo. Mais uma vez, foi o Julgamento de Paris”.

Os vinhos degustados em 1976 e suas respectivas pontuações:

Vinhos Brancos:

  • Chateau Montelena 1973, Napa Valley/Calistoga (132)
  • Meursault-Charmes 1973, Roulot (126.5)
  • Chalone Vineyards 1974, Monterey County/Soledad (121)
  • Spring Mountain 1973, Napa Valley/Spring Mountain (104)
  • Beaune Clos des Mouches 1973, Joseph Drouhin (101)
  • Freemark Abbey 1972, Napa Valley/Rutherford (100)
  • Batard-Montrachet 1973, Ramonet-Prudhon (94)
  • Puligny-Montrachet 1972, Les Pucelles, Domaine Leflaive (89)
  • Veedercrest 1972, Napa Valley/Mt. Veeder (88)
  • David Bruce 1973, Santa Cruz Mts. (42)

Vinhos Tintos:

  • Stag’s Leap Wine Cellars 1973, Napa Valley (127.5)
  • Château Mouton-Rothschild 1970 (126)
  • Château Haut-Brion 1970 (125.5)
  • Château Montrose 1970 (122)
  • Ridge Cabernet Sauvignon ’Mountain Range’ (Montebello) 1971, Santa Cruz Mts. (105.5)
  • Château Leoville-Las-Cases 1971 (97)
  • Mayacamas 1971, Napa Valley/Mayacamas Mts. (89.5)
  • Clos Du Val 1972, Napa Valley (87.5)
  • Heitz Cellars ’Martha’s Vineyard’ 1970, Napa Valley/St. Helena (84.5)
  • Freemark Abbey 1969, Napa Valley/Rutherford (78)

Isabela Teixeira da Costa