Semana Santa no interior

É lindo ver como as pessoas se envolvem com os preparativos da Semana Santa nas cidades do interior.

Nasci em Belo Horizonte e sempre orei aqui. Meus pais são do interior. Minha mãe nasceu em Manhumirim, se mudou com a família para Manhuaçu, onde cresceu e depois que terminou o segundo grau, veio para Belo Horizonte. Como ela acabou trazendo a família toda para cá e depois meu tio mais velho foi com meus avós para Teófilo Otoni e mais trade para Brasília, perdemos todas as referências com suas raízes no interior.

Já a família do meu pai é de Santa Luzia, uma cidade do interior pertinho daqui de Belo Horizonte, exatamente 26 quilômetros da porta da minha casa à porta do sítio. Isso mesmo. Quando eu ainda era criança meus pais compraram um sitio por lá, que hoje fica a meio quarteirão da rua principal do centro histórico.

Sempre íamos ao sítio e aproveitávamos para visitar meus tios. Todos, eu só conhecia pelos apelidos – por sinal, êta família para gostar de apelidos –, Tio Ninico e Tio Sinhô e meus primos que eram muitos. E minha mãe não abria mão de visitar a Juli, uma parente nossa (não sei explicar direito esse parentesco, até hoje), que era uma peça rara. Baixinha, ótima de papo e muito engraçada. Morava no Solar Teixeira da Costa, em frente da Igreja Matriz.

Ficamos muitos anos distantes, aquela fase de mocidade, quando ocupamos nossos finais de semana com os amigos e não retornava por lá. Mas tenho uma prima, Beatriz, mas é claro que só a chamamos de Beata – por sinal só neste final de semana que fiquei sabendo que o nome dela era Betriz –, que sempre que a gente precisa de alguma coisa ela está la´, pronta para ajudar. É 1000000%.

Lembro que quando eu tinha uns 18 anos, resolvi ir com a mocidade da minha igreja – Igreja Batista Central de Belo Horizonte – fazer um acampamento lá no sitio. A água acabou. Tinha anos que via Beata, mas corri na casa dela e recebi o socorro necessário, com o maior amor. Essa é a Beata. Salvou nosso feriado.

Voltando à Semana Santa, meu assunto inicial – me empolguei com a família que eu amo –, toda sexta-feira da paixão elas enfeitam a igreja toda, função que era feita por minha prima Naná, que faleceu há muitos anos e foi assumida por suas filhas Tininha e Lili. Mas não fica só nisso, vestem a imagem de Nossa Senhora, com roupas que minha prima, Branca Diniz, costurei de alta costura, faz todo ano. E ainda decoram o Nosso Senhor morto (desculpem os católicos se escrevi algum ermo errado, porque sou Batista, e não sou muito familiarizada com estes ritos).

No domingo de Páscoa, a missa é as 8h30 da manhã e a procissão da ressurreição sai às 9h30 e todos os morados (ou quase todos), fazem os tapetes na rua, para a passagem da procissão. Para dar tempo os preparativos começam uma semana antes, com a tintura da serragem. E no dia mesmo, a feitura dos tapetes começa às 6h30 da manhã. É claro que fui ajudar as primas a fazer. Elas enfeitam um quarteirão, porque tem a casa da Lili e Tininha, a casa da Beata, de Carminha, da Tia Ló e da Tia Tereza. Uma do lado da outra, e todas bem grandes. É chão que não acaba mais.

No quarteirão de cima, meu primo Aurélio com seus filhos fazem o chão na frente da casa que era de seu pai, Tio Sinhô. E por aí vai. É divertido. Todo mundo no maior bom humor, boa vontade. Muita gente subindo para a missa e a gente pedindo ajuda, porque a mão de obra é escassa. Alguns acabam aderindo ao chamado, principalmente jovens e crianças. É bonito ver essa amizade que só existe nas cidades do interior. Outros elogiam o trabalho e seguem seu caminho. As pessoas mais velhas, que não aguentam mais o senta levanta e agacha sob o sol forte, enfeitam as janelas com os panos brancos e os vasos de flores.

É lindo. De trade, depois do almoço de páscoa com a minha família, fui correndo para BH, para ir ao culto de páscoa e participar da Ceia do Senhor. Foi uma benção. Domingo perfeito, com muito amor envolvido. Só faltou minha filha ao meu lado. Hoje, acordei toda doída, minhas pernas estão com tanta dor muscular que denunciam minha idade e meu sedentarismo. Mas valeu a pena.

Isabela Teixeira da Costa

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